23 de dezembro de 2013

47 - Desemprego: como sair disso?

A todo tempo existe um conjunto de trabalhadores disponíveis ao trabalho, isso é a população economicamente ativa(PEA).  Mas nem sempre todos estão empregados, os que estão desempregados, mas gostariam de estar trabalhando, compõem o desemprego involuntário, que é a categoria de desemprego que interessa, porque outros podem estar desempregados voluntariamente, ou porque estão mudando de emprego, ou não aceitam ganhar o salário que está sendo oferecido, etc. O fato é que desemprego é o involuntário. Mas aí vem a pergunta que não quer calar: por que existe desemprego involuntário? Uma coisa é certa, é que as empresas não estão desejando(ou podendo) empregar essa gente! Quero entender por quê!

A questão pode ser enxergada por dois pontos de vista, o clássico e o keynesiano, eles não se entendem!
Os economistas clássicos entendem que não pode existir desemprego involuntário, e garantem que nem existirá, mas impõe uma condição, a de que os salários nominais sejam flexíveis para baixo, ou seja, se os trabalhadores que estão empregados aceitassem ver reduzidos seus salários, de modo a que os trabalhadores que estão fora do mercado de trabalho possam ser inseridos, todo mundo que deseja trabalhar estaria trabalhando! Vou dar um exemplo que até pode ser grosseiro, mas mostra o efeito. Suponha que uma fábrica empregue 100 trabalhadores, mas que existam mais 10 trabalhadores desejando emprego, se os 100 trabalhadores aceitassem uma redução do salário de 10%, os trabalhadores que estão de fora estariam empregados, e, portanto, não haveria desemprego! Aí, vem um sindicato e diz, não aceitamos essa redução de salário! Tá bem, então permanecemos com o desemprego!

Em 1929 vem a Grande Depressão, e a taxa de desempregados vai a 20%, é como se a PEA fosse de 125 pessoas, e houvessem 100 trabalhadores na fábrica e 25 procurando emprego(25/125=20%), um caos! Keynes escreve sua teoria em 1936 e, aparentemente, discorda do ponto de vista clássico, ele diz que há uma rigidez de salários nominais para baixo, e assim não existirá pleno emprego(lembre-se de que os clássicos diziam que a economia sempre estaria em pleno emprego, porque “a oferta cria sua própria procura”). E a crise de 1929? Assim, Keynes detonou a teoria clássica mostrando que as empresas não propõem a baixa dos salários porque enfrentariam a guerra dos sindicatos, então,  simplesmente, demitem! Ou seja, a economia opera com rigidez de salários nominais!
Os clássicos não se consideram derrotados porque eles colocaram a questão, e foram claros, existe essa condição, se aceitarem salários flexíveis para baixo todo mundo estará empregado!  Todo trabalhador que está lendo esse meu texto nesse momento, deve estar pensando, Ivan, não mexe com esse vespeiro não, já estou ganhando pouco, ainda vou ter que colaborar com quem está desempregado!  rs rs

Aí, sempre vem alguém pra propor, porque não empregam os que estão de fora e as empresas que aceitem terem seus lucros reduzidos, ao invés de propor redução de salários? Bem, aí, cai no campo do emocional, do povo triste e sofrido, que, com toda a razão não precisa acertar no que diz, mas uma redução de lucros não tem a capacidade de aumentar o nível de emprego, porque salários são gastos, se transformam em demanda efetiva, mas e os lucros, o que é feito com eles? Se você está ai pensando, “são gastos também”, Kalecki pensa diferente, “os trabalhadores gastam o que ganham, os capitalistas ganham o que gastam”. Se isso faz diferença? Imensa, total, e desestabilizante!  Nós chegamos lá!
Ivan Siqueira  

21 de dezembro de 2013

46 - Feudalismo: um quase capitalismo!


