28 de outubro de 2015

55 - Iniciando em economia externa

(Ivan Siqueira)

Cada nação mantém relações econômicas internacionais com o resto do mundo. Exportamos para eles; importamos deles; pegamos empréstimos com bancos do exterior; eles pegam empréstimos com nossos bancos; fazemos turismo lá fora(vamos a Disney); eles fazem turismo aqui em nosso país(vêm sambar no carnaval); pagamos fretes marítimos quando usamos navios estrangeiros; eles nos pagam fretes quando usam navios brasileiros; pagamos seguros a empresas estrangeiras no comércio internacional; eles pagam seguros a seguradoras brasileiras no comércio internacional; pagamos juros a eles quando pegamos empréstimos em moeda estrangeira no banco lá fora; eles pagam juros a nossos bancos quando tomam empréstimo aqui. Enfim, se residentes em uma economia transacionam com não-residentes nessa economia, isto configura uma relação econômica externa do país com o resto do mundo, e isso se dá em moeda estrangeira, dólar, euro, libra...

Os que trazem moeda estrangeira para o país são os ofertantes de moeda estrangeira, eles vão vender seus dólares aqui, porque aqui eles vão precisar de reais(R$). Quem são esses ofertantes? Os exportadores(eles vão obter dólares), os que pegaram empréstimo com o exterior(vão obter dólares), os turistas que vieram de fora(vão trazer dólares), os que pagam juros aos bancos brasileiros(vão enviar dólares ), se um investidor estrangeiro compra ações na BOVESPA(vão enviar dólares), ou seja, toda operação em que o dólar vai ser obtido pela economia doméstica, é uma oferta de dólares(ou moeda estrangeira).

Ao contrário, os que precisam de dólar para fazer pagamentos lá fora, são os demandantes de moeda estrangeira, exemplo, os importadores(eles precisam de dólares pra pagar as compras que fizeram), os que pegaram empréstimos lá fora, quando receberam o empréstimo eram ofertantes de dólares, mas agora precisam pagar os juros e as amortizações(eles precisam de dólares), nossos turistas brasileiros que vão conhecer a Disney(eles precisam de dólares), os que precisam pagar o seguro a uma seguradora em Chicago(eles precisam de dólares)., se uma empresa brasileira investe comprando uma empresa no exterior(como a Petrobras que comprou uma refinaria em Pasadena), eles vão precisar de dólares.  Enfim, esses são os demandantes de dólares.

A todo momento existirá uma oferta de dólares e uma procura por dólares. Nesse mercado, a moeda estrangeira(o dólar) é como uma mercadoria qualquer, como tomates, como carros, uns precisam dela, outros a oferecem. Daí, desse confronto entre oferta e procura, sai o preço dessa mercadoria dólar, que é a taxa de câmbio!  Tem muita oferta, ou tem mais demanda?  O preço vai se formar com base nisso!
No próximo post, veremos como se forma a taxa de câmbio!

Ivan Siqueira

 

54 - Demanda por moeda inelástica

(Ivan Siqueira)

(Para melhor entendimento deste post, leia antes o 53)

O que nos diz uma curva de demanda por moeda mais incinada(mais em pé) :


 
A curva Md mais inclinada nos mostra que a resposta do aumento da demanda por moeda (de M1 para M2) é pouco sensível  a queda da taxa de juros(de i1 para i2), demanda pouco elástica a taxa de juros! Quanto mais em pé, mais inelástica é a demanda por moeda, ou seja, a variação da procura por moeda reage pouco a variações na taxa de juros!

Ivan Siqueira

53 - A demanda por moeda

(Ivan Siqueira)

Os agentes econômicos podem preferir possuir moeda ou títulos. Se preferem reter moeda, preferem estar líquidos, e, assim, diz-se que têm uma preferência pela liquidez. Moeda apresenta dois componentes:

Moeda manual
Depósitos à vista

A este conjunto moeda manual + depósitos à vista, chamamos de moeda. Mas, o dinheiro pode estar, altenativamente, em títulos. Mas, por que motivos procuramos moeda ao invés de títulos:

Procuramos moeda por dois motivos:
a) Para transações – ou seja, para efetuar nossos pagamentos com compras, dívidas, etc. Quanto maior o nível da renda, maior é o nível de transações, e maior é a demanda por moeda(dinheiro).

b) Para especulação – ou seja, para ganhar juros quando a taxa de juros está alta. Assim, quando a taxa de juros está baixa, maior é a procura por moeda pelo motivo especulação, quando a taxa de juros está alta, menor é a procura por moeda pelo motivo especulação, porque o dinheiro estará sendo direcionado para títulos.

Assim, a demanda por moeda para transações varia diretamente com a renda; e a demanda por moeda para especulação varia inversamente com a taxa de juros.

Veja o gráfico:
 

Quando a taxa de juros cai de i1 para i2, a demanda por moeda aumenta de M1 para M2. Assim, graficamente, a curva de demanda por moeda(Md) é descendente e inclinada para a direita.

Ivan Siqueira

18 de abril de 2014

52 - Mudanças à vista

(Ivan Siqueira)

Estou retomando o nosso trabalho no Economeditando Blog, depois de um bom período de tempo em que estive impossibilitado de postar, por uma série de questões e compromissos. A partir de agora, venho apresentar mudanças no direcionamento do Economeditando Blog, a saber:

1 - pretendemos  apresentar uma série de questões técnicas, estudos, ao nível da formação de teorias, exercícios indispensáveis ao estudo da economia;

2 - quanto aos exercícios,  serão numerados, e estaremos apresentando em posts subsequentes, as respostas de cada  exercício apresentado.

Aproveitamos para comunicar que o Economeditando Blog, e o seu autor, não podem ser responsabilizados por nenhuma consequência do uso dos conhecimentos aqui adquiridos, sejam quaisquer perdas em eventuais operações financeiras, sejam usos desses conhecimentos em provas, concursos públicos e atividades afins.

Ivan Siqueira
 

25 de janeiro de 2014

51 - O passado te condena

 Ivan Siqueira)

“O passado te condena” é o nome de um filme que eu assisti na minha adolescência. Lembro pouco do filme, mas o nome é forte, ficou na minha memória. Isso é a Argentina!
Pense num garoto que precisa de dinheiro, e que convenceu a irmã a emprestar a ele o dinheiro que ela não tinha, ou não podia emprestar, mas o garoto é gente boa e a irmã acabou por emprestar a grana, mas na condição de que ele pagasse logo. O garoto se livrou do problema financeiro que tinha, mas nunca pagou a dívida, e vive tentando convencer a irmã de que ela bem que poderia aceitar menos pela dívida, mas a irmã não aceita! Isso é a Argentina!

Em meados de 1979 ingressei em uma nova empresa, fui trabalhar em uma empresa que, por acaso, tinha um grande endividamento em dólares. Como todos sabem, as empresas se endividam buscando o efeito da alavancagem financeira, ou seja, tomar dinheiro a um custo barato da dívida de modo a dar ao capital do acionista uma rentabilidade maior do que a que existiria se ele próprio colocasse aquele montante de dinheiro da dívida com seus próprios recursos. Em linguagem figurada, a empresa rende 18% ao ano, a dívida custa 12% ao ano, e o acionista ganha 25% ao ano, se ele colocasse a grana toda do bolso dele, só ganharia 18% ao ano que é quanto aquele negócio rende. Ele ganha a diferença, mas alavancada, porque usou dinheiro emprestado! Bem, se é tão fácil assim, por que todos não fazem o mesmo? Por causa do risco operacional, se os negócios não vão bem a empresa quebra! Está cheio de casos aí!
Eu mal havia entendido a nova empresa onde eu estava trabalhando, e a política cambial  pratica em dezembro uma maxi desvalorização do cruzeiro  de 30%. O que significa isso? Significa que os capitais que entrariam no país receberiam um “ganho” de 30%, assim, no ato! Os exportadores e os investidores estrangeiros todos sorrindo, o país precisa de dólares e vai obte-los assim, um ganho que veio do céu! Mas todo mundo que tem uma dívida em dólar está 30% mais pobre depois da desvalorização da moeda local, ou seja, está devendo 30% a mais! E eu, como economista daquela  empresa, já endividada quando eu entrei, com essa batata quente na mão! A sorte é que todo mundo tem duas mãos!

