24 de setembro de 2011

26 - O mercado de ações e o cosmos

(Ivan Siqueira)

Todo investidor que opera no mercado de renda variável vive um dilema interessante, tem que descobrir o que será o futuro, afinal, ele vive da diferença entre posições que tomou no presente e posições que tomará no futuro, mas para descobrir o futuro, só conta com o passado! É dilema, mas é, ao mesmo tempo, redenção!

Mas, aí é que pode estar o problema. Assim, é no passado que ele procura entender acontecimentos que mostrem a ele como esse passado vai exigir coisas no futuro. Exigir, como assim? Claro, toda operação no presente está a espera de sua recompensa no futuro, assim, no dia de hoje, o que acontece na Bolsa é o reflexo do que aconteceu ontem, a três dias atrás, a quinze dias atrás... Subiu? Claro, porque precisava subir! Caiu? Sim, precisava cair! Parece o óbvio, mas não é, é preciso entender esse “precisava”!

No fim de semana, você vai fazer compras em uma feira livre, comprar legumes ,verduras e frutas, e sempre na barraca do Clemir apesar dos preços estarem afixados nas tabuletas, ele sempre te dá um desconto, pronto, você já advinhou o que será o futuro, na semana que vem ele te dará o desconto também! Quando você descobre que não é apenas ele, naquele mercado, que dá descontos, mas também todos os feirantes, em todas as barracas, quando você vê que dar descontos é mecanismo de venda daquele mercado, você entrou no futuro de forma ainda mais firme, você está entendendo o mercado! O passado sempre revela o futuro! Mas, cuidado, o futuro também precisa revelar o passado e o presente! O que você vai fazer hoje na Bolsa? Depende. Depende de que? Do futuro. Mas o futuro não chegou ainda. Mas ele existe nas intenções de quem operou ontem, de quem opera hoje, e é ele que está moldando o presente!

As técnicas atuais de análise do mercado de ações, no fundo, procuram isso, o que ocorreu no passado que vai se projetar no futuro, seja em repetições exatas, seja em variantes, seja em inversões do passado. De modo geral todos os indicadores, osciladores, rastreadores de tendências, e até mesmo simples figuras que se formam nos gráficos, triângulos, retângulos, flâmulas, cabeça-e-ombro, estão contando a história do passado, e são usadas no que se espera seja o futuro. Até aí, tudo bem, é parecido, com o que eu espero do Clemir! A partir daí, é que começa o problema. Todos os métodos e técnicas de análise só utilizam o passado, mas talvez isso seja o problema, um método mais eficaz deveria fazer o contrário, usar o futuro como justificativa do que ocorreu no passado, melhor explicando, devemos olhar os preços hoje, como resultado do que eles serão no futuro, na lógica das análises atuais, faz-se o contrário, pensa-se assim, “como aconteceu isso no passado, vai acontecer aquilo no futuro!” . Eu estou propondo uma outra análise, que diz assim, “porque vai acontecer isso no futuro é que o presente é esse!”. O que estou dizendo, é simples, é que a análise técnica precisa explorar mais o futuro!

Nunca se vê alguém analisando ações com base no que ocorre com ela apenas hoje, tanto isso é um fato, que a análise técnica exige que se tenha um histórico do movimento dos preços, volume, etc, ocorridos no passado. Linhas de tendência, assim como suportes e resistências, só se formam com acontecimentos no tempo, senão fica impossível de traçarmos essas linhas, mas, estranhamente, não conheço nenhum método que trace um histórico do futuro, com exceção da simetria sanfonada que faz uma pequena parte disso. O estágio em que se encontra a análise técnica, mapeia o passado, mas não mapeia o futuro de forma expandida. Mas, pra que serveria isso? É que o preço de um papel que vigorou no mercado em fevereiro, está refletindo duas coisas, do que ocorreu com esse papel em novembro, dezembro, mas também do que vai acontecer com o papel, nas próximas semanas, nos próximos meses, etc. Esse futuro esperado é o que dita o presente! Mas, esse futuro é incerto, não? Nem tanto, o futuro tem uma componente grande regida pelas intenções tomadas no presente, e o agente se preparou para as intenções futuras. Está todo mundo lá no futuro, e o presente reflete isso! Se é verdade minha tese, é o futuro que tem que ser visto, não o passado.

Um método seguro, seria aquele em que você compra ou vende aquele papel, justificando o que espera de seu comportamento, de sua trajetória, em um bom espaço de tempo no futuro. Mas, isso não é advinhação? Não, cada pessoa que opera no mercado o faz com uma espera de acontecimentos no futuro, cabe a quem analisa, desvendar a intenção da média das pessoas, e sobre cada resultado de sua prospecção para um período, jogar o futuro à frente. O futuro longo, seria apenas um encadeamento de passados justificados. O resultado seria a “vida esperada” do papel, isso me cheira mas eficaz do que a “vida acontecida” do papel. Apenas como exemplo visual, você teria no seu MetaStock projeções para um ano à frente, dia a dia.

Parece fantasia? Que nada, os astrônomos nos avisam com antecedência de anos o que acontecerá com um cometa daqui a 38 anos! E acertam. E por quê conseguem isso? Descobriram o processo científico! E, veja, que esse é um mundo bem maior do o mundo das ações na bolsa de valores! Imagine-se em um ônibus espacial passeando pelo Universo. Sabe-se que o Universo tem aproximadamente a distância de 13 bilhões de anos-luz, e parece ser curvo, as distâncias são medidas de acordo com a velocidade da luz, e a luz se move a 300.000 quilômetros por segundo. Assim, tudo é medido em ano-luz, não tem como medir em quilômetro! Mas 1 ano-luz, é uma distância impensável! Veja só que o perímetro da Terra tem apenas 0,1 segundo-luz, se você passar uma corda em volta da Terra, e esticar a corda tem 0,1 segundo-luz! Da Terra ao Sol, é longe demais, tem 8 minutos-luz, não chega nunca! Mas, logo depois do Sol vem a estrela mais próxima, quando você passar pelo Sol, pergunte pela janela aos soláqueos se a estrela mais próxima já está chegando! Eles vão responder: “Vai fundo, garoto, a estrela Alpha Centauro fica logo aí pela frente, pertinho, a 4,2 anos-luz da Terra!”. Você viu, não é minutos-luz, é anos-luz! Quando você chegar à segunda estrela mais próxima da Terra, Alpha Centauro, que faz parte de bilhões de estrelas da nossa galáxia Via Láctea, pode ser que você tenha vontade de dar uma esticada até uma outra galáxia, sair um pouco da Via Láctea! Andrômeda é a galáxia mais próxima da Via Láceta, siga pra lá no seu ônibus espacial, Andrômeda fica a dois milhões de anos-luz da Terra! Quando daqui olhamos para Andrômeda, a luz dela que chega até nós, saiu de lá a dois milhões de anos luz atrás, o que vemos é uma galáxia antiga, ou seja, o que ocorria lá a dois milhões de anos atrás! Você vê, até a luz procura o futuro! O que está acontecendo hoje em Andrômeda já tem seu futuro determinado!

E nós aqui, desejando usar o passado para prever o valor de uma ação na bolsa de valores no ano que vêm! Tudo bem, tudo certo, como dois e dois são cinco! Vai fundo, garoto!

Ivan Siqueira

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