22 de setembro de 2011

12 - A herança deixada por Keynes

(Ivan Siqueira)

Depois do ano de 1936, quando foi publicado a “Teoria Geral”, tudo passou a girar em torno de Keynes, sua obra é tão potente, e tão surpreendente, que a vida bem que poderia ser classificada em a.K.(antes de Keynes) e d.K.(depois de Keynes). Eu me volto para esse tema apenas porque acho que isso é um grande problema para nós que vivemos nos dias de hoje, e entendo que o papel de um economista é contribuir para por fim a essa herança, muitos o tem tentado, com algum sucesso.

A herança keynesiana não é um mal, a contribuição de Keynes é simplesmente fantástica, valiosa por demais, não apenas a dele , mas a de muitos economistas que estenderam suas idéias, seja, dando apenas um nome a um mecanismo proposto por Keynes, como é o caso do conceito de “multiplicador” da renda, o conceito é de Keynes, mas sabemos que o nome foi dado por Richard Kahn, em seu artigo “The Relation of Home Investiment to Unemployment”, para o The Economic Journal, ou por contribuições novas como as que foram oferecidas pelos pós-keynesianos. A vida passou a ser vivida por pré-keynesianos, keynesianos, neo-keynesianos e pós-keynesianos.

Você, ainda estudante de economia, é um privilegiado, você ainda não foi “moldado” pelo sistema, nem pelo keynesiano, nem por qualquer outro. Você tem um mundo imenso à sua frente para desenvolver sua profissão, e isso é ótimo! Suponha que a grande engrenagem keynesiana contenha uma falha fatal, e que você perceba essa falha, isso pode afetar todo o pensamento keynesiano, neo-keynesiano e pós-keynesiano, e eu diria, até as idéias pré-keynesianas. A partir de sua descoberta, o mundo pode ser outro.

Mas, onde pode estar uma falha dessas? Eu não sei, mas você pode encontrar isso! Vamos supor que você fez essa descoberta, fez medições tem as conclusões de seus estudos, e tem uma notícia para dar ao mundo acadêmico e ao mundo em geral, aos trabalhadores, aos empresários, aos exportadores, aos construtores, às donas de casa, aos desempregados! Você publica seu trabalho, e lá está sua grande descoberta, e ela vai causar o maior furacão, ou erupção, ou uma onda de ventos suavizantes para a economia e para a vida em geral. Você descobriu que:

O consumo não é uma função da renda!

Os efeitos de sua descoberta serão devastadores, a economia pré-keynesiana entra em alta, a “Riqueza das Nações”, vai vender mais do que a revista Playboy, e quem sabe sua descoberta acabe com o desemprego no mundo!

Ainda que esse post possa parecer uma fantasia, ele é muito sério, porque deseja tocar em um ponto fundamental do trabalho do economista, as transformações do pensamento econômico se dão em espaços de tempo extensos, e as idéias econômicas só mudam se você se interessar por avaliar em seu trabalho idéias consagradas e aparentemente intocáveis, foi assim que Keynes, Phillips, etc, fizeram, por isso obtiveram grandes resultados, quebra do paradigma.

Na verdade, a grande herança que Keynes nos deixou foi sua coragem, a coragem de questionar o mundo antes dele! Como ele diz na introdução do seu livro:

"Denominei este livro “A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”, dando especial ênfase ao termo geral. O objetivo deste título é contrastar a natureza de meus argumentos e conclusões com os da teoria clássica, na qual me formei, que domina o pensamento econômico, tanto prático quando teórico, dos meios acadêmicos e dirigentes desta geração, tal como vem acontecendo nos últimos cem anos."

Bem, quanto ao consumo, até prova em contrário, ele é mesmo uma função da renda, mas está aguardando suas avaliações, se o mundo pode ser melhor no futuro, é essa profissão que pode torná-lo assim, mas , certamente, passando antes por você!

Ivan Siqueira

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