Em Economia tem aquilo que todos sabem e aquilo que poucos sabem, porque  essa é uma ciência intrincada, cheia de detalhes. O que poucos sabem é que uma desvalorização da moeda local pede novas desvalorizações, em síntese, uma midi ou maxi desvalorização , pede, exige, novas desvalorizações na sequencia, porque é isso o que vai permitir estabilizar os efeitos da desvalorização inicial. Qual a condição para que esse processo perverso não seja deflagrado? É ter permitido apenas mini-desvalorizações progressivas. Mas quem “ter permitido”? O mercado, que é quem manda em tudo, mas se inventaram banco central, é ele o responsável por não deixar o mercado fazer o que der na telha! Mas, todo  banco central é ingênuo, ele pensa que funciona como um segundo mercado que atua sobre o primeiro, mas isso não existe, ele apenas reforça as tendências do mercado, ou seja, se há escassez de dólares  o câmbio sobe, se há excesso o câmbio cai, ou, o que significa a mesma coisa, se o câmbio vai subir o mercado entra vendendo, se o cambio vai cair, o mercado entra comprando. Assim, o banco central é sempre um mal, porque ele funciona como um reforço do que está “errado”, mas aos olhos de todos ele parece ser o que “alivia” o erro!  Mas, alguém há de dizer que o mercado nunca erra, que o mercado é perfeito, mas cumpre avisar: os mercados são sempre imperfeitos, desde Chamberlain, Robinson. Eu os li na década de 80. Ainda não leu? Procure ler.
Na Argentina a marca é a do calote, fizeram o calote e nunca desfizeram, quem vai desejar comprar um título do governo Argentino, se no futuro o governo vai propor pagar apenas 70% do valor do título, que é o que ele fez, lembra do garoto e a sua irmã? Assim, a marca desse governo “peronista”, que era uma péssima marca econômica, passou a ser a feição política, o rosto do governo, o que dizem da presidente Kirchner é que ela mente o tempo todo, na verdade quem mente é a economia! E o que é uma economia que mente? É uma economia que diz de si uma coisa, que pretende ser, mas, que ela não é! E , se não é, vai precisar de calote, de desvalorizar a moeda nacional, e, ainda assim, vai ver suas reservas cambiais decrescendo, porque entrou no ciclone - não tem PIB suficiente - não exporta o que precisava exportar -  mas tem compromissos externos a pagar - o investidor externo não bota dinheiro porque tem medo do calote –  a população não empresta dinheiro ao governo, porque  se emprestar vai receber 70% do que emprestou - a demanda se retrai e a inflação vem com tudo - as reservas internacionais vão minguando, etc.  E aí, num último suspiro, fazem o que o mundo inteiro está fazendo, desvalorizando suas moedas locais, como se fosse uma gincana pra ver quem desvaloriza mais, mas no efeito global, na média, as desvalorizações se anulam, é como dois meninos vendendo estilingue por R$5,00 e cada um desvaloriza seu preço para R$3,00, ninguém vai vender mais do que o outro!  E ainda tem um erro fenomenal , não digam que essa  é uma crise da Argentina de 2014, a crise é uma herança deixa pelo marido, que jogou para o futuro o que era insustentável no passado, mas como péssimo marido não avisou a esposa, que herança maldita! Sim, tal como o garoto e a sua irmã, o garoto se livrou do problema pegando o dinheiro emprestado, a irmã ganhou o “pepino” de presente! Em economia não tem mágica, errou, espere o futuro! Mas, a sorte dos economistas é que a economia Argentina não é mais um assunto para economistas, é para psicanalistas! Haja divã!

E nós aqui? Nós somos uma Argentina amanhã!  Os erros em economia tem polaridades. Você usa sua geladeira no máximo nível de refrigeração? Você estoca gasolina no seu quintal? Você usa seu ar refrigerado no nível mais alto do frio?  Você coloca todo o seu salário na poupança? Mas,  a Dilma tem reservas internacionais de cerca de US$370 bilhões, saindo pelo ladrão, como se fala de nossa caixa d’água, o que é um erro para a política monetária, mas o que fazer alternativamente com as reservas internacionais, isso tem uso, existe um nível ótimo de reservas internacionais? Assunto para um próximo post, antes que o tango contagie o nosso samba!
Ivan Siqueira

20 de janeiro de 2014

50 - Aviso: o banco pode quebrar!

 (Ivan Siqueira)

Muita gente não crê que um imenso asteróide possa colidir com a Terra, e isso seria o fim de nosso planeta! E muita gente não crê, também,  que o sistema capitalista possa ruir, quando muito ele pode passar por crises sistêmicas, mas ser exterminado, jamais! Bem, devo dizer que não sou eu que penso assim, porque o grande problema está exatamente em crises sistêmicas, uma crise em que um elemento causador da crise se alastra por todo o sistema, por um processo de contágio, sem possibilidade de controle, uma espécie de metástase financeira! Mas, já aconteceu? Não, parece que não, mas bancos quebram, isso nós sabemos! Nos EUA, o quarto maior banco de lá, o Lehman Brothers, quebrou! Você acha que um banco brasileiro de porte, de primeira linha, pode quebrar? Pois saiba que, em todo episódio dessa natureza, bancos quebram sem nos avisar, sem nos mandar e-mail, é sempre assim! Mas, eu pergunto, será que era pra ser assim, será que o Banco Central não tem meios de avaliar com antecedência que aquele banco comercial ou de investimentos vai quebrar, antes de qualquer outro sinal?
Existe uma ciência que se chama Análise de Balanços, que permite avaliar e entender o perfil financeiro de uma empresa, se ela apresenta lucratividade, qual o índice de endividamento dessa empresa, qual a sua liquidez, ou seja, uma verdadeira radiografia financeira de uma empresa. Assim, também, existem modelos de avaliação financeira de bancos. Quero dizer que, quando um banco quebra, alguém deixou isso acontecer! É como uma criança diabética que morreu com elevada dose de açúcar no sangue! Mas, e o pai, não viu isso?

Existem pelo menos dois modelos de early warning, o modelo de regressão logística e o modelo de risco proporcional de Cox, esses dois modelos conseguem prever se um determinado banco vai sobreviver mais do que um determinado tempo no futuro, no caso do modelo de Cox, ele permite prever o tempo esperado para a quebra do banco.
Mas, quem usa isso? A técnica existe, é de eficiência comprovada, previu a quebra do Lehman Brothers, mas quem trabalha com isso aqui no Brasil? Quem pode nos informar? Ninguém sabe, ninguém viu! Assim, só nos resta esperar o asteroide, porque independente de nossas crenças baseadas no senso comum, os astrônomos informam que esse tipo de colisão pode, sim, acontecer! Deus que nos livre! Dos asteroides? Não, da fragilidade dos bancos e, pior, da ineficiência dos que deveriam cuidar de nós!

Ivan Siqueira

19 de janeiro de 2014

49 - Um exército de zumbis

 (Ivan Siqueira)

Imagine que alguém apresente  a você um cidadão qualquer, ele tem boa aparência, é saudável, mas ele tem o mais grave problema que alguém pode ter: ele é um desempregado! Suponha, ainda, que ele próprio fale com você da situação dele, ao ser apresentado a você, ele diz:  “muito prazer, sou um desempregado”!
Você, com toda a certeza, ficará sentido com a situação desse cidadão, conhecer na sua frente um desempregado! Suponho que você esteja empregado e não viva esse problema em sua pele!