(antes leia o post 45)

Se vou falar de Idade Média? Vou sim. Mas, isso é coisa do passado, ninguém quer mais saber disso! Até pode ser, mas eu quero, porque no feudalismo estão muitas explicações para os acontecimentos de nossos dias! Por outro lado, o poder sempre usou de uma mesma estratégia: você me dá aquilo que eu te dou isso!
A escravidão não era ainda capitalismo, e a escravidão não deu certo, falei  disso no post 45. Chega a Idade Média e com ela o surgimento dos feudos. O feudo era um pedaço de terra que um senhor do feudo permitia que um servo arrendasse e explorasse, vitaliciamente, e isso era mesmo a garantia do servo, era vitalício mesmo! Se a terra era vendida, o servo e sua família iam juntos! E quem era o “senhor do feudo”, o proprietário? Não, o “senhor do feudo” também era um arrendatário de um outro senhor do feudo, que também, por sua vez, era arrendatário de outro senhor do feudo, uma cadeia, até chegar no proprietário, quase sempre a Igreja, e em menor escala, outros titulares da nobreza.

Qual era a “graça” do sistema feudal? Era, exatamente, o que se vê até os dias de hoje, o “eu te dou aquilo e você me dá isso!” O senhor do feudo dava proteção ao servo, proteção contra um sistema sanguinário, o inimigo vinha de cavalo, invadia a aldeia e com aquelas espadas de quase dois metros cortava a cabeça do aldeão e de sua família, e para “limpar” tudo, colocava fogo na aldeia! É só assistir ao filme “Príncipe Valente” com o Mel Gibson, ou outros do gênero!
Em troca dessa proteção do “Estado”(o “Estado” era o senhor do feudo, porque na Idade Média não havia um poder centralizador), o servo pagava ao senhor com dinheiro ou alimentos, além de que tinha que arar as terras do senhor antes de arar as terras do seu próprio feudo! O Brasil acaba de comprar aviões caças da Suécia, e também vai dar proteção aos seus cidadãos, claro, esperando que os cidadãos paguem seus impostos! O feudo só cresceu e mudou de nome, mas é sempre um “me dá aquilo que eu te dou isso!”

Mas, então, parece que o servo era um escravo! Não, o servo não era vendido individualmente, quem eram vendidas eram as terras, e o servo ia junto! Mas o que quer dizer a palavra servo? Vem do latim, “servus”, e quer dizer “escravo”.  Mas, existe uma grande diferença entre o sistema feudal e a escravidão, aquele, apesar de ser uma economia da oferta(produção) ainda que pré-capitalista, mas o servo gerava renda para si e sua família, e renda volta ao mercado para comprar outras coisas, ou seja, já permitia uma economia da demanda ainda que rudimentar! Você, internauta, vê a importância disso, o sistema capitalista já estava no útero, e desejava aflorar! Mas um sistema econômico necessita de um poder por trás e de uma ideologia que o garanta, é sempre uma ideologia que “consagra” as intenções de um poder. Só que haviam senhores eclesiásticos e senhores seculares(esses não eram da Igreja, eram duques, barões, etc,  e tinham interesses próprios!) Mas todos concluiram que uma diretriz mais forte deveria representar a todos. Foi aí que os senhores feudais se uniram para  criar a ética paternalista cristã.  Você já viu o que viria pela frente, vão dizer, e “provar”,  que Deus está de acordo com tudo!  
É isso, bem que dizem que se correr o bicho pega, se ficar o bicho come! Mas os caras deram com os burros n’água, porque a ética paternalista cristã era uma espécie de legitimação moral que o sistema feudal precisava, mas gerou uma contradição com o desenvolvimento do capitalismo que desejava sair do útero, e aí, criou-se o impasse! Como sair disso?

Ivan Siqueira

19 de dezembro de 2013

45 - Escravidão: que fiasco!

O sistema capitalista vive se adaptando, procurando o que é o melhor para ele, mas necessáriamente o que é o melhor para ele não é o melhor para o capitalista! O termo “exploração do trabalho” conduz a uma análise totalmente equivocada, quanto mais o capital explorar o trabalho, mais o capital estará cavando sua própria sepultura! Aí o cara diz assim, ah! então eu tinha entendido errado, pela visão marxista, eu achava que explorar o trabalho é o máximo para o capitalista!

