22 de setembro de 2011

7 - Ideologia ou ciência

(Ivan Siqueira)

Estudei economia em uma época muito fértil da vida nacional, mas de muita repressão, por um lado a repressão do poder, por outro lado a repressão intelectual, e eu, ali, no meio das duas, doido para ser livre!

As pessoas se dividiam ideologicamente entre posicionamentos de direita e de esquerda, e uns criticavam outros ferrenhamente. Eu desejava fazer ciência, e tinha que me livrar da saraivada de balas que voavam de um lado para o outro. Se algum estudioso usava o nome de Marx em seus estudos, era imediatamente carimbado: marxista. Se por outro lado, alguém propunha, avaliar os trabalhos de Walras, Jevons, Mashall, o patrulhamento ideológico de esquerda, carimbava: marginalista!

Esse termo “marginalista”, por acaso estava certo, aqueles pensadores formavam mesmo uma escola em economia denominada marginalista, porque utilizavam o princípio da utilidade marginal, mas o carimbo fazia qualquer um se sentir um verdadeiro marginal!(risos)

O que nenhum dos lados sabia, era que todo pensamento é enriquecedor, você encontra na teoria marxista e na marginalista elementos valiosos, que, sem eles, o mundo não seguiria adiante. Alguns economistas brasileiros foram importantíssimos para nos livrar dessa prisão intelectual, na medida em que destacavam em seus escritos a colaboração científica de um pensador, sem se preocupar com o viés político dele, sem uma barreira ideológica, eu destaco entre eles, os dois principais, Simonsen e Bresser-Pereira, eles estavam preocupados com o que há de científico na Economia.

Em 1958, Phillips sugeriu que a taxa de crescimento dos salários nominais fosse função decrescente da taxa de desemprego. Surgia aí, a curva de Phillips. A esquerda recusava essa proposição, como se Phillips tivesse dito, “vejam bem, para acabar com o desemprego será necessário gerar inflação na economia”. Phillips não disse isso, mas para a esquerda, Phillips parecia de direita!! Quanta confusão não faz uma ideologia! Mas Simonsen fazia ciência, e em seu livro “Macroeconomia” comenta sobre a curva de Phillips:

“A idéia de que as variações salariais são inversamente correlacionadas com a taxa de desemprego é bastante antiga, sendo difícil identificar sua paternidade. Marx a explicitou no Livro I de O Capital, e Irving Fisher a explorou com extraordinária habilidade num estudo publicado em 1926.”

Com esse meu post, caro internauta, desejo apenas destacar que para trilhar os caminhos da ciência econômica é preciso ter os olhos abertos, e a mente livre de grilhões ideológicos. A escola neo-clássica, e mesmo a marginalista, eram vistas como uma espécie de guardiães do capitalismo, sem que se reparasse nas mais significativas contribuições que essas correntes deram ao estudo mais eficiente da Economia, basta lembrar que os marginalistas foram os primeiros a usar o cálculo diferencial na economia. Você consegue trabalhar com economia hoje sem usar isto? Assim, ideologia é ideologia, ciência é ciência! Cada um tem o sagrado direito de abraçar a vida como deseja, direito que devemos defender acima de tudo.

Ivan Siqueira

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