26 de novembro de 2013

40 - A forma sutil do governo fazer o mal

Sempre fiquei surpreso de ver as pessoas preocupadas com a corrupção que permeia a atividade pública, mas não se tocarem que existem coisas piores e de muito mais vulto do que a corrupção, uma forma sutil do próprio governo fazer o mal e legitimamente!

Podem, as atitudes e medidas do governo afetarem os investimentos produtivos que as empresas desejam realizar? Se isso existe, o governo seria um inimigo do PIB!!
A princípio, nossa maior vontade de resposta seria, podem sim, quando o governo aumenta impostos. Mas não é disso que vamos tratar aqui, mas de uma forma sutil do governo promover o mal da economia: o crowding out.

Suponha uma economia onde o orçamento fiscal esteja equilibrado, o governo realiza gastos(gastos do governo) na medida exata do que arrecada de impostos(tributos), os impostos são a receita fiscal, os gastos do governo são a despesa fiscal. Assim, a situação dessa economia seria, G – T = 0 em determinado período, digamos, no ano anterior.
Agora, suponha que no exercício seguinte os gastos do governo(G) sejam maiores do que os impostos arrecadados pelo governo(T), o governo passou a ter um déficit orçamentário. Como o governo faz para financiar um déficit orçamentário? Ele tem duas soluções , ou emite moeda, ou emite títulos, e vende esses títulos ao público, quase sempre ao setor empresas. Mas entre decidir sobre ter moeda ou títulos públicos, a escolha recai sobre títulos que pagam juros. O que são moeda e títulos públicos? Ambos são uma dívida do setor governo com o público(leia-se empresas). Mas, quais as remunerações dessa dívida, afinal quem deve a alguém remunera ao credor com alguma coisa? Claro. Títulos públicos oferecem juros a quem os detém, enquanto moeda oferece inflação. Mas inflação não é remuneração, diríamos todos! Nem juros são remuneração, apenas juros reais o são, ou seja aqueles acima da inflação. Pois então, existe inflação e existe também inflação real, aumentos de preço acima do aumento médio de preços, isto é, inflação além da inflação!

O que ocorre quando o governo tem um déficit orçamentário, ou seja, quando o governo gasta mais do que arrecada de impostos? Se ele financia esse déficit com emissão monetária, vai aumentar a procura por moeda da economia, porque o PIB foi elevado com os gastos do governo, assim, eleva-se a demanda por moeda por transações, Keynes mostrou isso muito bem, e esse aumento da demanda por moeda vai se compor com a oferta monetária. Mas se o financiamento do déficit orçamentário for pela via da emissão de títulos, o governo tem que oferecer taxas maiores de juros para que o setor empresa se interesse pelos títulos públicos, e com o aumento das taxas de juros os empréstimos para as empresas ficam mais caros e isso faz cair o nível de investimentos produtivos em máquinas, equipamentos, estradas, etc, mas como os juros estão atrativos as empresas compram os títulos públicos, em detrimento de seus investimentos produtivos, é isso o crowding out, é o governo desviando dinheiro da atividade produtiva, dinheiro que poderia ir para investimentos produtivos,  e isso faz a economia encolher!

Se isso existe na verdade? A toda hora , em todos os tempos, e nos melhores governos, aqui e lá no resto do mundo! Quando isso vai acabar? Quando o governo tiver que oferecer algo em garantia dessa farra financeira, por exemplo, ouro, como era no antigo padrão-ouro, ou oferecer emprego, como seria num padrão-emprego, onde o lastro fosse criar emprego como condição de emitir títulos públicos, aí a atividade do governo estaria a serviço da atividade produtiva. Qual a condição para que isso aconteça?  Quando os bancos centrais tiverem que prestar contas a nação e mostrar através de indicadores que suas ações resultam em melhoria da atividade produtiva e do emprego.  Quando vamos ver isso? Quando as pessoas acreditarem que idéias são o que movem o mundo embaixo do Sol!