Prestenção! Isso só pode ser claramente esclarecido a partir do entendimento sobre a demanda efetiva, com Keynes ou com Kalecki. Senão, vejamos. Pode existir uma forma de exploração mais perfeita, mas totalizante, do que a escravidão? Se explorar o trabalho fosse um “bom negócio”, a escravidão  seria um sucesso, mas foi um fiasco! Em Roma e na Grécia Antiga, cerca de 80% da população era formada por escravos. E esse sistema econômico, produzir usando o trabalho escravo, permitia ao senhor de escravos, apropriar-se de todo o excedente produzido pelo escravo, lembrando que o escravo só recebia apenas alimentação e vestuário para sobreviver.  Essa ideologia de vida parecia tão natural aos olhos de todos que até Platão e Aristóteles achavam que certos homens nasciam pra ser escravos, e que outros mais dotados intelectualmente vieram pra ser donos de escravos! Veja você!

Qual a conclusão? Os donos de escravos viviam cercados de luxos, possuíam mansões, exploravam sexualmente as escravas, mas não tinham o principal: não geravam renda para alguma classe que pudesse demandar os produtos deles! Era uma economia que não criava demanda efetiva! Deu em que? Total estagnação da economia antiga, o que fez o Império Romano entrar em declínio vertiginoso como um aviãozinho de papel!
Ah! Então explorar o trabalho em maior ou menor grau vai dar nisso! Mas, ninguém sabia sobre demanda efetiva, Keynes(e Kalecki) só deram as caras no século XX, na década de 30, e aí, sem esse tipo de análise, o que os caras fizeram depois do fiasco da escravidão?  Inventaram o feudalismo.  

Ivan Siqueira

18 de dezembro de 2013

44 - Quando "O Capital" foi publicado em português

Aqui no Economeditando devo me perguntar e responder a questões, nem sempre as perguntas serão as melhores, apenas faço um esforço para fazer boas perguntas, e, quanto as respostas, nem sempre serão as mais acertadas ou definitivas, porque a evolução faz parte da dialética! Já que assim é, nada melhor do que fazer logo a pergunta: - Ivan, você é um  marxista? E vamos logo à resposta: - De maneira nenhuma, se eu fosse um marxista significaria acreditar que o marxismo é a solução para os problemas que a vida nos impõe, mas o marxismo não tem essa solução! Mas, aqui vamos debater exaustivamente o marxismo, porque o conteúdo desse corpo de filosofia, economia e história, tem muita coisa que interessa ao mundo!

Estão aqui na minha frente, ao lado do meu notebook,  os livros da obra “O Capital”, de Karl Max.  Essa obra foi escrita e publicada no seu original em 1867, a 1ª edição, e possui 3 livros.  A edição que eu tenho, foi publicada em português pela Editora Civilização Brasileira, e os 3 livros se transformaram em 6 volumes, que contém os 3 livros da obra. Na orelha do Volume 1 existe esse texto:
“Com este volume inicia-se, pela primeira vez, a publicação integral, em língua portuguesa, de O Capital, de Karl Max. É empreendimento de inegável significação histórica em nosso País”.
O ano  da publicação em português é 1971, mas existe uma anotação minha em caneta azul, que contém minha assinatura e uma data,  “Niterói, 24/11/73”, muito provavelmente a data da minha compra dessa obra, é certo que comprei os 6 volumes no mesmo dia. Foi uma grande sorte, ter comprado essa que é a primeira edição em português do “O Capital”. E , 1973 é o ano de minha formatura, o que significa dizer, não estudei “O Capital” na universidade, mas o estudei exaustivamente durante a vida! É baseado nessa publicação que pretendo trazer abordagens a esta obra magistral. Abordagens podem ser acolhidas, simples reflexões e críticas, mas sobre isso, veja o que o próprio Karl Marx  diz ao final do prefácio da 1ª edição:
“Acolherei, com a maior satisfação, as manifestações da crítica científica. E quanto aos preconceitos da chamada opinião pública, torno minha agora como dantes, a máxima do grande Florentino:
          Segui il tuo corso, e lascia dir le genti!
         (Segue teu rumo e não te importes com o que os outros digam!)
                           Londres, 25 de julho de 1867.
                                               Karl Marx
Ivan Siqueira
 
 

17 de dezembro de 2013

43 - Quando o capital e o trabalho se tornaram amigos

Ainda nem comecei a escrever esse post, mas já sei que ele vai ser diferente dos anteriores, porque não vai seguir o que me ensinaram na escola, afinal eu já estou crescidinho, e aprendi a me safar do maior mal que assola a humanidade: ideologias!