Mas, vamos mudar o quadro. Agora você vê uma fila de pessoas que passam em sua frente, cerca de quinhentas pessoas, e, alguém ao seu lado, informa a você: - São desempregados! Imagino que você nunca viu na sua frente, como eu nunca vi,  uma fila de quinhentas pessoas desempregadas! E você foi avisado da situação dessas pessoas, que, a rigor, não podem nada, nem comprar um litro de leite! Você não é uma pessoa insensível, como eu não sou, e, vendo esta cena a nossa frente, vamos sentir pena dessas pessoas que não têm nenhuma renda porque não conseguem trabalho!
Não sei se você sabe, mas como economista posso esclarecer que, o que torna esse fato ainda mais triste, é que todo desempregado é uma pessoa que procura emprego, mas não o encontra! E, por que estou alertando para esse fato?  Porque existem muitas pessoas que não  têm um trabalho, mas. por alguma razão, não procuram emprego, e, assim, não fazem parte das estatísticas de desempregados, mas não estão trabalhando, algumas até cansaram de procurar emprego!
Agora, imagine uma cena dantesca, humilhante, apavorante! Você está em uma imensa planície de perder de vista, e vê a sua frente 7.400.000 ( sete milhões e quatrocentas mil)  pessoas que caminham lentamente juntas, com o mesmo tipo de dor e problema, e alguém informa a você:

- Você vê esse mundo imenso de gente, esse mar de gente a perder de vista?  Todas essas  pessoas estão desempregadas!

Bem, você não viveu nenhuma dessas três cenas, mas o IBGE acaba de informar que o Brasil tem 7 milhões e 400 mil desempregados! E, o que é o mais grave disso, é que o governo comemora, porque ele diz, a taxa de desemprego é baixa! São 7.400.000 pessoas vagando como zumbis e o governo comemora! Mas o mesmo IBGE informa em sua pesquisa de desemprego que, além desses 7 milhões de desempregados, existem ainda mais 61 milhões de brasileiros que não trabalham e não procuram uma ocupação, estes não fazem parte das estatísticas do desemprego, mas não trabalham.
E você, gosta desse governo?  

Ivan Siqueira

11 de janeiro de 2014

48 - A teoria do capital-trabalho

(Ivan Siqueira)

A teoria do capital-trabalho não existe, mas pode estar nascendo aqui! Num passado não muito distante, a esquerda e a direita se degladiaram, a primeira desejando exterminar o capitalismo, a outra o enaltecendo e mostrando que a vantagem do capitalismo é exatamente o valor do capital e sua mobilidade, o capital vai pra onde ele quer, cobra lucros e juros por seu valor, só tem vantagens!

Esses conceitos sobre esquerda, direita, socialismo, neoliberalismo, são conceitos ultrapassados, o que nos importa é descobrir um sistema que seja o melhor para todos, o nome, quem quiser que dê mais tarde. Em uma teoria que venho pensando como alternativa, a denominei de teoria do capital-trabalho, e,  a idéia é bem simples, é que, assim como o capital tem um valor e é remunerado pelo valor que tem, da mesma forma o trabalho deveria ter um valor e ser remunerado pelo valor que tem! Para o sistema capitalista vigente o  “lucro do capital” é algo legítimo e corresponde a renda do capital, assim, deveria também haver um “lucro do trabalho” que representasse a renda do trabalho! Mas, você pode estar aí se perguntando, e os salários? Os salários seriam extintos, coisa do passado, no novo sistema os salários seriam substituídos pelo “lucro do trabalho”, é como se os trabalhadores concordassem plenamente com o capitalismo, mas dissessem, nós também temos um capital a oferecer: nosso trabalho! Vamos fazer um capitalismo pra valer?
Mas, como seria estabelecido o valor do capital-trabalho? Cada trabalhador, seja ele um operário, um chefe de setor, um gerente de operações, ou qualquer outro nível que o funcionário tivesse em uma empresa, cada trabalhador teria um valor associado a ele, que indicaria o quanto ele vale, como acontecesse com os jogadores de futebol, só que a empresa não pagaria esse valor, o trabalhador seria como um empréstimo que a empresa faria, onde o valor do empréstimo fosse o valor daquele trabalhador, a quem a empresa remuneraria através de uma taxa percentual sobre o seu valor, exatamente como uma empresa remunera o capital dos sócios através da distribuição de dividendos, ou quando uma empresa precisa de recursos, vende debêntures e paga juros por esse empréstimo, ou como um banco que remunera a um investidor que compra um título dele como um CDB. Em todos esses exemplos que eu dei são uma empresa pegando empréstimos.  Assim, nesse sistema do capital-trabalho, o valor de um trabalhador seria também como um empréstimo feito pela empresa, ao qual ela pagaria mensalmente por uma espécie de taxa de juros. Nada mais justo do que ser justo, pela primeira vez o capitalismo seria capitalismo mesmo, com dois tipos de capital: capital-capital e capital-trabalho!

O valor de cada trabalhador seria um valor individual, assim, um operário poderia valer, por exemplo, R$100.000,00, mas um outro operário poderia valer R$130.000,00 ou apenas R$85.000,00, isso vai depender da produtividade do trabalho de cada um.
 Suponha uma empresa com um capital-capital no valor de R$140 milhões e capital-trabalho no valor de R$60 milhões, ao final do exercício o lucro líquido seria distribuído  em dividendos para os dois grupos baseado em proporções criteriosas, a ser discutido mais a frente.  Não pense, internauta, que isso é o mesmo que “participação nos lucros”, esse sistema que algumas empresas já adotam, não é, é diferente porque o trabalhador teria um valor imputado a ele, e assim, o conjunto da força de trabalho de uma empresa representaria um capital que a empresa teria investido em trabalho, a que deveria remunerar. É como se a empresa fizesse dois investimentos, um em capital fixo, máquinas, equipamentos, instalações, e e outro em capital trabalho, ou seja , na “compra” de seus funcionários.  Só que, a empresa não pagou efetivamente ao trabalhador por esse valor do trabalhador, não desembolsou esse dinheiro. E, como a empresa pagaria essa “compra” ? Pagaria com base em uma TJT(taxa de juros do trabalho), uma espécie de taxa de juros que daria a remuneração mensal a cada trabalhador da empresa, com base em seu valor. É como se o trabalhador fosse um empréstimo feito pela empresa, um título que rende juros, e como todo título tem um valor nominal o trabalhador também teria! E como todo título pode perder valor, o trabalhador também poderia ver seu valor diminuído, quando a TJT se elevasse. Vamos explicar melhor esse mecanismo. Todas as vezes que a taxa de juros aumenta, o valor dos títulos no mercado diminui, da mesma forma, no caso da TJT se ela se elevasse, significa que o trabalhador estaria recebendo uma maior remuneração pelo seu trabalho, mas em compensação, seu valor de mercado cairia! Cara, se é pra ser capitalismo, é pra ser capitalismo total! Nada de salário mínimo, cada trabalhador teria um valor, com base em sua produtividade, se a empresa deseja mais produtividade, que pague mais por outro trabalhador que dê essa produtividade! Mas esse trabalhador seria mais bem remunerado mensalmente, claro, ele produz mais, e a TJT seria uma função dessa produtividade!

E o que determinaria o valor de um trabalhador? O mesmo que determina o valor de qualquer outro investimento: o mercado! O que determina o valor do dólar? A disputa entre oferta e procura de dólares no mercado. O que determina o valor do barril de petróleo? A quantidade de barris que são ofertados e demandados pelo mercado. Assim, também, seria determinado o valor do trabalho. E, assim como as ações de uma empresa dão ganhos de capital quando se valorizam na bolsa de valores, a valorização da força de trabalho de uma empresa também daria ganhos de capital a empresa, ou seja , ela possui trabalhadores valorizados, que, por consequência, apresentam produtividade valorizadas pelo mercado. Por ter trabalhadores valorizados, produtivos, ela remuneraria ao trabalho proporcional a essa boa produtividade. Mas ela também venderia para outras empresas esses trabalhadores, bons trabalhadores ela venderia por bons preços, enquanto trabalhadores improdutivos ganhariam menos, mas também “valeriam” menos! Quem é que gostaria de ser improdutivo?
E o que determinaria o valor do “lucro do trabalho”, ou seja, o valor da remuneração de cada trabalhador? Seria a TJT(taxa de juros do trabalho), ou seja , aquilo que a empresa efetivamente produziu, quedas na produção, sabemos todos, diminuem o “lucro do capital”, e diminuiriam também o “lucro do trabalho”, mas ganhos de produtividade elevariam os ganhos dos dois, capital e trabalho! Um sistema perfeito, pela primeira vez trabalhadores iriam mostrar o que é trabalhar, ia ser um tal de gente desejando trabalhar sábado, domingo, feriado, trabalhar em dois turnos, os capitalistas iriam vibrar, e os trabalhadores mais ainda, e dizendo: - deixa comigo!