Ivan Siqueira

 

13 de novembro de 2013

38 - Como é medido o dinheiro

(Ivan Siqueira)



O dinheiro são os meios de pagamento, se tudo pudesse ser pago com batatas, batatas fariam parte do dinheiro, mas não fazem parte, ninguém aceita batatas como meio de pagamento. Os economistas não gostam do termo dinheiro, preferem o termo moeda.

Bem, se batatas não são moeda, o que é moeda? O banco central emite moeda(notas e moedas metálicas), a isto chama-se papel moeda emitido(PME), mas uma parte desse volume de moeda fica no caixa do banco central, não está em circulação, assim, o papel moeda em circulação, é o resultado do papel moeda emitido(PME) menos o caixa do banco central(CBC).

Ocorre que desse papel moeda em circulação(PMC) uma parte dele está no caixa dos bancos comerciais(CBCO), assim, apenas a diferença é o papel moeda em poder do público(PMPP).

Mas, além do PMPP, existe dinheiro em depósitos à vista nos bancos comerciais(DVBCO), e esse somatório é que são os meios de pagamento. Meios de pagamento(MP) são a soma de papel moeda em poder do público(PMPP) mais depósitos à vista nos bancos comerciais(DVBCO). Os economistas dão nomes a cada uma dessas partes, PMPP é chamada de moeda manual, e DVBCO é chamado de moeda escritural.

Quem tem o poder de criar moeda? O banco central tem o poder de criar PMPP, enquanto os bancos comerciais têm o poder de criar depósitos à vista(DVBCO), são essas duas instituições os criadores de moeda! Os bancos comerciais criam moeda fazendo empréstimos baseado no fato de que os depósitos à vista não são todos sacados pelos clientes ao mesmo tempo, e isso permite emprestar parte dos depósitos à vista, ao realizar um empréstimo é criado um novo depósito à vista, e isso é criação de moeda!

Os bancos comerciais fazem seus balanços patrimoniais. Quando realizam um novo empréstimo, exemplo, $1.000,  lançam um depósito no seu passivo no valor de $1.000, e lançam no ativo um empréstimo no valor de $1.000.  O que é essa contabilização? No passivo o depósito é a dívida que o banco tem com seus clientes, enquanto no ativo, o empréstimo é o direito que o banco tem com seus clientes. Com essa operação criaram moeda! É assim que é medido o dinheiro!

Aliás, existem propostas de que o PMPP deveria ser  criado também pelos bancos comerciais. Atualmente, apenas o banco central pode emitir moeda, mas o economista Friedrich A. Hayek, Premio Nobel de Economia de 1974,  escreveu um livro em 1976, “Desestatização do Dinheiro”, onde propõe que os bancos comerciais poderiam também emitir suas próprias moedas.  Assim, aqui no Brasil não teríamos apenas o R$, mas também o ITA$, o SANT$, o BAN$, e outras moedas. Bem, as siglas são apenas uma criação didática aqui do Economeditando, mas o assunto é sério.  Quais as moedas que seriam usadas pela economia? É o mesmo que perguntar, quais os carros que são usados pelas pessoas, qual o sabão em pó é usado pelas pessoas... ? A ideia é a de que a moeda é um produto como qualquer outro e que seria melhor se administrada pela atividade privada, sem o monopólio estatal. Mas, não vamos embarcar nessa sem antes muito economeditar aqui.  Estudo essa questão desde 1978, a edição do livro do Hayek que eu tenho a  comprei  em 1978. Hayek aborda temas muito interessantes, por exemplo, no capítulo VI do livro, ele fala sobre a lei de Gresham, que diz que o dinheiro ruim tira de circulação o dinheiro bom, Hayek considera um equívoco achar que isso torna necessário um monopólio governamental do dinheiro, ele diz, “se fosse esse o caso, a lei de Gresham de fato se verificaria sempre que qualquer produtor fornecesse produtos inferiores...” Bem, não estou defendendo a ideia de Hayek,  é que o Economeditando pretende ser livre de direcionamentos ideológicos, pretendemos aqui discutir ideias, quaisquer que sejam elas...  Vamos dedicar um post apenas  a moeda privada, quem sabe isso seja uma grande ideia? Ou não?

