26 de setembro de 2011

31 – Contabilidade do petróleo

(Ivan Siqueira)


Um economista precisa estar atualizado com sua profissão, e essa atualização se estende a áreas correlatas da economia. Se somos economistas financistas, aí o conhecimento de Contabilidade é muito importante, vamos tratar de dados, de séries de dados, que têm origem na contabilidade. Bem, a contabilidade, em si, não tem sofrido alterações que possamos classificar como importantes que mereça um reestudo, uma vez que na faculdade temos a matéria Contabilidade, mas nesta semana que passou me deparei com algo absolutamente novo, o lançamento do primeiro livro em língua portuguesa sobre contabilidade no setor petróleo, o livro se chama “Contabilidade de Petróleo e Gás”, de Adriano Rodrigues e Carlos Eduardo Silva, publicado pela CENGAGE Learning.

Isso é uma grande novidade, não havia até esse lançamento um livro específico sobre contabilidade do petróleo. O livro tem muitas qualidades, e, tanto assim é, que foi prefaciado por Eliseu Martins, do meu ponto de vista, o maior nome da contabilidade em nosso país. Foi com ele que fomos todos alertados, no final dos anos 80, para os efeitos que a inflação proporciona ao lucro contábil e a alavancagem financeira sob o aspecto contábil. Foi a primeira vez que vi questões econômicas sendo tratadas pelo olhar da contabilidade, Eliseu se tornou uma referência para mim. Assim, receber prefácio de Eliseu Martins já é um sinal de valor do trabalho.

E o livro “Contabilidade do Petróleo e Gás” tem mesmo esse valor. Escrito de forma didática e direta, sem rodeios, tudo o que aborda era necessário. O livro apresenta ótimas noções do mercado de petróleo e gás, dos gastos associados à indústria do petróleo, e a partir daí, aborda os métodos contábeis aplicados nas atividades de extração e produção de petróleo e gás, entre outros , o método full cost accounting.

A abordagem não se limita as normais contábeis brasileiras, o livro trata também de vários tópicos sobre normas internacionais de contabilidade aplicadas à indústria do petróleo. E termina o livro, tratando do caso específico da Petrobrás e os efeitos das mudanças nas demonstrações financeiras da companhia.

Bem, para mim foi uma ótima atualização, saber como os hidrocarbonetos recebem créditos, débitos, saber da classificação dos gastos em gastos de geologia, gastos exploratórios, poços de desenvolvimento, gastos de instalação, gastos de produção, e muito mais. O livro essencialmente contábil, até nos incentiva a desenvolver outros trabalhos, como um livro de Finanças do Petróleo, que seria uma ótima continuidade, fica minha sugestão.

Ivan Siqueira

25 de setembro de 2011

30 - O que é desvalorização do real?

(Ivan Siqueira)

Os economistas tem o seu linguajar, que ficou conhecido como “economês”, e isso nem sempre é do alcance de todos. Nosso blog é para todos, assim, vamos esclarecer um conceito importante, o da desvalorização de uma moeda. Você ouve a toda hora no jornal da televisão, "o real sofreu uma desvalorização de 0,4%", pronto, já dificultou o entendimento do assunto! Mas entender o que é a valorização/desvalorização de uma moeda é muito importante!

Toda moeda tem uma taxa de câmbio, que significa o preço de uma moeda estrangeira expresso em moeda nacional. Assim , podemos dizer que US$1 dólar custa R$1,72, por exemplo. Então, essa é a taxa de câmbio. Perguntamos, o que ela representa, o preço do dólar, ou o preço do real? Representa o preço do dólar. Se desejamos saber o preço do real, devemos dividir 1 por 1,72, fazendo a conta aqui na minha calculadora comprada no camelô, vai dar... US$0,58, ou seja, R$1,00 = US$0,58, esse é o preço do real. Mas, a taxa de câmbio não é o preço do real, mas o preço do dólar: US$1,00 = R$1,72, ou seja, o preço de qualquer moeda estrangeira cotada em real.

