13 de novembro de 2013

37 - Expectativas movem montanhas


(Ivan Siqueira)

As coisas mais simples da economia, não são tão simples! A todo momento existe uma oferta de dinheiro na economia, e ao mesmo tempo uma procura por dinheiro. Os economista preferem chamar o dinheiro de moeda, mas não apenas a moeda metálica, mas o dinheiro em sua totalidade. Mas, o que é o dinheiro? Uma nota de papel? Moedas? Não, dinheiro pode ser tudo o que cumpra três funções: ser um meio de troca, uma unidade de conta e uma reserva de valor.  Assim, toda economia corre um risco, o de ver alguma coisa assumir esse papel, e cumprir essas funções no lugar da moeda oficial, e se a moeda local não cumpre esses papéis, uma outra moeda de fora pode passar a fazer isso!

No passado, havia a economia de escambo, ou seja, de trocas, um cara tinha uma vaca que produzia leite, e esse cara desejava  tratar de dentes, tinha que convencer ao dentista a aceitar litros de leite em troca de serviço dentário! Pior seria o dentista desejar comprar um carro, teria que convencer ao dono da concessionária a tratar de todos os seus dentes, da sua mulher e de seus filhos!  rs rs Era difícil um sistema assim funcionar, aí, surgiram as mercadorias-moedas, uma mercadoria única funcionava como moeda, tudo era pago, por exemplo,  em sal. Mas para comprar um carro, o cara deveria antes construir um galpão pra guardar a quantidade de sal, e como transportar o sal?  Foram várias as mercadorias que serviram como moeda.  Na continuidade dos fatos,  metais preciosos, como o ouro e a prata,  passaram a fazer o papel de moeda, eram duráveis, divisíveis, difíceis de falsificar.. Até que um dia alguém guardou ouro com alguém, e recebeu um certificado de papel que comprovava que o ouro estava em posse do fulano, e esse certificado é a origem das notas de dinheiro, dinheiro com lastro, mais tarde surgiu a moeda fiduciária, dinheiro sem lastro.

Mas, quem deseja ficar com dinheiro? Dinheiro não rende nada, se eu posso aplicar o dinheiro em títulos e receber juros, qual o motivo que as pessoas têm para desejar ficar com dinheiro, ou melhor , reter moeda? Segundo Keynes, são três motivos, ter moeda para pagar as suas transações, ter moeda por precaução, e ter moeda para especulação, por isso é que as pessoas têm uma demanda por moeda.  Entenda bem, demanda por moeda é desejar ter dinheiro em sua posse  para usá-lo quando precisar, esse dinheiro não está sendo usado em nada, quando você o usa, deixa de ser demanda por moeda! Se esse dinheiro não está sendo usado em nada, onde ele está? Está na forma de notas ou moedas metálicas e em depósitos à vista nos bancos comerciais.

Desse total uma parte é demanda por moeda pelo motivo especulação. Quanto? Não se sabe, não existe essa medição, mas é fácil entender por que se guarda dinheiro para especulação. É que o futuro é incerto, e a taxa de juros pode aumentar no futuro, então, o cara prefere ficar líquido no presente, ou seja, reter moeda,  aguardando a subida da taxa de juros.  No total, a moeda retida pelos três motivos, formam a demanda por moeda, a procura da economia por moeda.  Mas, e o resto da renda que não foi gasta em consumo, onde estará essa parcela, se não está na procura por moeda? Está na procura por quase-moeda, mas não é moeda. E o que me permite dizer que depósitos a prazo, poupança, letras financeiras não são moeda, são quase-moeda? É o fato de que não são meios de pagamento, não estão disponíveis como meios de pagamento, apenas moeda manual e depósitos a vista são moeda, é com eles que se pagam as compras.

Por que motivo alguém prefere aguardar o futuro com moeda no bolso(preferência pela liquidez) esperando que a taxa de juros vá aumentar, ao invés de já aplicar em títulos no presente, mesmo com taxas de juros menores? Não é melhor um pássaro na mão do que dois pássaros voando? Em economia monetária não! É que todas as vezes que a taxa de juros se eleva, quem está investido a taxas  de juros menores perde, por duas razões, primeiro porque todo mundo que fez investimentos após o aumento da taxa estará investido com rendimentos maiores , menos ele, o que já estava investido, e segundo, porque com a elevação das taxas o valor dos títulos decresce, o cara  não consegue vender seus títulos ao preço que ele os comprou, mas somente a preços menores, para que compense aos investidores obter as novas taxas que foram elevadas!  Não se esqueça nunca dessa regra: a taxa de juros aumentou, então o valor dos títulos diminuiu!

Qual a conclusão? A conclusão é o que move a economia! É que, se os agentes econômicos esperam que as taxas de juros vão se elevar, aumenta a demanda por moeda para especulação, as pessoas vão reter mais dinheiro! E daí? Daí, que falta dinheiro para títulos no presente! E daí? Daí que a taxa de juros se eleva no presente! Então, você vê o que fazem as expectativas, as taxas de juros se elevam porque esperava-se que elas se elevassem! É uma cadeia de acontecimentos!

O processo inverso também se dá, se a expectativa é de que as taxas de juros vão cair, decresce a demanda por moeda, que vai para a procura de títulos antes que as taxas de juros caiam, e isso provoca queda da taxa de juros, dinheiro demais se oferecendo para títulos. Com a queda das taxas aumenta o valor dos títulos. Você viu, reparou qual é a palavra chave? Expectativas. Expectativas movem montanhas!

Mas, e os economistas, o que podem contra esse estado de coisas? Como não conversamos ainda sobre a oferta de moeda, não sabemos ainda o que é bom ou ruim nesse “estado de coisas”! Isso é apenas a demanda por moeda, mas os economistas podem atuar na oferta da moeda, quem oferta moeda é o Banco Central, e um banco central não pode errar, seus erros podem gerar desemprego, inflação, crises na produção, lembra dos EUA na década de 30?  A taxa de juros resulta do confronto entre  a demanda por moeda e a oferta por moeda.  Vamos tratar da oferta de moeda  aí pela frente, aqui no Economeditando, mas antes precisamos saber,  como é medida a moeda?

Ivan Siqueira

 
 

 

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