Ivan Siqueira
 



 

37 - Expectativas movem montanhas


(Ivan Siqueira)

As coisas mais simples da economia, não são tão simples! A todo momento existe uma oferta de dinheiro na economia, e ao mesmo tempo uma procura por dinheiro. Os economista preferem chamar o dinheiro de moeda, mas não apenas a moeda metálica, mas o dinheiro em sua totalidade. Mas, o que é o dinheiro? Uma nota de papel? Moedas? Não, dinheiro pode ser tudo o que cumpra três funções: ser um meio de troca, uma unidade de conta e uma reserva de valor.  Assim, toda economia corre um risco, o de ver alguma coisa assumir esse papel, e cumprir essas funções no lugar da moeda oficial, e se a moeda local não cumpre esses papéis, uma outra moeda de fora pode passar a fazer isso!

No passado, havia a economia de escambo, ou seja, de trocas, um cara tinha uma vaca que produzia leite, e esse cara desejava  tratar de dentes, tinha que convencer ao dentista a aceitar litros de leite em troca de serviço dentário! Pior seria o dentista desejar comprar um carro, teria que convencer ao dono da concessionária a tratar de todos os seus dentes, da sua mulher e de seus filhos!  rs rs Era difícil um sistema assim funcionar, aí, surgiram as mercadorias-moedas, uma mercadoria única funcionava como moeda, tudo era pago, por exemplo,  em sal. Mas para comprar um carro, o cara deveria antes construir um galpão pra guardar a quantidade de sal, e como transportar o sal?  Foram várias as mercadorias que serviram como moeda.  Na continuidade dos fatos,  metais preciosos, como o ouro e a prata,  passaram a fazer o papel de moeda, eram duráveis, divisíveis, difíceis de falsificar.. Até que um dia alguém guardou ouro com alguém, e recebeu um certificado de papel que comprovava que o ouro estava em posse do fulano, e esse certificado é a origem das notas de dinheiro, dinheiro com lastro, mais tarde surgiu a moeda fiduciária, dinheiro sem lastro.

Mas, quem deseja ficar com dinheiro? Dinheiro não rende nada, se eu posso aplicar o dinheiro em títulos e receber juros, qual o motivo que as pessoas têm para desejar ficar com dinheiro, ou melhor , reter moeda? Segundo Keynes, são três motivos, ter moeda para pagar as suas transações, ter moeda por precaução, e ter moeda para especulação, por isso é que as pessoas têm uma demanda por moeda.  Entenda bem, demanda por moeda é desejar ter dinheiro em sua posse  para usá-lo quando precisar, esse dinheiro não está sendo usado em nada, quando você o usa, deixa de ser demanda por moeda! Se esse dinheiro não está sendo usado em nada, onde ele está? Está na forma de notas ou moedas metálicas e em depósitos à vista nos bancos comerciais.

Desse total uma parte é demanda por moeda pelo motivo especulação. Quanto? Não se sabe, não existe essa medição, mas é fácil entender por que se guarda dinheiro para especulação. É que o futuro é incerto, e a taxa de juros pode aumentar no futuro, então, o cara prefere ficar líquido no presente, ou seja, reter moeda,  aguardando a subida da taxa de juros.  No total, a moeda retida pelos três motivos, formam a demanda por moeda, a procura da economia por moeda.  Mas, e o resto da renda que não foi gasta em consumo, onde estará essa parcela, se não está na procura por moeda? Está na procura por quase-moeda, mas não é moeda. E o que me permite dizer que depósitos a prazo, poupança, letras financeiras não são moeda, são quase-moeda? É o fato de que não são meios de pagamento, não estão disponíveis como meios de pagamento, apenas moeda manual e depósitos a vista são moeda, é com eles que se pagam as compras.