É preciso saber aproveitar o que uma ideia tenha de conteúdo científico, não venham me dizer que o marxismo é coisa do passado, as verdades que ali repousam precisam compor a teoria econômica moderna, e o lixo que lá também se encontra, precisa ser varrido, no mundo das ideias não existe Super Man, existem apenas ideias acertadas ou não! A teoria macroeconômica de John M. Keynes , que tem elementos formidáveis, está incompleta se não se aliar ao pensamento de Karl Marx. Você pirou, Ivan, um é defensor do capitalismo, o outro fez tudo pra mostrar que o capitalismo é o pior dos sistemas econômicos, arranca a mais-valia do valor do trabalho, explora os trabalhadores!  Vamos ver essas coisas, mas vamos colocar um óculos contra miopia!
Marx dividia o mundo entre trabalhadores e capitalistas, segundo o pensamento dele é dessa luta de classes que a vida econômica se arranjava. Keynes chegou em 1936 e fez vista grossa, ou seja, não considerou essas classes em sua teoria, mas que haviam quatro classes: a de investidores, consumidores, governo e resto do mundo, assim, o baile se dava entre esses! E, ainda por fora, a moeda, que organizava o baile! Foi assim que ele formou sua teoria macroeconômica da demanda efetiva, o que acontece nos bastidores entre trabalhadores e capitalistas era figuração, segundo plano, que não importava a ele, nem afetava sua teoria! Será que dá pra aceitar isso, caro internauta?

À mesma época que Keynes publicou suas ideias, um economista polonês, Michal Kalecki, publicou  uma teoria absolutamente coerente com a teria keynesiana, e está mais do que comprovado que as duas teorias foram feitas independentes uma da outra, ninguém copiou ninguém. Assim, a teoria kaleckiana também é uma teoria da demanda efetiva, como a de Keynes, há até quem diga que são teorias iguais, mas no mundo de Kalecki tudo acontece entre trabalhadores e capitalistas! Cara, isso é fantástico, isso é o que a vida precisava, porque você pode enxergar as atividades de um banco central e como elas afetam, prejudicam , ou dão ganho a essas duas classes, ou a uma delas em detrimento da outra! Você deve estar aí se perguntando, quem fez isso, onde eu leio sobre isso? Calma aí, você está lendo!  Até eu preciso de calma, porque não posso queimar etapas!
Na verdade, Kalecki publicou(1933) antes de Keynes(1936). Se você, caro internauta, vem lendo meus posts, já viu que tudo era uma consequência da teoria clássica marginalista estar dando errada no mundo, e isso desembocou na crise de 1929. Mas antes, em 1926, um economista italiano, Piero Sraffa, já havia escrito um artigo onde demonstrava claramente que a base do marginalismo, o mercado de concorrência perfeita, não se aplicava ao mercado real. Isso batia perfeitamente com uma ideia de Marx de que a concentração do capital tinha origem nas economias de escala das empresas, ou seja, as empresas tendiam para um “gigantismo” através da concorrência monopolística. Como é que é? Repete isso! Sim, na concorrência perfeita, aquele mundo onde tudo corre perfeitamente bem, não é possível acumular capital, nem crescimento!  Caramba, quer dizer que se falava mal do que era a solução? Mais ou menos isso! Sraffa não era um marxista, sua teoria apenas demonstrou que Marx estava certo, a concentração de capital depende da concorrência imperfeita!

