17 de dezembro de 2013

43 - Quando o capital e o trabalho se tornaram amigos

Ainda nem comecei a escrever esse post, mas já sei que ele vai ser diferente dos anteriores, porque não vai seguir o que me ensinaram na escola, afinal eu já estou crescidinho, e aprendi a me safar do maior mal que assola a humanidade: ideologias!

É preciso saber aproveitar o que uma ideia tenha de conteúdo científico, não venham me dizer que o marxismo é coisa do passado, as verdades que ali repousam precisam compor a teoria econômica moderna, e o lixo que lá também se encontra, precisa ser varrido, no mundo das ideias não existe Super Man, existem apenas ideias acertadas ou não! A teoria macroeconômica de John M. Keynes , que tem elementos formidáveis, está incompleta se não se aliar ao pensamento de Karl Marx. Você pirou, Ivan, um é defensor do capitalismo, o outro fez tudo pra mostrar que o capitalismo é o pior dos sistemas econômicos, arranca a mais-valia do valor do trabalho, explora os trabalhadores!  Vamos ver essas coisas, mas vamos colocar um óculos contra miopia!
Marx dividia o mundo entre trabalhadores e capitalistas, segundo o pensamento dele é dessa luta de classes que a vida econômica se arranjava. Keynes chegou em 1936 e fez vista grossa, ou seja, não considerou essas classes em sua teoria, mas que haviam quatro classes: a de investidores, consumidores, governo e resto do mundo, assim, o baile se dava entre esses! E, ainda por fora, a moeda, que organizava o baile! Foi assim que ele formou sua teoria macroeconômica da demanda efetiva, o que acontece nos bastidores entre trabalhadores e capitalistas era figuração, segundo plano, que não importava a ele, nem afetava sua teoria! Será que dá pra aceitar isso, caro internauta?

À mesma época que Keynes publicou suas ideias, um economista polonês, Michal Kalecki, publicou  uma teoria absolutamente coerente com a teria keynesiana, e está mais do que comprovado que as duas teorias foram feitas independentes uma da outra, ninguém copiou ninguém. Assim, a teoria kaleckiana também é uma teoria da demanda efetiva, como a de Keynes, há até quem diga que são teorias iguais, mas no mundo de Kalecki tudo acontece entre trabalhadores e capitalistas! Cara, isso é fantástico, isso é o que a vida precisava, porque você pode enxergar as atividades de um banco central e como elas afetam, prejudicam , ou dão ganho a essas duas classes, ou a uma delas em detrimento da outra! Você deve estar aí se perguntando, quem fez isso, onde eu leio sobre isso? Calma aí, você está lendo!  Até eu preciso de calma, porque não posso queimar etapas!
Na verdade, Kalecki publicou(1933) antes de Keynes(1936). Se você, caro internauta, vem lendo meus posts, já viu que tudo era uma consequência da teoria clássica marginalista estar dando errada no mundo, e isso desembocou na crise de 1929. Mas antes, em 1926, um economista italiano, Piero Sraffa, já havia escrito um artigo onde demonstrava claramente que a base do marginalismo, o mercado de concorrência perfeita, não se aplicava ao mercado real. Isso batia perfeitamente com uma ideia de Marx de que a concentração do capital tinha origem nas economias de escala das empresas, ou seja, as empresas tendiam para um “gigantismo” através da concorrência monopolística. Como é que é? Repete isso! Sim, na concorrência perfeita, aquele mundo onde tudo corre perfeitamente bem, não é possível acumular capital, nem crescimento!  Caramba, quer dizer que se falava mal do que era a solução? Mais ou menos isso! Sraffa não era um marxista, sua teoria apenas demonstrou que Marx estava certo, a concentração de capital depende da concorrência imperfeita!

Nesse estado de coisas foi que Keynes entrou de sola, demoliu o marginalismo, mas não pela via marxista, mas sim, criando uma sociedade de quatro classes, a razão da economia era produzir bens de consumo para a classe de consumidores, e para isso a classe das empresas investiam, por outro lado, a classe governo arrecada impostos e efetua gastos públicos, e finalmente uma outra classe, o resto do mundo, mantém relações internacionais com a economia doméstica, através dos fluxos de compras e vendas de bens e serviços externos, e do fluxo de rendas financeiras e capitais que se alocam daqui pra lá e de lá pra cá. Esse é o mundo keynesiano, e o mundo que está em todos os manuais de macroeconomia adotados nas universidades. Vai se conformar com isso?
Em 1929, no ano da crise, Michal Kalecki trabalhava em Varsóvia. Em 1933 publicou sua teoria e a apresentou numa conferencia internacional, e em 1935 voltou a publica-la em uma revista. Sua teoria mostrava que a atividade econômica depende do gasto dos trabalhadores, e que os capitalistas não têm lucro porque produzem, mas produzem o lucro mesmo antes deles existirem, no ato do investimento, ele dizia “os trabalhadores gastam o que ganham, os capitalistas ganham o que gastam”.

Hoje, já dá para propor uma outra visão, a de que “os trabalhadores gastam, porque os capitalistas ganham, e os capitalistas só ganham porque os trabalhadores gastam!” Mas, isso parece ser keynesiano, ou não? No mundo de Keynes não existem essas classes! Como ele foi deixar de fora isso? No mundo de Keynes é a política fiscal e a política monetária que comandam a vida. Mas que tal um mundo perfeito onde a política salarial e a política de lucros fossem a orientação? Como assim, dar ganhos às duas classes ao mesmo tempo? Desculpe, Marx diz que isso não é possível, o capital existe para explorar o trabalho. Calma aí, companheiro, precisamos conversar, e ajustar o passado ao que o presente já possibilita, não veja Marx como um dragão, o cara tem coisas fenomenais, vamos usar isso, e mostrar o que não funciona na teoria dele.  Se fosse pra rezar, vamos pra uma igreja, lá recebemos tudo o que precisamos através da fé,  aqui é Economeditando, uma seleção de ideias.  
Assim, vou destilar uma teia parecida com a do Homem-Aranha, onde o que há de excelente em Marx se encontra com Keynes e Kalecki, vamos perder essa mania de falar mal de todo mundo, todos têm a oferecer! E os trabalhadores? Os trabalhadores só ganham com isso, o dia em que o capital e o trabalho se tornaram amigos! Pode isso? Pergunte ao trabalho se ele deseja ser o capital, e aguarde a resposta, pode ser surpreendente! Kalecki morreu em 1970, mas pensou o bastante para que o mundo fosse muito diferente do que o que temos! O assunto está só começando!

Ivan Siqueira

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