Nesse sistema que proponho, o do capital-trabalho, só não vale é dizer que capitalismo é coisa ruim! Como ruim, se quando uns vão bem, todos vão bem!  Manisfestações de rua? Haveriam sim, milhares de trabalhadores com suas tabuletas em punhos, e gritando, VIVA O CAPITALISMO!
Assim, até eu viro operário, com muito orgulho! Mas, por enquanto, o orgulho é  apenas de apresentar essas ideias, a da teoria do  capital-trabalho, na verdade, o que estou propondo é um novo sistema macroeconômico, mas, não faço mais do que minha obrigação! Chega de keynesianismo e suas crises eternas produzidas por bancos centrais que não funcionam! Cumpre esclarecer que meu sistema, o do capital-trabalho, está muito mais desenvolvido do que essas simples ideias aqui apresentadas ao mundo.  E eu, a disposição para levarmos essa discussão adiante. Vem mais aqui no Economeditando.

Ivan Siqueira

23 de dezembro de 2013

47 - Desemprego: como sair disso?

A todo tempo existe um conjunto de trabalhadores disponíveis ao trabalho, isso é a população economicamente ativa(PEA).  Mas nem sempre todos estão empregados, os que estão desempregados, mas gostariam de estar trabalhando, compõem o desemprego involuntário, que é a categoria de desemprego que interessa, porque outros podem estar desempregados voluntariamente, ou porque estão mudando de emprego, ou não aceitam ganhar o salário que está sendo oferecido, etc. O fato é que desemprego é o involuntário. Mas aí vem a pergunta que não quer calar: por que existe desemprego involuntário? Uma coisa é certa, é que as empresas não estão desejando(ou podendo) empregar essa gente! Quero entender por quê!

A questão pode ser enxergada por dois pontos de vista, o clássico e o keynesiano, eles não se entendem!
Os economistas clássicos entendem que não pode existir desemprego involuntário, e garantem que nem existirá, mas impõe uma condição, a de que os salários nominais sejam flexíveis para baixo, ou seja, se os trabalhadores que estão empregados aceitassem ver reduzidos seus salários, de modo a que os trabalhadores que estão fora do mercado de trabalho possam ser inseridos, todo mundo que deseja trabalhar estaria trabalhando! Vou dar um exemplo que até pode ser grosseiro, mas mostra o efeito. Suponha que uma fábrica empregue 100 trabalhadores, mas que existam mais 10 trabalhadores desejando emprego, se os 100 trabalhadores aceitassem uma redução do salário de 10%, os trabalhadores que estão de fora estariam empregados, e, portanto, não haveria desemprego! Aí, vem um sindicato e diz, não aceitamos essa redução de salário! Tá bem, então permanecemos com o desemprego!

Em 1929 vem a Grande Depressão, e a taxa de desempregados vai a 20%, é como se a PEA fosse de 125 pessoas, e houvessem 100 trabalhadores na fábrica e 25 procurando emprego(25/125=20%), um caos! Keynes escreve sua teoria em 1936 e, aparentemente, discorda do ponto de vista clássico, ele diz que há uma rigidez de salários nominais para baixo, e assim não existirá pleno emprego(lembre-se de que os clássicos diziam que a economia sempre estaria em pleno emprego, porque “a oferta cria sua própria procura”). E a crise de 1929? Assim, Keynes detonou a teoria clássica mostrando que as empresas não propõem a baixa dos salários porque enfrentariam a guerra dos sindicatos, então,  simplesmente, demitem! Ou seja, a economia opera com rigidez de salários nominais!
Os clássicos não se consideram derrotados porque eles colocaram a questão, e foram claros, existe essa condição, se aceitarem salários flexíveis para baixo todo mundo estará empregado!  Todo trabalhador que está lendo esse meu texto nesse momento, deve estar pensando, Ivan, não mexe com esse vespeiro não, já estou ganhando pouco, ainda vou ter que colaborar com quem está desempregado!  rs rs

Aí, sempre vem alguém pra propor, porque não empregam os que estão de fora e as empresas que aceitem terem seus lucros reduzidos, ao invés de propor redução de salários? Bem, aí, cai no campo do emocional, do povo triste e sofrido, que, com toda a razão não precisa acertar no que diz, mas uma redução de lucros não tem a capacidade de aumentar o nível de emprego, porque salários são gastos, se transformam em demanda efetiva, mas e os lucros, o que é feito com eles? Se você está ai pensando, “são gastos também”, Kalecki pensa diferente, “os trabalhadores gastam o que ganham, os capitalistas ganham o que gastam”. Se isso faz diferença? Imensa, total, e desestabilizante!  Nós chegamos lá!
Ivan Siqueira  

21 de dezembro de 2013

46 - Feudalismo: um quase capitalismo!


(antes leia o post 45)

Se vou falar de Idade Média? Vou sim. Mas, isso é coisa do passado, ninguém quer mais saber disso! Até pode ser, mas eu quero, porque no feudalismo estão muitas explicações para os acontecimentos de nossos dias! Por outro lado, o poder sempre usou de uma mesma estratégia: você me dá aquilo que eu te dou isso!
A escravidão não era ainda capitalismo, e a escravidão não deu certo, falei  disso no post 45. Chega a Idade Média e com ela o surgimento dos feudos. O feudo era um pedaço de terra que um senhor do feudo permitia que um servo arrendasse e explorasse, vitaliciamente, e isso era mesmo a garantia do servo, era vitalício mesmo! Se a terra era vendida, o servo e sua família iam juntos! E quem era o “senhor do feudo”, o proprietário? Não, o “senhor do feudo” também era um arrendatário de um outro senhor do feudo, que também, por sua vez, era arrendatário de outro senhor do feudo, uma cadeia, até chegar no proprietário, quase sempre a Igreja, e em menor escala, outros titulares da nobreza.

Qual era a “graça” do sistema feudal? Era, exatamente, o que se vê até os dias de hoje, o “eu te dou aquilo e você me dá isso!” O senhor do feudo dava proteção ao servo, proteção contra um sistema sanguinário, o inimigo vinha de cavalo, invadia a aldeia e com aquelas espadas de quase dois metros cortava a cabeça do aldeão e de sua família, e para “limpar” tudo, colocava fogo na aldeia! É só assistir ao filme “Príncipe Valente” com o Mel Gibson, ou outros do gênero!
Em troca dessa proteção do “Estado”(o “Estado” era o senhor do feudo, porque na Idade Média não havia um poder centralizador), o servo pagava ao senhor com dinheiro ou alimentos, além de que tinha que arar as terras do senhor antes de arar as terras do seu próprio feudo! O Brasil acaba de comprar aviões caças da Suécia, e também vai dar proteção aos seus cidadãos, claro, esperando que os cidadãos paguem seus impostos! O feudo só cresceu e mudou de nome, mas é sempre um “me dá aquilo que eu te dou isso!”