Nesse estado de coisas foi que Keynes entrou de sola, demoliu o marginalismo, mas não pela via marxista, mas sim, criando uma sociedade de quatro classes, a razão da economia era produzir bens de consumo para a classe de consumidores, e para isso a classe das empresas investiam, por outro lado, a classe governo arrecada impostos e efetua gastos públicos, e finalmente uma outra classe, o resto do mundo, mantém relações internacionais com a economia doméstica, através dos fluxos de compras e vendas de bens e serviços externos, e do fluxo de rendas financeiras e capitais que se alocam daqui pra lá e de lá pra cá. Esse é o mundo keynesiano, e o mundo que está em todos os manuais de macroeconomia adotados nas universidades. Vai se conformar com isso?
Em 1929, no ano da crise, Michal Kalecki trabalhava em Varsóvia. Em 1933 publicou sua teoria e a apresentou numa conferencia internacional, e em 1935 voltou a publica-la em uma revista. Sua teoria mostrava que a atividade econômica depende do gasto dos trabalhadores, e que os capitalistas não têm lucro porque produzem, mas produzem o lucro mesmo antes deles existirem, no ato do investimento, ele dizia “os trabalhadores gastam o que ganham, os capitalistas ganham o que gastam”.

Hoje, já dá para propor uma outra visão, a de que “os trabalhadores gastam, porque os capitalistas ganham, e os capitalistas só ganham porque os trabalhadores gastam!” Mas, isso parece ser keynesiano, ou não? No mundo de Keynes não existem essas classes! Como ele foi deixar de fora isso? No mundo de Keynes é a política fiscal e a política monetária que comandam a vida. Mas que tal um mundo perfeito onde a política salarial e a política de lucros fossem a orientação? Como assim, dar ganhos às duas classes ao mesmo tempo? Desculpe, Marx diz que isso não é possível, o capital existe para explorar o trabalho. Calma aí, companheiro, precisamos conversar, e ajustar o passado ao que o presente já possibilita, não veja Marx como um dragão, o cara tem coisas fenomenais, vamos usar isso, e mostrar o que não funciona na teoria dele.  Se fosse pra rezar, vamos pra uma igreja, lá recebemos tudo o que precisamos através da fé,  aqui é Economeditando, uma seleção de ideias.  
Assim, vou destilar uma teia parecida com a do Homem-Aranha, onde o que há de excelente em Marx se encontra com Keynes e Kalecki, vamos perder essa mania de falar mal de todo mundo, todos têm a oferecer! E os trabalhadores? Os trabalhadores só ganham com isso, o dia em que o capital e o trabalho se tornaram amigos! Pode isso? Pergunte ao trabalho se ele deseja ser o capital, e aguarde a resposta, pode ser surpreendente! Kalecki morreu em 1970, mas pensou o bastante para que o mundo fosse muito diferente do que o que temos! O assunto está só começando!

Ivan Siqueira

15 de dezembro de 2013

42 - Um mundo sem inflação

Os economistas têm como função oferecer a sociedade um mundo com um bom nível de produção, sem desemprego, ou, menor desemprego possível, e sem inflação, ou, menor nível de inflação possível. Mas, são tarefas difíceis!

Nas artes tudo é mais fácil, como é diferente, a arte da ciência! Conta-se que um economista gostava de uma música, a “Cavatina”(Stanley Mayers), mas um economista não tem o poder de explicar por que uma determinada música possa ser considerada bonita! Talvez que, uma música bonita seja o “Show das Poderosas”(Anita), nunca se sabe o que quer dizer “música bonita”!
Em economia é diferente, não depende de juízo de valor, vou contar uma estória que mostra isso.

Conta-se que um governo desafiou a todos os economistas do mundo a explicar se poderia existir um mundo sem inflação, mas se alguém tivesse essa explicação, que explicasse isso no menor tempo possível, ganharia o concurso quem desse a explicação no menor tempo. Estava lançado o desafio, e os economistas foram lá tentar a prova e ganhar o concurso.
O combinado é que o público entendesse qual a condição para que houvesse um mundo sem inflação. O primeiro economista inscrito explicou sua teoria em 4 minutos. Em seguida, um outro economista deu uma outra explicação, e levou apenas 1 minuto para fazer o público entender sua teoria. Aí , apareceu um economista gozador, ele gastou apenas 18 segundos, e disse que bastava que as pessoas não tivessem renda, assim não haveria inflação! Aí, uma pessoa do público contestou: “mas, sem renda as pessoas morrem, né!”. Está claro que aquele economista apareceu ali apenas para tumultuar o ambiente! O concurso prosseguiu, e um outro economista deu uma boa explicação e gastou apenas 12 segundos, ele era o mais indicado ao prêmio. Foi quando  o último economista da lista de inscritos, se apresentou e disse para o público:

- Contem até 3, antes que terminem a contagem eu já explico a condição para a existência de um mundo sem inflação!
O público imediatamente começou a contagem, todos juntos:
1 ... 2...
E o economista disse:

- Um mundo sem moeda! 
Nem deu tempo do público contar o 3. O silêncio foi geral... todos meditavam sobre o que o economista disse!