Por que motivo alguém prefere aguardar o futuro com moeda no bolso(preferência pela liquidez) esperando que a taxa de juros vá aumentar, ao invés de já aplicar em títulos no presente, mesmo com taxas de juros menores? Não é melhor um pássaro na mão do que dois pássaros voando? Em economia monetária não! É que todas as vezes que a taxa de juros se eleva, quem está investido a taxas  de juros menores perde, por duas razões, primeiro porque todo mundo que fez investimentos após o aumento da taxa estará investido com rendimentos maiores , menos ele, o que já estava investido, e segundo, porque com a elevação das taxas o valor dos títulos decresce, o cara  não consegue vender seus títulos ao preço que ele os comprou, mas somente a preços menores, para que compense aos investidores obter as novas taxas que foram elevadas!  Não se esqueça nunca dessa regra: a taxa de juros aumentou, então o valor dos títulos diminuiu!

Qual a conclusão? A conclusão é o que move a economia! É que, se os agentes econômicos esperam que as taxas de juros vão se elevar, aumenta a demanda por moeda para especulação, as pessoas vão reter mais dinheiro! E daí? Daí, que falta dinheiro para títulos no presente! E daí? Daí que a taxa de juros se eleva no presente! Então, você vê o que fazem as expectativas, as taxas de juros se elevam porque esperava-se que elas se elevassem! É uma cadeia de acontecimentos!

O processo inverso também se dá, se a expectativa é de que as taxas de juros vão cair, decresce a demanda por moeda, que vai para a procura de títulos antes que as taxas de juros caiam, e isso provoca queda da taxa de juros, dinheiro demais se oferecendo para títulos. Com a queda das taxas aumenta o valor dos títulos. Você viu, reparou qual é a palavra chave? Expectativas. Expectativas movem montanhas!

Mas, e os economistas, o que podem contra esse estado de coisas? Como não conversamos ainda sobre a oferta de moeda, não sabemos ainda o que é bom ou ruim nesse “estado de coisas”! Isso é apenas a demanda por moeda, mas os economistas podem atuar na oferta da moeda, quem oferta moeda é o Banco Central, e um banco central não pode errar, seus erros podem gerar desemprego, inflação, crises na produção, lembra dos EUA na década de 30?  A taxa de juros resulta do confronto entre  a demanda por moeda e a oferta por moeda.  Vamos tratar da oferta de moeda  aí pela frente, aqui no Economeditando, mas antes precisamos saber,  como é medida a moeda?

Ivan Siqueira

 
 

 

11 de novembro de 2013

36 - Temos o melhor sistema monetário?

(Ivan Siqueira)

A vida só evoluiu quando o homem entendeu que era preciso desenvolver esquemas sociais, padronizar as ações, organizar, configurar a atividade humana. Hoje usamos muito esse termo – configurar – quando nos referimos ao computador, mas desde o início dos tempos configurar era a palavra chave,e, até hoje é assim! Imagine um grupo de meninos que desejam jogar bola em um campinho de futebol, digamos uns dez meninos. Eles entram no campo e  simplesmente começam a jogar. Ninguém sabe pra onde chutar a bola, de repente os dez estão chutando para um só lado, para o mesmo gol, não existe adversário! Não vai dar certo! Mas não é assim, uma simples pelada num campinho de um subúrbio, há uma configuração, joga-se futebol com dois times, cada time tem um goleiro, se são dez meninos, cada time tem cinco jogadores, o time A chuta para o gol do time B, e vice versa, etc, funciona porque foi padronizado. Mas, quem sabe, possa se esquematizar um outro jogo melhor do que o futebol como o conhecemos?