Mas, então, parece que o servo era um escravo! Não, o servo não era vendido individualmente, quem eram vendidas eram as terras, e o servo ia junto! Mas o que quer dizer a palavra servo? Vem do latim, “servus”, e quer dizer “escravo”.  Mas, existe uma grande diferença entre o sistema feudal e a escravidão, aquele, apesar de ser uma economia da oferta(produção) ainda que pré-capitalista, mas o servo gerava renda para si e sua família, e renda volta ao mercado para comprar outras coisas, ou seja, já permitia uma economia da demanda ainda que rudimentar! Você, internauta, vê a importância disso, o sistema capitalista já estava no útero, e desejava aflorar! Mas um sistema econômico necessita de um poder por trás e de uma ideologia que o garanta, é sempre uma ideologia que “consagra” as intenções de um poder. Só que haviam senhores eclesiásticos e senhores seculares(esses não eram da Igreja, eram duques, barões, etc,  e tinham interesses próprios!) Mas todos concluiram que uma diretriz mais forte deveria representar a todos. Foi aí que os senhores feudais se uniram para  criar a ética paternalista cristã.  Você já viu o que viria pela frente, vão dizer, e “provar”,  que Deus está de acordo com tudo!  
É isso, bem que dizem que se correr o bicho pega, se ficar o bicho come! Mas os caras deram com os burros n’água, porque a ética paternalista cristã era uma espécie de legitimação moral que o sistema feudal precisava, mas gerou uma contradição com o desenvolvimento do capitalismo que desejava sair do útero, e aí, criou-se o impasse! Como sair disso?

Ivan Siqueira

19 de dezembro de 2013

45 - Escravidão: que fiasco!

O sistema capitalista vive se adaptando, procurando o que é o melhor para ele, mas necessáriamente o que é o melhor para ele não é o melhor para o capitalista! O termo “exploração do trabalho” conduz a uma análise totalmente equivocada, quanto mais o capital explorar o trabalho, mais o capital estará cavando sua própria sepultura! Aí o cara diz assim, ah! então eu tinha entendido errado, pela visão marxista, eu achava que explorar o trabalho é o máximo para o capitalista!

Prestenção! Isso só pode ser claramente esclarecido a partir do entendimento sobre a demanda efetiva, com Keynes ou com Kalecki. Senão, vejamos. Pode existir uma forma de exploração mais perfeita, mas totalizante, do que a escravidão? Se explorar o trabalho fosse um “bom negócio”, a escravidão  seria um sucesso, mas foi um fiasco! Em Roma e na Grécia Antiga, cerca de 80% da população era formada por escravos. E esse sistema econômico, produzir usando o trabalho escravo, permitia ao senhor de escravos, apropriar-se de todo o excedente produzido pelo escravo, lembrando que o escravo só recebia apenas alimentação e vestuário para sobreviver.  Essa ideologia de vida parecia tão natural aos olhos de todos que até Platão e Aristóteles achavam que certos homens nasciam pra ser escravos, e que outros mais dotados intelectualmente vieram pra ser donos de escravos! Veja você!

Qual a conclusão? Os donos de escravos viviam cercados de luxos, possuíam mansões, exploravam sexualmente as escravas, mas não tinham o principal: não geravam renda para alguma classe que pudesse demandar os produtos deles! Era uma economia que não criava demanda efetiva! Deu em que? Total estagnação da economia antiga, o que fez o Império Romano entrar em declínio vertiginoso como um aviãozinho de papel!
Ah! Então explorar o trabalho em maior ou menor grau vai dar nisso! Mas, ninguém sabia sobre demanda efetiva, Keynes(e Kalecki) só deram as caras no século XX, na década de 30, e aí, sem esse tipo de análise, o que os caras fizeram depois do fiasco da escravidão?  Inventaram o feudalismo.  

Ivan Siqueira

18 de dezembro de 2013

44 - Quando "O Capital" foi publicado em português

Aqui no Economeditando devo me perguntar e responder a questões, nem sempre as perguntas serão as melhores, apenas faço um esforço para fazer boas perguntas, e, quanto as respostas, nem sempre serão as mais acertadas ou definitivas, porque a evolução faz parte da dialética! Já que assim é, nada melhor do que fazer logo a pergunta: - Ivan, você é um  marxista? E vamos logo à resposta: - De maneira nenhuma, se eu fosse um marxista significaria acreditar que o marxismo é a solução para os problemas que a vida nos impõe, mas o marxismo não tem essa solução! Mas, aqui vamos debater exaustivamente o marxismo, porque o conteúdo desse corpo de filosofia, economia e história, tem muita coisa que interessa ao mundo!

Estão aqui na minha frente, ao lado do meu notebook,  os livros da obra “O Capital”, de Karl Max.  Essa obra foi escrita e publicada no seu original em 1867, a 1ª edição, e possui 3 livros.  A edição que eu tenho, foi publicada em português pela Editora Civilização Brasileira, e os 3 livros se transformaram em 6 volumes, que contém os 3 livros da obra. Na orelha do Volume 1 existe esse texto:
“Com este volume inicia-se, pela primeira vez, a publicação integral, em língua portuguesa, de O Capital, de Karl Max. É empreendimento de inegável significação histórica em nosso País”.
O ano  da publicação em português é 1971, mas existe uma anotação minha em caneta azul, que contém minha assinatura e uma data,  “Niterói, 24/11/73”, muito provavelmente a data da minha compra dessa obra, é certo que comprei os 6 volumes no mesmo dia. Foi uma grande sorte, ter comprado essa que é a primeira edição em português do “O Capital”. E , 1973 é o ano de minha formatura, o que significa dizer, não estudei “O Capital” na universidade, mas o estudei exaustivamente durante a vida! É baseado nessa publicação que pretendo trazer abordagens a esta obra magistral. Abordagens podem ser acolhidas, simples reflexões e críticas, mas sobre isso, veja o que o próprio Karl Marx  diz ao final do prefácio da 1ª edição:
“Acolherei, com a maior satisfação, as manifestações da crítica científica. E quanto aos preconceitos da chamada opinião pública, torno minha agora como dantes, a máxima do grande Florentino:
          Segui il tuo corso, e lascia dir le genti!
         (Segue teu rumo e não te importes com o que os outros digam!)
                           Londres, 25 de julho de 1867.
                                               Karl Marx
Ivan Siqueira
 
 

17 de dezembro de 2013

43 - Quando o capital e o trabalho se tornaram amigos

Ainda nem comecei a escrever esse post, mas já sei que ele vai ser diferente dos anteriores, porque não vai seguir o que me ensinaram na escola, afinal eu já estou crescidinho, e aprendi a me safar do maior mal que assola a humanidade: ideologias!

É preciso saber aproveitar o que uma ideia tenha de conteúdo científico, não venham me dizer que o marxismo é coisa do passado, as verdades que ali repousam precisam compor a teoria econômica moderna, e o lixo que lá também se encontra, precisa ser varrido, no mundo das ideias não existe Super Man, existem apenas ideias acertadas ou não! A teoria macroeconômica de John M. Keynes , que tem elementos formidáveis, está incompleta se não se aliar ao pensamento de Karl Marx. Você pirou, Ivan, um é defensor do capitalismo, o outro fez tudo pra mostrar que o capitalismo é o pior dos sistemas econômicos, arranca a mais-valia do valor do trabalho, explora os trabalhadores!  Vamos ver essas coisas, mas vamos colocar um óculos contra miopia!
Marx dividia o mundo entre trabalhadores e capitalistas, segundo o pensamento dele é dessa luta de classes que a vida econômica se arranjava. Keynes chegou em 1936 e fez vista grossa, ou seja, não considerou essas classes em sua teoria, mas que haviam quatro classes: a de investidores, consumidores, governo e resto do mundo, assim, o baile se dava entre esses! E, ainda por fora, a moeda, que organizava o baile! Foi assim que ele formou sua teoria macroeconômica da demanda efetiva, o que acontece nos bastidores entre trabalhadores e capitalistas era figuração, segundo plano, que não importava a ele, nem afetava sua teoria! Será que dá pra aceitar isso, caro internauta?