Agora, suponha que no período de um mês a taxa de câmbio passou a US$1,00 = R$1,92. O que houve? Tá na cara que houve uma valorização do dólar , ele valia R$1,72 e agora vale R$1,92, mas cuidado, esse não é o linguajar dos economistas, o que você vai ouvir é que houve uma desvalorização do real. Vamos ver, qual é o valor do real agora? Basta dividir 1 por 1,92, fazendo a conta na minha maquininha, dá R$0,52. Você vê, o real valia US$0,58 e agora está valendo US$0,52, o real foi desvalorizado, isto é, o real agora compra menos dólar. Qual a taxa percentual de desvalorização?
(0,52/0,58 – 1) x 100 = - 10,3%

O real sofreu uma desvalorização de 10,3%. Sempre que a taxa de câmbio aumenta é desvalorização do real.
Mas, isso não é tudo. E qual foi a valorização do dólar?
(1,92/1,72 – 1) x 100 = 11,6%
O dólar se valorizou em 11,6%, mas os economistas raramente vão desejar se referir a isso, o que você vai ouvir é “a taxa de câmbio aumentou em 11,6%“, ou vai ouvir que “o real sofreu uma desvalorização de 10,3% com a subida do câmbio”.
Fique esperto, economês é fácil, pelo menos aqui no Economeditando, promessa de escoteiro*!

Ivan Siqueira

* Dizem que um escoteiro cumpre tudo o que promete!

29 - Nem touros, nem ursos

(Ivan Siqueira)

Idéias são idéias, não passam de idéias! O problema é que algumas idéias podem mudar o rumo das coisas, e mudam, e, às vezes, mudam para pior! Não devemos acreditar em tudo sem antes questionarmos o tudo! E, até essa minha idéia, também merece ser questionada, claro!

Uns plasmam idéias, conceitos, e outros repetem esses conceitos, que nem sempre são verdadeiros, algumas vezes são idéias plasticamente bonitas, fazem efeito, mas contém pouco de verdade. Na macroeconomia, por exemplo, existe uma expressão que agrada a todo mundo, é “desenvolvimento auto-sustentável”, quando a gente lê isso pela primeira vez, dá vontade de sair repetindo isso, de tão bonito que é essa expressão, assim, você ouve isso na boca de ministros, presidentes, senadores, e muita gente boa, basta vermos as entrevistas que eles dão, ficou registrada lá no jornal, na TV, eu tenho vários depoimentos guardados de pessoas que propõem caminhos para se atingir o "desenvolvimento auto-sustentável", sem saber que isso não existe! Foi falado um dia por alguém, vem lá da década de 70, e a partir daí, todo mundo enche a boca e manda: “assim atingiremos o desenvolvimento auto-sustentável!”. Mas a teoria do desenvolvimento não parou na década de 70, muita água já rolou!

Não existe desenvolvimento auto-sustentável, pela simples razão de que os mecanismos que geram o desenvolvimento são os mesmos que têm necessidade de encerrar o processo de desenvolvimento, a acumulação de capital se esgota, e deflagra o processo inverso, ou seja, não crescer em determinados períodos é o que permite crescer em outros períodos, assim, crescimento e estagnação andam de mãos dadas a vida toda, precisam um do outro! Mas, vem alguém e tenta nos iludir: estamos quase atingindo o desenvolvimento auto-sustentável! Poderíamos perguntar: em que galáxia?