Agora, imagine se eu falo uma frase assim: “Pegsen ak miled ug parcaz”! Que frase é essa, o que significa isso? Não significa nada, porque não é uma linguagem conhecida por mais ninguém! A linguagem também é um sistema social. Foi combinado entre as pessoas que existe um alfabeto, o alfabeto forma sílabas, sílabas formam palavras, as palavras têm um sentido porque se referem a coisas ou ações, etc, a linguagem permite a comunicação humana porque foi sistematizada. Quem sabe, essa linguagem aí acima seja melhor do que as outras!

Um sistema monetário também é isso, não passa de um esquema onde as pessoas combinaram que aceitam expressar valores econômicos e a transacionar umas com as outras com base naquele sistema. Onde você, Ivan, quer chegar? Quero dizer que o papel de um economista é investigar se devemos ou não aceitar um determinado sistema monetário vigente só porque é ele o único que temos? Não estou falando de sistemas políticos, apenas de sistema monetário. Você sabia que existem pessoas convencidas de que os bancos centrais são a desgraça da humanidade? Não sou eu que penso assim, mas, e se essas pessoas têm razão? Vamos ver como é isso.

O primeiro grande impacto é entender que o sistema monetário afeta o sistema produtivo, afeta o desemprego, afeta a inflação, afeta a produção industrial, mas isso não é aceito por todos os economistas, é o que chamamos de neutralidade ou não-neutralidade da moeda. Neutralidade da moeda é acreditar que os movimentos da moeda só afetam os preços, mas não afetam o produto real, o desemprego. Não-neutralidade é o contrário, cada vez que o banco central atua sobre a oferta da moeda, sobre as taxas de juros, ele estará atuando sobre a economia real. Cara, isso é sério demais! Imagine um jovem, dezenove anos de idade, com saúde, forte, disponível ao trabalho, sentado na calçada de sua casa em um subúrbio do Rio, desanimado, tem o semblante triste... Você passa e pergunta a ele, “está doente, amigo?”, e ele responde, “não, estou desempregado, o Banco Central me desempregou!”.
 
O rapaz nunca trabalhou no Banco Central, ele é ajudante de caminhão, o que ele quis dizer é que a política monetária desemprega pessoas! A verdade é que você não vai ouvir aquela frase dita por um desempregado nunca,  as pessoas não conhecem economia, não sabem o que faz um banco central, e o poder que seus atos podem deflagrar de coisas boas para a economia de um país mas também de verdadeiras catástrofes! Na década de 30, a economia norte-americana foi tomada pela mais avassaladora recessão de todos os tempos, na verdade uma depressão, o nível de desemprego atingiu a 25% da população economicamente ativa. Um dos diagnósticos, considerados em análise de Milton Friedman, é de que o banco central dos EUA, o Fed, contraiu a moeda entre 1930 e 1933, quando deveria te-la expandido,  e isso teria sido o que transformou em depressão o que seria apenas uma recessão. Assim, podemos dizer que o banco central jogou milhões de pessoas na rua, além de ter feito 15.000 bancos falirem, não agências, bancos mesmo, e a economia ruiu! 
 
Precisamos investigar onde está o tendão de Aquiles, temos o melhor sistema monetário que poderíamos ter?  Como sabe-lo, precisamos entender como a coisa funciona, vou tratar disso,  vou falando, vou falando... me pergunto, me respondo... a ciência que aprendi sempre na frente, mas minha curiosidade sempre atrás!

Ivan Siqueira


10 de novembro de 2013

35 - Basta apenas produzir, ou não?

(Ivan Siqueira)
 Demanda é demanda, não é desejo de demandar! O que configura a demanda de qualquer coisa, de produtos, de moeda, de investimentos, é efetivamente aquela coisa ter sido comprada, se havia apenas uma vontade de comprar, mas se a compra não se efetivou, não houve demanda! Assim, esse termo demanda efetiva é redundante, toda demanda é efetiva!

