Ainda nem comecei a escrever esse post, mas já sei que ele vai
ser diferente dos anteriores, porque não vai seguir o que me ensinaram na
escola, afinal eu já estou crescidinho, e aprendi a me safar do maior mal que
assola a humanidade: ideologias!
É preciso saber aproveitar o que uma ideia tenha de conteúdo
científico, não venham me dizer que o marxismo é coisa do passado, as verdades
que ali repousam precisam compor a teoria econômica moderna, e o lixo que lá
também se encontra, precisa ser varrido, no mundo das ideias não existe Super
Man, existem apenas ideias acertadas ou não! A teoria macroeconômica de John M.
Keynes , que tem elementos formidáveis, está incompleta se não se aliar ao
pensamento de Karl Marx. Você pirou, Ivan, um é defensor do capitalismo, o
outro fez tudo pra mostrar que o capitalismo é o pior dos sistemas econômicos, arranca
a mais-valia do valor do trabalho, explora os trabalhadores! Vamos ver essas coisas, mas vamos colocar um
óculos contra miopia!
Marx dividia o mundo entre trabalhadores e capitalistas,
segundo o pensamento dele é dessa luta de classes que a vida econômica se
arranjava. Keynes chegou em 1936 e fez vista grossa, ou seja, não considerou essas
classes em sua teoria, mas que haviam quatro classes: a de investidores,
consumidores, governo e resto do mundo, assim, o baile se dava entre esses! E,
ainda por fora, a moeda, que organizava o baile! Foi assim que ele formou sua
teoria macroeconômica da demanda efetiva, o que acontece nos bastidores entre
trabalhadores e capitalistas era figuração, segundo plano, que não importava a
ele, nem afetava sua teoria! Será que dá pra aceitar isso, caro internauta?
À mesma época que Keynes publicou suas ideias, um economista
polonês, Michal Kalecki, publicou uma
teoria absolutamente coerente com a teria keynesiana, e está mais do que
comprovado que as duas teorias foram feitas independentes uma da outra, ninguém
copiou ninguém. Assim, a teoria kaleckiana também é uma teoria da demanda
efetiva, como a de Keynes, há até quem diga que são teorias iguais, mas no
mundo de Kalecki tudo acontece entre trabalhadores e capitalistas! Cara, isso é
fantástico, isso é o que a vida precisava, porque você pode enxergar as
atividades de um banco central e como elas afetam, prejudicam , ou dão ganho a
essas duas classes, ou a uma delas em detrimento da outra! Você deve estar aí
se perguntando, quem fez isso, onde eu leio sobre isso? Calma aí, você está
lendo! Até eu preciso de calma, porque
não posso queimar etapas!
Na verdade, Kalecki publicou(1933) antes de Keynes(1936). Se
você, caro internauta, vem lendo meus posts, já viu que tudo era uma
consequência da teoria clássica marginalista estar dando errada no mundo, e
isso desembocou na crise de 1929. Mas antes, em 1926, um economista italiano,
Piero Sraffa, já havia escrito um artigo onde demonstrava claramente que a base
do marginalismo, o mercado de concorrência perfeita, não se aplicava ao mercado
real. Isso batia perfeitamente com uma ideia de Marx de que a concentração do
capital tinha origem nas economias de escala das empresas, ou seja, as empresas
tendiam para um “gigantismo” através da concorrência monopolística. Como é que
é? Repete isso! Sim, na concorrência perfeita, aquele mundo onde tudo corre
perfeitamente bem, não é possível acumular capital, nem crescimento! Caramba, quer dizer que se falava mal do que era
a solução? Mais ou menos isso! Sraffa não era um marxista, sua teoria apenas
demonstrou que Marx estava certo, a concentração de capital depende da concorrência
imperfeita!
Nesse estado de coisas foi que Keynes entrou de sola, demoliu
o marginalismo, mas não pela via marxista, mas sim, criando uma sociedade de
quatro classes, a razão da economia era produzir bens de consumo para a classe
de consumidores, e para isso a classe das empresas investiam, por outro lado, a
classe governo arrecada impostos e efetua gastos públicos, e finalmente uma
outra classe, o resto do mundo, mantém relações internacionais com a economia
doméstica, através dos fluxos de compras e vendas de bens e serviços externos,
e do fluxo de rendas financeiras e capitais que se alocam daqui pra lá e de lá
pra cá. Esse é o mundo keynesiano, e o mundo que está em todos os manuais de
macroeconomia adotados nas universidades. Vai se conformar com isso?
Em 1929, no ano da crise, Michal Kalecki trabalhava em
Varsóvia. Em 1933 publicou sua teoria e a apresentou numa conferencia
internacional, e em 1935 voltou a publica-la em uma revista. Sua teoria
mostrava que a atividade econômica depende do gasto dos trabalhadores, e que os
capitalistas não têm lucro porque produzem, mas produzem o lucro mesmo antes
deles existirem, no ato do investimento, ele dizia “os trabalhadores gastam o
que ganham, os capitalistas ganham o que gastam”.
Hoje, já dá para propor uma outra visão, a de que “os
trabalhadores gastam, porque os capitalistas ganham, e os capitalistas só
ganham porque os trabalhadores gastam!” Mas, isso parece ser keynesiano, ou não?
No mundo de Keynes não existem essas classes! Como ele foi deixar de fora isso?
No mundo de Keynes é a política fiscal e a política monetária que comandam a
vida. Mas que tal um mundo perfeito onde a política salarial e a política de
lucros fossem a orientação? Como assim, dar ganhos às duas classes ao mesmo
tempo? Desculpe, Marx diz que isso não é possível, o capital existe para
explorar o trabalho. Calma aí, companheiro, precisamos conversar, e ajustar o
passado ao que o presente já possibilita, não veja Marx como um dragão, o cara
tem coisas fenomenais, vamos usar isso, e mostrar o que não funciona na teoria
dele. Se fosse pra rezar, vamos pra uma
igreja, lá recebemos tudo o que precisamos através da fé, aqui é Economeditando, uma seleção de ideias.
Assim, vou destilar uma teia parecida com a do Homem-Aranha, onde
o que há de excelente em Marx se encontra com Keynes e Kalecki, vamos perder
essa mania de falar mal de todo mundo, todos têm a oferecer! E os trabalhadores?
Os trabalhadores só ganham com isso, o dia em que o capital e o trabalho se
tornaram amigos! Pode isso? Pergunte ao trabalho se ele deseja ser o capital, e
aguarde a resposta, pode ser surpreendente! Kalecki morreu em 1970, mas pensou
o bastante para que o mundo fosse muito diferente do que o que temos! O assunto
está só começando!
Ivan Siqueira