E a oferta? Você já ouviu alguém falar em oferta efetiva? Eu
nunca ouvi, nem li sobre isso! Estranho, né? Por que somente a demanda é
efetiva? Quando se dá a oferta? Oferta também não é apenas desejo de ofertar,
mas em que momento a oferta se torna oferta efetiva? Aparentemente é quando o
produto ou serviço ficou pronto e foi colocado a venda no mercado! Então, suponha que uma latinha de cerveja foi
produzida e foi oferecida no mercado pelo valor de venda de R$4,00, e que
dentro desses R$4,00 aproximadamente R$2,60 são salários pagos aos empregados
da fábrica, e R$1,40 seja de lucros dos proprietários da fábrica. Estamos
supondo que a renda seja formada apenas de salários e lucros, e desconsiderando
juros e aluguéis que são, também, parte da renda, mas, para efeito de
simplificação, nossa renda é formada apenas de salários mais lucros. Assim, no
nosso exemplo, salários são 65% da renda e lucros são 35%. Não é muito
diferente da realidade.
Na minha época de faculdade, nos intervalos de aulas, sentávamos em uma
calçada interna do pátio e ficávamos economeditando sobre as aulas, que tempo
bom! Alguns de meus colegas gostavam de
dizer que os operários, coitados, não tinham poder de comprar nem aquilo mesmo
que eles produziam, que não podiam comprar nem o edifício que eles próprios construíam com o seu
suor! É uma grande observação esta, é
uma grande verdade, a latinha custa R$4,00 e o trabalhador ganhou apenas
R$2,60, não pode comprar a cerveja que ele mesmo trabalhou e fabricou, é
lógico, sempre haverão lucros em cima dos custos, e o trabalhador não tem a
parte dos lucros! Salários são a remuneração do trabalho, lucros são a
remuneração de capitalistas pelo uso de seus capitais! A soma de salários e
lucros é a renda, ou a produção, ou a despesa, são iguais. Mas, de forma mais
completa, a renda é o somatório de salários, juros, aluguéis e lucros. Em nosso
exemplo estamos fazendo uma simplificação.
Ali naquela calçada, nos momentos de lazer, no intervalo das
aulas, fazíamos de tudo, paqueras, piadas, trocávamos opiniões sobre a vida nacional, e havia um dos estudantes de
economia bastante diferenciado, ele questionava permanentemente o capitalismo,
e de uma forma sempre muito inteligente, falava baixo, de modo concentrado, e
tinha argumentos que, via-se, eram resultado de estudos que ele fazia, mas ele tinha
uma outra particularidade, sempre aparecia com um violão(de onde saía aquele
violão?), sentava-se ali naquela calçada, e com o seu violão tocava e cantava
belíssimas canções que ele compunha, era um desconhecido, só sabíamos que ele era
filho do rei do baião, Luiz Gonzaga, ele era o Gonzaguinha. Sua música é muito
parecida com o que ele realmente era!
Mas, voltando para o assunto desse post, os que acham que os
trabalhadores não têm a renda suficiente para comprar o que eles próprios
produziram, esquecem de ver, que o capitalista, então, tem menos ainda, a latinha está sendo ofertada a R$4,00, mas o
capitalista só ganhou R$1,40, também não compra a latinha de cerveja que o
empreendimento dele produziu, porque o capitalista não é o dono dos salários,
apenas dos lucros, pra comprar a latinha ele teria que pegar emprestado os
salários dos trabalhadores! Mas, trabalhadores e capitalistas, uni-vos, porque
juntos vocês têm a renda necessária para demandar o que ofertaram!
Aí, entra em cena, a lei de Say, “a oferta cria sua própria
procura”. Dizem que Say jamais disse isso textualmente, mas com toda certeza pensava
isso, e escreveu sobre isso! Mas e a
cerveja? Ofertaram por R$4,00 a latinha, e têm poder de demanda de exatamente
R$4,00, ou seja, o ato de produzir gerou uma renda suficiente(R$2,60 + R$1,40)
para comprar a oferta(produção). Não pode haver crise econômica, tudo o que é
produzido gera a renda pra comprar a produção! Senão, vejamos o que Say disse: “tão logo um produto seja criado, nesse mesmo
instante gera um mercado para outros produtos em toda a grandeza de seu próprio
valor”. Você viu, citei o texto dele, basta produzir, a produção(ou oferta
efetiva), gera uma demanda efetiva de mesmo valor, mesmo que vá ser usada em
outras partes do mercado, em outros produtos . Aí, meu caro amigo internauta, a
ideologia tomou conta da vida! Era tudo o que os adeptos do capitalismo precisavam
para defender o capitalismo, a frase veio para a ponta da língua da boca do
mundo: o capitalismo não gera crises, porque a oferta cria sua própria procura! Se o capitalismo é bom ou ruim, estamos todos
interessados em saber, quem souber avise ao outro, mas antes temos uma tarefa:
como questionar a lei de Say?
David Ricardo e Adam
Smith acolheram a lei de Say, mas Malthus e depois Keynes a recusaram. A oferta
não cria sua própria procura, contestando os economistas clássicos. Enquanto a
economia clássica é uma economia da oferta efetiva, a economia keynesiana é a
economia da demanda efetiva. Não adianta apenas produzir, a demanda tem renda
para comprar a produção, mas comprou? Vou
seguir nessa história, mas agora vou ouvir a canção “O Trem”, do meu colega
Gonzaginha, ela não fala de Say, nem ao menos de economia, mas fala de um mundo
melhor! Volto ao assunto a qualquer
momento. Quem teve peito de contestar a lei de Say? Ricardo e Malthus eram
amigos e trocavam cartas, Ricardo defendia a lei de Say, mas Malthus mostrou
que enxergava longe!
Ivan Siqueira
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