E a oferta? Você já ouviu alguém falar em oferta efetiva? Eu nunca ouvi, nem li sobre isso! Estranho, né? Por que somente a demanda é efetiva? Quando se dá a oferta? Oferta também não é apenas desejo de ofertar, mas em que momento a oferta se torna oferta efetiva? Aparentemente é quando o produto ou serviço ficou pronto e foi colocado a venda no mercado!  Então, suponha que uma latinha de cerveja foi produzida e foi oferecida no mercado pelo valor de venda de R$4,00, e que dentro desses R$4,00 aproximadamente R$2,60 são salários pagos aos empregados da fábrica, e R$1,40 seja de lucros dos proprietários da fábrica. Estamos supondo que a renda seja formada apenas de salários e lucros, e desconsiderando juros e aluguéis que são, também, parte da renda, mas, para efeito de simplificação, nossa renda é formada apenas de salários mais lucros. Assim, no nosso exemplo, salários são 65% da renda e lucros são 35%. Não é muito diferente da realidade.

Na minha época de faculdade,  nos intervalos de aulas, sentávamos em uma calçada interna do pátio e ficávamos economeditando sobre as aulas, que tempo bom! Alguns de meus colegas  gostavam de dizer que os operários, coitados, não tinham poder de comprar nem aquilo mesmo que eles produziam, que não podiam comprar nem o edifício que eles próprios construíam com o seu suor! É uma grande observação esta,  é uma grande verdade, a latinha custa R$4,00 e o trabalhador ganhou apenas R$2,60, não pode comprar a cerveja que ele mesmo trabalhou e fabricou, é lógico, sempre haverão lucros em cima dos custos, e o trabalhador não tem a parte dos lucros! Salários são a remuneração do trabalho, lucros são a remuneração de capitalistas pelo uso de seus capitais! A soma de salários e lucros é a renda, ou a produção, ou a despesa, são iguais. Mas, de forma mais completa, a renda é o somatório de salários, juros, aluguéis e lucros. Em nosso exemplo estamos fazendo uma simplificação.  

Ali naquela calçada, nos momentos de lazer, no intervalo das aulas, fazíamos de tudo, paqueras, piadas, trocávamos opiniões sobre a vida nacional, e havia um dos estudantes de economia bastante diferenciado, ele questionava permanentemente o capitalismo, e de uma forma sempre muito inteligente, falava baixo, de modo concentrado, e tinha argumentos que, via-se, eram resultado de estudos que ele fazia, mas ele tinha uma outra particularidade, sempre aparecia com um violão(de onde saía aquele violão?), sentava-se ali naquela calçada, e com o seu violão tocava e cantava belíssimas canções que ele compunha, era um desconhecido, só sabíamos que ele era filho do rei do baião, Luiz Gonzaga, ele era o Gonzaguinha. Sua música é muito parecida com o que ele realmente era!

Mas, voltando para o assunto desse post, os que acham que os trabalhadores não têm a renda suficiente para comprar o que eles próprios produziram, esquecem de ver, que o capitalista, então, tem menos ainda,  a latinha está sendo ofertada a R$4,00, mas o capitalista só ganhou R$1,40, também não compra a latinha de cerveja que o empreendimento dele produziu, porque o capitalista não é o dono dos salários, apenas dos lucros, pra comprar a latinha ele teria que pegar emprestado os salários dos trabalhadores! Mas, trabalhadores e capitalistas, uni-vos, porque juntos vocês têm a renda necessária para demandar o que ofertaram!

