22 de setembro de 2011

4 - Crises, mas crises de que?

(Ivan Siqueira)

Hoje, a preocupação já não é com crises econômicas no setor real da economia, mas com uma crise financeira. Mas, quem disse que a produção ou a demanda não podem gerar uma crise de boas proporções nos dias de hoje? Algumas pessoas não crêem nisso, só acreditam no que os olhos vêem! Mas, em Economia, quando os olhos vêem, já era! Na América , no ano de 1929, a vida era normal, a economia ia muito bem, nos bares a música era o ragtime, os bancos de Nova York emprestavam dinheiro ao mundo, confiantes em sua economia. O presidente Coolidger, que terminava seu mandato, fez seu último pronunciamento à nação, assim: "Nenhum Congresso dos Estados Unidos jamais reunido, ao avaliar o estado da União, encontrou uma perspectiva mais satisfatória do que a que se oferece no presente momento!"

Foi nesse clima que o presidente Hoover tomou posse em março de 1929 e não tinha a menor ideía de que o mundo iria desabar, não sabia que o processo que iria deflagrar a depressão já estava em andamento, todos dançavam alegremente o ragtime! A bolsa de valores deu o sinal, 13 milhões de ações despencaram em queda vertiginosa. Hoover deu uma declaração saindo pela tangente: "O negócio fundamental do país, que é a produção e distribuição de mercadorias, está numa base saudável e próspera". Ele não estava enganando o povo, desconhecia o problema. Mas, a economia não liga para presidentes, o mundo desabou e o desemprego caiu a 25% da força de trabalho, em 1933 a produção já tinha caído 38%, a maior crise que o mundo viu, não mandou telegrama!

Crises de demanda foram exorcizadas no passado, e o nome do exorcista era Jean Baptiste Say. Ele não era um padre, mas sua lei dizia que a oferta cria sua própria procura, em outras palavras, basta produzir, a produção gera uma renda suficiente para comprar de volta o que foi produzido, ou seja, não tem crise! Que renda é gerada com a produção? Salários, juros, aluguel e lucro, ou seja, cada detentor de uma parcela da renda, tem a renda suficiente para comprar produtos naquele montante, não pode haver excesso de produção, nem insuficiência de demanda, a demanda é sancionada pela renda gerada com qualquer produção. Assim, falar-se em crise, que crise? Crise de quê? Só pode haver crise de produção. Mas, se produziu, é que gerou-se renda para comprar-se a produção de volta! Essa era a sentença de Say! Mas, hoje sabemos, parece que é, mas não é!

Se o mundo seguisse a lei de Say, mas não seguiu! Em 1929 a crise reduziu a produção a 20% do seu nível normal, qual era o fenômeno? Produzia-se e não havia demanda suficiente para comprar o que fora produzido. Por onde anda Say, ninguém sabia, o exorcista não era encontrado. Mas John Maynard Keynes estudava o problema, e apontava: a renda gerada pela produção não, necessariamente, se transforma em demanda, aí, uma cratera pode estar se formando!

Teria sido Keynes o descobridor do problema? Não, o problema já tinha um nome antigo: crise de realização, por Marx que já havia pensado nisso, e Kalecki seguindo Marx já mostrava soluções. Keynes e Kalecki trabalharam independentemente um do outro, e por caminhos diferentes chegaram a conclusões parecidas, a demanda efetiva é o que mantém a economia.

Vou voltar a pensar nesse assunto, por uma única razão, essa crise atual da economia norte-americana não tem nada há ver com o que parece, é crise de quê? Crise financeira, crise imobiliária, crise monetária, crise do crédito, crise do déficit? Parece, mas não é! Mas pode ser uma crise do esgotamento da formação de capital! É quando o investimento não tem mais razão de ser! Só desinvestindo a economia volta a ser saudável! Você conhece as ondas de Leontieff? Tá tudo lá! Vou voltar nessa história, de vida, e, às vezes, de terror, só que, agora em nossos dias, sem ragtime!

Ivan Siqueira

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