(Ivan Siqueira)
Houve uma época em que eu escrevi vários artigos sobre economia para um conhecido e importante jornal do país. Os artigos versavam sobre economia, mercado financeiro e finanças de empresas. Eu enviava meus textos diretamente para o editor de economia do referido jornal. Quase sempre, o texto era publicado um ou dois dias após. Eu comprava o jornal e levava o texto para a universidade onde dava aulas de finanças, e discutia o texto com os alunos.
O jornal tinha alcance, era lido por todo o mundo financeiro, e eu me lembro de um artigo onde eu questionava determinado ponto da política de controle de preços, e por uma coincidência, no dia em que o jornal publicou meu texto, eu tinha um encontro com o professor Mário Henrique Simonsen, na sua sala de trabalho, tratávamos de outro assunto, eu estava acompanhado de um colega, e o professor me surpreendeu dizendo que ele tinha lido meu artigo pela manhã, e que eu tinha razão no meu questionamento. No táxi, de volta para a empresa onde eu trabalhava, meu colega disse: Cara, aprovado por Simonsen! E eu disse: É, alguém tem que gostar!(e rimos).
Mas, nem tudo são flores. Até que um dia, um dos textos não foi publicado pelo jornal. Três ou quatro dias se passaram e o texto não foi publicado. Liguei para o jornal e procurei saber do editor, qual teria sido o problema, e ele me disse mais ou menos assim:
- Sabe, Ivan, esse texto está muito técnico, é só para economistas, mas o jornal é lido por todo mundo, sabe como é que é, você pode tornar o texto mais accessível? – pediu ele.
Bem, eu não tornei o texto mais accessível, não por vontade de não fazê-lo, não conseguia mesmo, alguns pensamentos não são fáceis de serem transmitidos a não ser pela via técnica. Ficou sem publicação esse texto. Mas serviu de lição: não escreva para economistas!(risos)
Agora, na semana passada, encontrei um velho amigo, e almoçamos juntos, e eu falei do blog Economeditando. Ele é médico. No mesmo dia ele acessou o blog e me mandou um e-mail:
- Ivan, gostei do seu blog, mas não entendi nada.
No seu e-mail, meu amigo médico me diz que ele gostaria sim de entender os princípios da economia e finanças, dizendo que pelo fato de que ele é sócio cotista de uma clínica médica, necessita entender o que acontece com o mundo financeiro, etc. Ele diz, que não entende essa coisa de juros, banco central, câmbio... o que não é de se admirar. Em minha resposta ao meu amigo, eu prometi que vou escrever um texto sobre o assunto de interesse dele, e já adiantei para ele o nome do post, eu disse, procure por “O que está por detrás da moeda”. Essa, estou devendo a ele!
Bem, alguns anos depois da primeira lição lá com o jornal, eu recebo essa outra lição. Não faço o blog Economeditando para economistas, escrevo para exercitar o pensamento, a ligação entre os vários meandros da economia, escrevendo e registrando eu tenho um fio condutor de pontos onde desejo chegar, esses pontos estão distantes, nem sei se chegarei neles, mas o fato é que essa prática organiza minhas diretrizes. Entendo que o meu amigo médico tenha alguma dificuldade de entender os assuntos, imagine se alguém encontra um termo como “propensão marginal a consumir” , e não tem uma explicação do que seja isso, realmente, como vai entender o que seja? Mas, aí, surge um conflito, é que o blog é lido por internautas, e se eu escrevo para que alguns não entendam, pra que escrever?
Por outro lado, o trabalho de um economista não é escrever textos para blog, isso é apenas uma grande oportunidade que me é dada, nesses tempos fabulosos de Internet, de tornar mais claro o objeto da Economia, e poder colocar esse tema ao alcance de todos. Assim, essas duas lições servem para mim, e me aconselham a olhá-las com mais cuidado. É o que eu vou fazer.
Ivan Siqueira
23 de setembro de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário