A questão pode ser enxergada por dois pontos de vista, o
clássico e o keynesiano, eles não se entendem!
Os economistas clássicos entendem que não pode existir
desemprego involuntário, e garantem que nem existirá, mas impõe uma condição, a
de que os salários nominais sejam flexíveis para baixo, ou seja, se os
trabalhadores que estão empregados aceitassem ver reduzidos seus salários, de
modo a que os trabalhadores que estão fora do mercado de trabalho possam ser
inseridos, todo mundo que deseja trabalhar estaria trabalhando! Vou dar um
exemplo que até pode ser grosseiro, mas mostra o efeito. Suponha que uma
fábrica empregue 100 trabalhadores, mas que existam mais 10 trabalhadores
desejando emprego, se os 100 trabalhadores aceitassem uma redução do salário de
10%, os trabalhadores que estão de fora estariam empregados, e, portanto, não
haveria desemprego! Aí, vem um sindicato e diz, não aceitamos essa redução de
salário! Tá bem, então permanecemos com o desemprego!
Em 1929 vem a Grande Depressão, e a taxa de desempregados vai
a 20%, é como se a PEA fosse de 125 pessoas, e houvessem 100 trabalhadores na
fábrica e 25 procurando emprego(25/125=20%), um caos! Keynes escreve sua teoria
em 1936 e, aparentemente, discorda do ponto de vista clássico, ele diz que há
uma rigidez de salários nominais para baixo, e assim não existirá pleno
emprego(lembre-se de que os clássicos diziam que a economia sempre estaria em
pleno emprego, porque “a oferta cria sua própria procura”). E a crise de 1929?
Assim, Keynes detonou a teoria clássica mostrando que as empresas não propõem a
baixa dos salários porque enfrentariam a guerra dos sindicatos, então, simplesmente, demitem! Ou seja, a economia
opera com rigidez de salários nominais!
Os clássicos não se consideram derrotados porque eles
colocaram a questão, e foram claros, existe essa condição, se aceitarem
salários flexíveis para baixo todo mundo estará empregado! Todo trabalhador que está lendo esse meu
texto nesse momento, deve estar pensando, Ivan, não mexe com esse vespeiro não,
já estou ganhando pouco, ainda vou ter que colaborar com quem está
desempregado! rs rs
Aí, sempre vem alguém pra propor, porque não empregam os que
estão de fora e as empresas que aceitem terem seus lucros reduzidos, ao invés
de propor redução de salários? Bem, aí, cai no campo do emocional, do povo
triste e sofrido, que, com toda a razão não precisa acertar no que diz, mas uma
redução de lucros não tem a capacidade de aumentar o nível de emprego, porque
salários são gastos, se transformam em demanda efetiva, mas e os lucros, o que
é feito com eles? Se você está ai pensando, “são gastos também”, Kalecki pensa
diferente, “os trabalhadores gastam o que ganham, os capitalistas ganham o que
gastam”. Se isso faz diferença? Imensa, total, e desestabilizante! Nós chegamos lá!
Ivan Siqueira