À mesma época que Keynes publicou suas ideias, um economista polonês, Michal Kalecki, publicou  uma teoria absolutamente coerente com a teria keynesiana, e está mais do que comprovado que as duas teorias foram feitas independentes uma da outra, ninguém copiou ninguém. Assim, a teoria kaleckiana também é uma teoria da demanda efetiva, como a de Keynes, há até quem diga que são teorias iguais, mas no mundo de Kalecki tudo acontece entre trabalhadores e capitalistas! Cara, isso é fantástico, isso é o que a vida precisava, porque você pode enxergar as atividades de um banco central e como elas afetam, prejudicam , ou dão ganho a essas duas classes, ou a uma delas em detrimento da outra! Você deve estar aí se perguntando, quem fez isso, onde eu leio sobre isso? Calma aí, você está lendo!  Até eu preciso de calma, porque não posso queimar etapas!
Na verdade, Kalecki publicou(1933) antes de Keynes(1936). Se você, caro internauta, vem lendo meus posts, já viu que tudo era uma consequência da teoria clássica marginalista estar dando errada no mundo, e isso desembocou na crise de 1929. Mas antes, em 1926, um economista italiano, Piero Sraffa, já havia escrito um artigo onde demonstrava claramente que a base do marginalismo, o mercado de concorrência perfeita, não se aplicava ao mercado real. Isso batia perfeitamente com uma ideia de Marx de que a concentração do capital tinha origem nas economias de escala das empresas, ou seja, as empresas tendiam para um “gigantismo” através da concorrência monopolística. Como é que é? Repete isso! Sim, na concorrência perfeita, aquele mundo onde tudo corre perfeitamente bem, não é possível acumular capital, nem crescimento!  Caramba, quer dizer que se falava mal do que era a solução? Mais ou menos isso! Sraffa não era um marxista, sua teoria apenas demonstrou que Marx estava certo, a concentração de capital depende da concorrência imperfeita!

Nesse estado de coisas foi que Keynes entrou de sola, demoliu o marginalismo, mas não pela via marxista, mas sim, criando uma sociedade de quatro classes, a razão da economia era produzir bens de consumo para a classe de consumidores, e para isso a classe das empresas investiam, por outro lado, a classe governo arrecada impostos e efetua gastos públicos, e finalmente uma outra classe, o resto do mundo, mantém relações internacionais com a economia doméstica, através dos fluxos de compras e vendas de bens e serviços externos, e do fluxo de rendas financeiras e capitais que se alocam daqui pra lá e de lá pra cá. Esse é o mundo keynesiano, e o mundo que está em todos os manuais de macroeconomia adotados nas universidades. Vai se conformar com isso?
Em 1929, no ano da crise, Michal Kalecki trabalhava em Varsóvia. Em 1933 publicou sua teoria e a apresentou numa conferencia internacional, e em 1935 voltou a publica-la em uma revista. Sua teoria mostrava que a atividade econômica depende do gasto dos trabalhadores, e que os capitalistas não têm lucro porque produzem, mas produzem o lucro mesmo antes deles existirem, no ato do investimento, ele dizia “os trabalhadores gastam o que ganham, os capitalistas ganham o que gastam”.

Hoje, já dá para propor uma outra visão, a de que “os trabalhadores gastam, porque os capitalistas ganham, e os capitalistas só ganham porque os trabalhadores gastam!” Mas, isso parece ser keynesiano, ou não? No mundo de Keynes não existem essas classes! Como ele foi deixar de fora isso? No mundo de Keynes é a política fiscal e a política monetária que comandam a vida. Mas que tal um mundo perfeito onde a política salarial e a política de lucros fossem a orientação? Como assim, dar ganhos às duas classes ao mesmo tempo? Desculpe, Marx diz que isso não é possível, o capital existe para explorar o trabalho. Calma aí, companheiro, precisamos conversar, e ajustar o passado ao que o presente já possibilita, não veja Marx como um dragão, o cara tem coisas fenomenais, vamos usar isso, e mostrar o que não funciona na teoria dele.  Se fosse pra rezar, vamos pra uma igreja, lá recebemos tudo o que precisamos através da fé,  aqui é Economeditando, uma seleção de ideias.  
Assim, vou destilar uma teia parecida com a do Homem-Aranha, onde o que há de excelente em Marx se encontra com Keynes e Kalecki, vamos perder essa mania de falar mal de todo mundo, todos têm a oferecer! E os trabalhadores? Os trabalhadores só ganham com isso, o dia em que o capital e o trabalho se tornaram amigos! Pode isso? Pergunte ao trabalho se ele deseja ser o capital, e aguarde a resposta, pode ser surpreendente! Kalecki morreu em 1970, mas pensou o bastante para que o mundo fosse muito diferente do que o que temos! O assunto está só começando!

Ivan Siqueira

15 de dezembro de 2013

42 - Um mundo sem inflação

Os economistas têm como função oferecer a sociedade um mundo com um bom nível de produção, sem desemprego, ou, menor desemprego possível, e sem inflação, ou, menor nível de inflação possível. Mas, são tarefas difíceis!

Nas artes tudo é mais fácil, como é diferente, a arte da ciência! Conta-se que um economista gostava de uma música, a “Cavatina”(Stanley Mayers), mas um economista não tem o poder de explicar por que uma determinada música possa ser considerada bonita! Talvez que, uma música bonita seja o “Show das Poderosas”(Anita), nunca se sabe o que quer dizer “música bonita”!
Em economia é diferente, não depende de juízo de valor, vou contar uma estória que mostra isso.

Conta-se que um governo desafiou a todos os economistas do mundo a explicar se poderia existir um mundo sem inflação, mas se alguém tivesse essa explicação, que explicasse isso no menor tempo possível, ganharia o concurso quem desse a explicação no menor tempo. Estava lançado o desafio, e os economistas foram lá tentar a prova e ganhar o concurso.
O combinado é que o público entendesse qual a condição para que houvesse um mundo sem inflação. O primeiro economista inscrito explicou sua teoria em 4 minutos. Em seguida, um outro economista deu uma outra explicação, e levou apenas 1 minuto para fazer o público entender sua teoria. Aí , apareceu um economista gozador, ele gastou apenas 18 segundos, e disse que bastava que as pessoas não tivessem renda, assim não haveria inflação! Aí, uma pessoa do público contestou: “mas, sem renda as pessoas morrem, né!”. Está claro que aquele economista apareceu ali apenas para tumultuar o ambiente! O concurso prosseguiu, e um outro economista deu uma boa explicação e gastou apenas 12 segundos, ele era o mais indicado ao prêmio. Foi quando  o último economista da lista de inscritos, se apresentou e disse para o público:

- Contem até 3, antes que terminem a contagem eu já explico a condição para a existência de um mundo sem inflação!
O público imediatamente começou a contagem, todos juntos:
1 ... 2...
E o economista disse:

- Um mundo sem moeda! 
Nem deu tempo do público contar o 3. O silêncio foi geral... todos meditavam sobre o que o economista disse!

É que já existiu um mundo sem moeda, e não havia inflação nesse mundo, mas a divisão do trabalho trouxe a moeda em seu rastro, e com ela a inflação.
As pessoas ali naquela praça quiseram saber qual era o grande ensinamento disso, e o economista explicou:

- A inflação é, em todos os tempos, um fenômeno monetário!
O economista ganhou o concurso. Mas, aproveitou e esclareceu: “Quanto ao que seja uma música bonita, nós os economistas não temos uma explicação, vai depender de você, mas ouça a “Cavatina”, quem sabe  você goste!”

Ivan Siqueira

12 de dezembro de 2013

41 - Para que servem os bancos - Parte I

 Não se sabe exatamente quando os bancos surgem no cenário econômico, mas sabe-se que já se concediam empréstimos e trocavam-se moeda estrangeira na antiga Babilônia e na Roma Antiga. Mas, como isso não é a principal atividade bancária, somente na Itália renascentista é que os bancos surgiram recebendo depósitos à vista e a prazo, ou seja, já vendiam algum tipo de CDB por lá! O banqueiro sentava-se atrás de uma mesa, ou banca, e se ele não honrava seus compromissos de pagar aos seus credores, estes quebravam a banca, isso originou a expressão “quebra de um banco”. Naquela época não tinha um banco central para socorrer o banqueiro, essa moleza de hoje em dia!

Os bancos se desenvolveram quando os banqueiros perceberam que poderiam emprestar parte das moedas que eram depositadas nesses bancos, já que nem todos os depositantes apareciam ao mesmo tempo para pegar o dinheiro de volta. O passo seguinte foi dar ao depositante um recibo do que ele tinha no banco, e esse recebido os depositantes poderiam passar adiante, e isso deu origem as notas de papel moeda.