Aí, entra em cena, a lei de Say, “a oferta cria sua própria procura”. Dizem que Say jamais disse isso textualmente, mas com toda certeza pensava isso, e escreveu sobre isso!  Mas e a cerveja? Ofertaram por R$4,00 a latinha, e têm poder de demanda de exatamente R$4,00, ou seja, o ato de produzir gerou uma renda suficiente(R$2,60 + R$1,40) para comprar a oferta(produção). Não pode haver crise econômica, tudo o que é produzido gera a renda pra comprar a produção! Senão, vejamos o que Say disse:  “tão logo um produto seja criado, nesse mesmo instante gera um mercado para outros produtos em toda a grandeza de seu próprio valor”. Você viu, citei o texto dele, basta produzir, a produção(ou oferta efetiva), gera uma demanda efetiva de mesmo valor, mesmo que vá ser usada em outras partes do mercado, em outros produtos . Aí, meu caro amigo internauta, a ideologia tomou conta da vida! Era tudo o que os adeptos do capitalismo precisavam para defender o capitalismo, a frase veio para a ponta da língua da boca do mundo: o capitalismo não gera crises, porque a oferta cria sua própria procura!  Se o capitalismo é bom ou ruim, estamos todos interessados em saber, quem souber avise ao outro, mas antes temos uma tarefa: como questionar a lei de Say?

 David Ricardo e Adam Smith acolheram a lei de Say, mas Malthus e depois Keynes a recusaram. A oferta não cria sua própria procura, contestando os economistas clássicos. Enquanto a economia clássica é uma economia da oferta efetiva, a economia keynesiana é a economia da demanda efetiva. Não adianta apenas produzir, a demanda tem renda para comprar a produção, mas comprou?  Vou seguir nessa história, mas agora vou ouvir a canção “O Trem”, do meu colega Gonzaginha, ela não fala de Say, nem ao menos de economia, mas fala de um mundo melhor!  Volto ao assunto a qualquer momento. Quem teve peito de contestar a lei de Say? Ricardo e Malthus eram amigos e trocavam cartas, Ricardo defendia a lei de Say, mas Malthus mostrou que enxergava longe!

Ivan Siqueira

9 de novembro de 2013

34 - Estou de volta

Olá, amigos do blog Economeditando! Por necessidade do meu trabalho, bem como de uma pesquisa na área de economia internacional, estive impossibilitado de continuar a atividade do blog, não havia tempo hábil para o blog. Senti muito, porque pensar a Economia é das tarefas que mais me alegram, certo que estou de que muito a teoria econômica necessita de reflexões permanentes de todos os que se dedicam a esta profissão que, com certeza, é a maior esperança de um mundo melhor! Estou de volta, agora com alguma parte do meu tempo disponível ao blog.

Nessa volta, pretendo atuar em duas frentes, na análise do pensamento econômico, como o blog encaminhou-se até aqui, mas, também, com abordagens sobre a teoria econômica de forma dissertativa, ou apenas explanatória, mas de um modo didático que possa ser útil a estudantes, sempre ressalvando que a formação de um economista é dada por sua universidade e por seus professores, que são insubstituíveis, faça de sua visita aqui ao blog, e o considere, apenas um campo de confronto entre idéias, no sentido de alargar e, mesmo, permitir explanações e investigações que possam contribuir com o corpo de conhecimentos sobre teoria econômica.

Nessa volta, pretendo ainda, apresentar exercícios e problemas que possam contribuir com a discussão aqui apresentada. E, ainda, o desenvolvimento de aplicativos Excel, que permitam a resolução de modelos econômicos! O blog será aberto a comentários, mas moderados por mim, com o intuito de que só sejam apresentados os comentários julgados colaboradores com a discussão que aqui pretendemos realizar, destacando que não haverá nenhuma justificativa ou esclarecimentos quanto aos comentários que não atendam ao bom andamento dos trabalhos do blog, e que, portanto, não serão apresentados. Caberá ao moderador, julgar através de critérios que levem em consideração a didática, a fidelidade dos assuntos a teoria econômica, e outros fatores, e, assim, publicar ou não um comentário. Mas, todos são convidados a participar dessa discussão.

Abraço a todos,
Ivan Siqueira