É que já existiu um mundo sem moeda, e não havia inflação nesse mundo, mas a divisão do trabalho trouxe a moeda em seu rastro, e com ela a inflação.
As pessoas ali naquela praça quiseram saber qual era o grande ensinamento disso, e o economista explicou:

- A inflação é, em todos os tempos, um fenômeno monetário!
O economista ganhou o concurso. Mas, aproveitou e esclareceu: “Quanto ao que seja uma música bonita, nós os economistas não temos uma explicação, vai depender de você, mas ouça a “Cavatina”, quem sabe  você goste!”

Ivan Siqueira

12 de dezembro de 2013

41 - Para que servem os bancos - Parte I

 Não se sabe exatamente quando os bancos surgem no cenário econômico, mas sabe-se que já se concediam empréstimos e trocavam-se moeda estrangeira na antiga Babilônia e na Roma Antiga. Mas, como isso não é a principal atividade bancária, somente na Itália renascentista é que os bancos surgiram recebendo depósitos à vista e a prazo, ou seja, já vendiam algum tipo de CDB por lá! O banqueiro sentava-se atrás de uma mesa, ou banca, e se ele não honrava seus compromissos de pagar aos seus credores, estes quebravam a banca, isso originou a expressão “quebra de um banco”. Naquela época não tinha um banco central para socorrer o banqueiro, essa moleza de hoje em dia!

Os bancos se desenvolveram quando os banqueiros perceberam que poderiam emprestar parte das moedas que eram depositadas nesses bancos, já que nem todos os depositantes apareciam ao mesmo tempo para pegar o dinheiro de volta. O passo seguinte foi dar ao depositante um recibo do que ele tinha no banco, e esse recebido os depositantes poderiam passar adiante, e isso deu origem as notas de papel moeda.

Nos Estados Unidos o primeiro banco é de 1782, é o Bank of North America, a partir daí a atividade bancária deslanchou, mas somente em 1837 é que surgiram os bancos livres, onde todo aquele que atendesse alguns poucos critérios poderia organizar um banco, e aceitar depósitos, entregar cheques, e emitir notas bancárias, que eram uma espécie de recibo que garantia os depósitos. Mas esse sistema “deu pano pra manga”, como gostava de dizer minha saudosa avó, deu muita confusão, havia falsificação de notas bancárias, notas de bancos que não existiam, além do que, os próprios bancos dificultavam a que os portadores dessas notas resgatassem os depósitos, tinha banco que se localizava em lugar de difícil acesso, e o cara que tinha uma nota bancária ficava com preguiça de ir lá resgatar o depósito, e isso fez desvalorizar o valor das notas bancárias que passaram a circular com valor abaixo do  valor nominal delas. Você está entendendo que essas notas bancárias eram um embriãozinho de um CDB, ou seja um título que garantia um depósito!

Aí, vem a Guerra Civil, e a necessidade é que os bancos funcionassem como um mercado para os títulos do governo, o  governo precisava vender títulos para financiar a Guerra Civil, e aí foi criado um sistema bancário nacional, com bancos nacionais e onde as notas bancárias foram padronizadas e regulamentadas, para cada 9 dólares de notas bancárias emitidas o banco tinha que depositar 10 dólares de títulos do governo na autoridade que controlava o sistema monetário. Acabaram com a farra das notas bancárias! E veja que isso, para usar um termo moderno, é uma reserva compulsória pesada, ou seja, a prova de que o dinheiro estava lá para garantir o depósito, e melhor ainda, o dinheiro estava servindo a atividade governamental, uma vez que fora investido em títulos públicos! Quanta diferença dos dias de hoje!

A qualquer momento vou seguir com esse tema – Para que servem os bancos - vem muita coisa de estarrecer, ou eu não me chamo Ivan!

Ivan Siqueira