Nos Estados Unidos o primeiro banco é de 1782, é o Bank of North America, a partir daí a atividade bancária deslanchou, mas somente em 1837 é que surgiram os bancos livres, onde todo aquele que atendesse alguns poucos critérios poderia organizar um banco, e aceitar depósitos, entregar cheques, e emitir notas bancárias, que eram uma espécie de recibo que garantia os depósitos. Mas esse sistema “deu pano pra manga”, como gostava de dizer minha saudosa avó, deu muita confusão, havia falsificação de notas bancárias, notas de bancos que não existiam, além do que, os próprios bancos dificultavam a que os portadores dessas notas resgatassem os depósitos, tinha banco que se localizava em lugar de difícil acesso, e o cara que tinha uma nota bancária ficava com preguiça de ir lá resgatar o depósito, e isso fez desvalorizar o valor das notas bancárias que passaram a circular com valor abaixo do  valor nominal delas. Você está entendendo que essas notas bancárias eram um embriãozinho de um CDB, ou seja um título que garantia um depósito!

Aí, vem a Guerra Civil, e a necessidade é que os bancos funcionassem como um mercado para os títulos do governo, o  governo precisava vender títulos para financiar a Guerra Civil, e aí foi criado um sistema bancário nacional, com bancos nacionais e onde as notas bancárias foram padronizadas e regulamentadas, para cada 9 dólares de notas bancárias emitidas o banco tinha que depositar 10 dólares de títulos do governo na autoridade que controlava o sistema monetário. Acabaram com a farra das notas bancárias! E veja que isso, para usar um termo moderno, é uma reserva compulsória pesada, ou seja, a prova de que o dinheiro estava lá para garantir o depósito, e melhor ainda, o dinheiro estava servindo a atividade governamental, uma vez que fora investido em títulos públicos! Quanta diferença dos dias de hoje!

A qualquer momento vou seguir com esse tema – Para que servem os bancos - vem muita coisa de estarrecer, ou eu não me chamo Ivan!

Ivan Siqueira

26 de novembro de 2013

40 - A forma sutil do governo fazer o mal

Sempre fiquei surpreso de ver as pessoas preocupadas com a corrupção que permeia a atividade pública, mas não se tocarem que existem coisas piores e de muito mais vulto do que a corrupção, uma forma sutil do próprio governo fazer o mal e legitimamente!

Podem, as atitudes e medidas do governo afetarem os investimentos produtivos que as empresas desejam realizar? Se isso existe, o governo seria um inimigo do PIB!!
A princípio, nossa maior vontade de resposta seria, podem sim, quando o governo aumenta impostos. Mas não é disso que vamos tratar aqui, mas de uma forma sutil do governo promover o mal da economia: o crowding out.

Suponha uma economia onde o orçamento fiscal esteja equilibrado, o governo realiza gastos(gastos do governo) na medida exata do que arrecada de impostos(tributos), os impostos são a receita fiscal, os gastos do governo são a despesa fiscal. Assim, a situação dessa economia seria, G – T = 0 em determinado período, digamos, no ano anterior.
Agora, suponha que no exercício seguinte os gastos do governo(G) sejam maiores do que os impostos arrecadados pelo governo(T), o governo passou a ter um déficit orçamentário. Como o governo faz para financiar um déficit orçamentário? Ele tem duas soluções , ou emite moeda, ou emite títulos, e vende esses títulos ao público, quase sempre ao setor empresas. Mas entre decidir sobre ter moeda ou títulos públicos, a escolha recai sobre títulos que pagam juros. O que são moeda e títulos públicos? Ambos são uma dívida do setor governo com o público(leia-se empresas). Mas, quais as remunerações dessa dívida, afinal quem deve a alguém remunera ao credor com alguma coisa? Claro. Títulos públicos oferecem juros a quem os detém, enquanto moeda oferece inflação. Mas inflação não é remuneração, diríamos todos! Nem juros são remuneração, apenas juros reais o são, ou seja aqueles acima da inflação. Pois então, existe inflação e existe também inflação real, aumentos de preço acima do aumento médio de preços, isto é, inflação além da inflação!

O que ocorre quando o governo tem um déficit orçamentário, ou seja, quando o governo gasta mais do que arrecada de impostos? Se ele financia esse déficit com emissão monetária, vai aumentar a procura por moeda da economia, porque o PIB foi elevado com os gastos do governo, assim, eleva-se a demanda por moeda por transações, Keynes mostrou isso muito bem, e esse aumento da demanda por moeda vai se compor com a oferta monetária. Mas se o financiamento do déficit orçamentário for pela via da emissão de títulos, o governo tem que oferecer taxas maiores de juros para que o setor empresa se interesse pelos títulos públicos, e com o aumento das taxas de juros os empréstimos para as empresas ficam mais caros e isso faz cair o nível de investimentos produtivos em máquinas, equipamentos, estradas, etc, mas como os juros estão atrativos as empresas compram os títulos públicos, em detrimento de seus investimentos produtivos, é isso o crowding out, é o governo desviando dinheiro da atividade produtiva, dinheiro que poderia ir para investimentos produtivos,  e isso faz a economia encolher!

Se isso existe na verdade? A toda hora , em todos os tempos, e nos melhores governos, aqui e lá no resto do mundo! Quando isso vai acabar? Quando o governo tiver que oferecer algo em garantia dessa farra financeira, por exemplo, ouro, como era no antigo padrão-ouro, ou oferecer emprego, como seria num padrão-emprego, onde o lastro fosse criar emprego como condição de emitir títulos públicos, aí a atividade do governo estaria a serviço da atividade produtiva. Qual a condição para que isso aconteça?  Quando os bancos centrais tiverem que prestar contas a nação e mostrar através de indicadores que suas ações resultam em melhoria da atividade produtiva e do emprego.  Quando vamos ver isso? Quando as pessoas acreditarem que idéias são o que movem o mundo embaixo do Sol!

Ivan Siqueira

 

13 de novembro de 2013

38 - Como é medido o dinheiro

(Ivan Siqueira)



O dinheiro são os meios de pagamento, se tudo pudesse ser pago com batatas, batatas fariam parte do dinheiro, mas não fazem parte, ninguém aceita batatas como meio de pagamento. Os economistas não gostam do termo dinheiro, preferem o termo moeda.

Bem, se batatas não são moeda, o que é moeda? O banco central emite moeda(notas e moedas metálicas), a isto chama-se papel moeda emitido(PME), mas uma parte desse volume de moeda fica no caixa do banco central, não está em circulação, assim, o papel moeda em circulação, é o resultado do papel moeda emitido(PME) menos o caixa do banco central(CBC).

Ocorre que desse papel moeda em circulação(PMC) uma parte dele está no caixa dos bancos comerciais(CBCO), assim, apenas a diferença é o papel moeda em poder do público(PMPP).

Mas, além do PMPP, existe dinheiro em depósitos à vista nos bancos comerciais(DVBCO), e esse somatório é que são os meios de pagamento. Meios de pagamento(MP) são a soma de papel moeda em poder do público(PMPP) mais depósitos à vista nos bancos comerciais(DVBCO). Os economistas dão nomes a cada uma dessas partes, PMPP é chamada de moeda manual, e DVBCO é chamado de moeda escritural.

Quem tem o poder de criar moeda? O banco central tem o poder de criar PMPP, enquanto os bancos comerciais têm o poder de criar depósitos à vista(DVBCO), são essas duas instituições os criadores de moeda! Os bancos comerciais criam moeda fazendo empréstimos baseado no fato de que os depósitos à vista não são todos sacados pelos clientes ao mesmo tempo, e isso permite emprestar parte dos depósitos à vista, ao realizar um empréstimo é criado um novo depósito à vista, e isso é criação de moeda!

Os bancos comerciais fazem seus balanços patrimoniais. Quando realizam um novo empréstimo, exemplo, $1.000,  lançam um depósito no seu passivo no valor de $1.000, e lançam no ativo um empréstimo no valor de $1.000.  O que é essa contabilização? No passivo o depósito é a dívida que o banco tem com seus clientes, enquanto no ativo, o empréstimo é o direito que o banco tem com seus clientes. Com essa operação criaram moeda! É assim que é medido o dinheiro!

Aliás, existem propostas de que o PMPP deveria ser  criado também pelos bancos comerciais. Atualmente, apenas o banco central pode emitir moeda, mas o economista Friedrich A. Hayek, Premio Nobel de Economia de 1974,  escreveu um livro em 1976, “Desestatização do Dinheiro”, onde propõe que os bancos comerciais poderiam também emitir suas próprias moedas.  Assim, aqui no Brasil não teríamos apenas o R$, mas também o ITA$, o SANT$, o BAN$, e outras moedas. Bem, as siglas são apenas uma criação didática aqui do Economeditando, mas o assunto é sério.  Quais as moedas que seriam usadas pela economia? É o mesmo que perguntar, quais os carros que são usados pelas pessoas, qual o sabão em pó é usado pelas pessoas... ? A ideia é a de que a moeda é um produto como qualquer outro e que seria melhor se administrada pela atividade privada, sem o monopólio estatal. Mas, não vamos embarcar nessa sem antes muito economeditar aqui.  Estudo essa questão desde 1978, a edição do livro do Hayek que eu tenho a  comprei  em 1978. Hayek aborda temas muito interessantes, por exemplo, no capítulo VI do livro, ele fala sobre a lei de Gresham, que diz que o dinheiro ruim tira de circulação o dinheiro bom, Hayek considera um equívoco achar que isso torna necessário um monopólio governamental do dinheiro, ele diz, “se fosse esse o caso, a lei de Gresham de fato se verificaria sempre que qualquer produtor fornecesse produtos inferiores...” Bem, não estou defendendo a ideia de Hayek,  é que o Economeditando pretende ser livre de direcionamentos ideológicos, pretendemos aqui discutir ideias, quaisquer que sejam elas...  Vamos dedicar um post apenas  a moeda privada, quem sabe isso seja uma grande ideia? Ou não?

Ivan Siqueira
 



 

37 - Expectativas movem montanhas


(Ivan Siqueira)

As coisas mais simples da economia, não são tão simples! A todo momento existe uma oferta de dinheiro na economia, e ao mesmo tempo uma procura por dinheiro. Os economista preferem chamar o dinheiro de moeda, mas não apenas a moeda metálica, mas o dinheiro em sua totalidade. Mas, o que é o dinheiro? Uma nota de papel? Moedas? Não, dinheiro pode ser tudo o que cumpra três funções: ser um meio de troca, uma unidade de conta e uma reserva de valor.  Assim, toda economia corre um risco, o de ver alguma coisa assumir esse papel, e cumprir essas funções no lugar da moeda oficial, e se a moeda local não cumpre esses papéis, uma outra moeda de fora pode passar a fazer isso!

No passado, havia a economia de escambo, ou seja, de trocas, um cara tinha uma vaca que produzia leite, e esse cara desejava  tratar de dentes, tinha que convencer ao dentista a aceitar litros de leite em troca de serviço dentário! Pior seria o dentista desejar comprar um carro, teria que convencer ao dono da concessionária a tratar de todos os seus dentes, da sua mulher e de seus filhos!  rs rs Era difícil um sistema assim funcionar, aí, surgiram as mercadorias-moedas, uma mercadoria única funcionava como moeda, tudo era pago, por exemplo,  em sal. Mas para comprar um carro, o cara deveria antes construir um galpão pra guardar a quantidade de sal, e como transportar o sal?  Foram várias as mercadorias que serviram como moeda.  Na continuidade dos fatos,  metais preciosos, como o ouro e a prata,  passaram a fazer o papel de moeda, eram duráveis, divisíveis, difíceis de falsificar.. Até que um dia alguém guardou ouro com alguém, e recebeu um certificado de papel que comprovava que o ouro estava em posse do fulano, e esse certificado é a origem das notas de dinheiro, dinheiro com lastro, mais tarde surgiu a moeda fiduciária, dinheiro sem lastro.

Mas, quem deseja ficar com dinheiro? Dinheiro não rende nada, se eu posso aplicar o dinheiro em títulos e receber juros, qual o motivo que as pessoas têm para desejar ficar com dinheiro, ou melhor , reter moeda? Segundo Keynes, são três motivos, ter moeda para pagar as suas transações, ter moeda por precaução, e ter moeda para especulação, por isso é que as pessoas têm uma demanda por moeda.  Entenda bem, demanda por moeda é desejar ter dinheiro em sua posse  para usá-lo quando precisar, esse dinheiro não está sendo usado em nada, quando você o usa, deixa de ser demanda por moeda! Se esse dinheiro não está sendo usado em nada, onde ele está? Está na forma de notas ou moedas metálicas e em depósitos à vista nos bancos comerciais.

Desse total uma parte é demanda por moeda pelo motivo especulação. Quanto? Não se sabe, não existe essa medição, mas é fácil entender por que se guarda dinheiro para especulação. É que o futuro é incerto, e a taxa de juros pode aumentar no futuro, então, o cara prefere ficar líquido no presente, ou seja, reter moeda,  aguardando a subida da taxa de juros.  No total, a moeda retida pelos três motivos, formam a demanda por moeda, a procura da economia por moeda.  Mas, e o resto da renda que não foi gasta em consumo, onde estará essa parcela, se não está na procura por moeda? Está na procura por quase-moeda, mas não é moeda. E o que me permite dizer que depósitos a prazo, poupança, letras financeiras não são moeda, são quase-moeda? É o fato de que não são meios de pagamento, não estão disponíveis como meios de pagamento, apenas moeda manual e depósitos a vista são moeda, é com eles que se pagam as compras.

Por que motivo alguém prefere aguardar o futuro com moeda no bolso(preferência pela liquidez) esperando que a taxa de juros vá aumentar, ao invés de já aplicar em títulos no presente, mesmo com taxas de juros menores? Não é melhor um pássaro na mão do que dois pássaros voando? Em economia monetária não! É que todas as vezes que a taxa de juros se eleva, quem está investido a taxas  de juros menores perde, por duas razões, primeiro porque todo mundo que fez investimentos após o aumento da taxa estará investido com rendimentos maiores , menos ele, o que já estava investido, e segundo, porque com a elevação das taxas o valor dos títulos decresce, o cara  não consegue vender seus títulos ao preço que ele os comprou, mas somente a preços menores, para que compense aos investidores obter as novas taxas que foram elevadas!  Não se esqueça nunca dessa regra: a taxa de juros aumentou, então o valor dos títulos diminuiu!

Qual a conclusão? A conclusão é o que move a economia! É que, se os agentes econômicos esperam que as taxas de juros vão se elevar, aumenta a demanda por moeda para especulação, as pessoas vão reter mais dinheiro! E daí? Daí, que falta dinheiro para títulos no presente! E daí? Daí que a taxa de juros se eleva no presente! Então, você vê o que fazem as expectativas, as taxas de juros se elevam porque esperava-se que elas se elevassem! É uma cadeia de acontecimentos!

O processo inverso também se dá, se a expectativa é de que as taxas de juros vão cair, decresce a demanda por moeda, que vai para a procura de títulos antes que as taxas de juros caiam, e isso provoca queda da taxa de juros, dinheiro demais se oferecendo para títulos. Com a queda das taxas aumenta o valor dos títulos. Você viu, reparou qual é a palavra chave? Expectativas. Expectativas movem montanhas!

Mas, e os economistas, o que podem contra esse estado de coisas? Como não conversamos ainda sobre a oferta de moeda, não sabemos ainda o que é bom ou ruim nesse “estado de coisas”! Isso é apenas a demanda por moeda, mas os economistas podem atuar na oferta da moeda, quem oferta moeda é o Banco Central, e um banco central não pode errar, seus erros podem gerar desemprego, inflação, crises na produção, lembra dos EUA na década de 30?  A taxa de juros resulta do confronto entre  a demanda por moeda e a oferta por moeda.  Vamos tratar da oferta de moeda  aí pela frente, aqui no Economeditando, mas antes precisamos saber,  como é medida a moeda?

Ivan Siqueira