Conceitos que não são verdadeiros, existem aos montes por aí, e nós devemos saber nos proteger dessas idéias, sempre plasticamente belas, mas frágeis. Na atividade de compra e venda de ações na Bolsa de Valores, está cheio disso! Só existe bolsa porque os preços caem e sobem, caem e sobem, quando os preços caem é a condição para que eles subam mais à frente! É cíclico, eternamente cíclico! Criou-se uma idéia de que na bolsa de valores uns lutam contra outros, criou-se até a figura da luta, touros contra ursos! Que é bonito é, o touro movimenta o chifre de baixo para cima (os altistas) e o urso dá paulada com a pata de cima para baixo (os baixistas). O visual impressiona, mas não existe isso na bolsa, não há disputa de ninguém contra ninguém em nenhuma bolsa de valores. A disputa é de todo mundo com a sua inteligência, ninguém ganha o dinheiro de ninguém, no ato de uma operação, naquele exato momento em que um vendeu e o outro comprou, há, apenas, uma troca de mesmo valor, não há nem perdedores nem ganhadores, se o tempo para ali, um saiu com um valor e o outro ficou com o mesmo valor, o futuro é que vai dar ganhos a um e perdas ao outro! A disputa não é de altistas contra baixistas, não há disputa de ninguém contra ninguém, o dinheiro que um comprador ganha na bolsa não é de quem vendeu a ação para ele, e vice versa, você ganha do futuro, e quando perde, perde para ele também, o que há, é apenas troca de posse! No mercado não há disputa entre pessoas ou grupos, há apenas erros e acertos, em toda operação alguém fez uma coisa certa, o outro fez uma coisa errada, não existem dois fazendo a melhor coisa para cada um, como se fosse possível em uma operação os dois saírem ganhando, o que vendeu diz, “fiz um ótimo negócio vendendo”, e o outro diz, “fiz um ótimo negócio comprando!”, isso não existe, apenas um deles fez um bom negócio, o outro fez um péssimo negócio, sempre. Mas o ganho será dado pelo futuro, o outro está fora do futuro, perdeu para ele mesmo. Mas, isso não é disputa entre os dois, é disputa de cada um com sua inteligência , seu conhecimento, por isso os chamados insiders sempre ganham, mas não ganham dos outsiders como se diz, ganham deles mesmos!

O que você compra na bolsa? Compro ações de empresas. Não, apenas parece que é isso, você compra o futuro! Quando você compra um papel, está comprando um futuro que pode ser bom ou ruim, mas quando você vende, está ficando apenas com o dinheiro que não quis colocar no futuro. As pessoas dizem assim: "Cara, vendi hoje com um ganho fantástico, eu tinha comprado o papel ao valor de..." Esse pensamento é o maior equívoco, porque o ganho financeiro não está no passado, está sempre no que ainda vem. E, também, não está apenas em suas ações na vida, mas inclusive na sua falta de ações na vida! Ocorreu um boom no valor dos imóveis, todo mundo que comprou imóveis ganhou, você não comprou, então perdeu! Não adianta pensar que não perdeu, se tivesse aproveitado o boom de preços estaria melhor do que está hoje, então, é certo, perdeu! Na bolsa é a mesma coisa, você perde e ganha com o que ainda está por vir, e com o que deixou de fazer! É sempre o futuro, o que determina tudo, o que vai valer é o que ainda vem pela frente! Touros e ursos, é apenas um visual, como se a luta fosse com outros, que é bonito é, mas não passa de bonito!

Ivan Siqueira

28 - A Teoria da Classe Ociosa

(Ivan Siqueira)


Alguns pensadores são mesmo geniais. Eu fiquei sabendo da existência de Thorstein Veblen, através da leitura dos livros de John Kenneth Galbraith. Galbraith fez muito sucesso com seus livros, que seguem um pouco a linha de Veblen,mas não me lembro se foi no "A Era da Incerteza" ou no "The Affluent Society", mais provável que tenha sido neste último.

Veblen era um pensador multidisciplinar, misturou sociologia com filosofia e economia, e fez uma obra genial. Sem falar que ele era darwinista, e faz explorações em sua obra usando os conceitos e critérios de Charles Darwin. Ele é nascido em Wisconsin, nos EUA, mas é filho de noruegueses.
Em 1884 ele obtinha o doutorado na Universidade de Yale. Trabalhou na Universidade de Chicago, mas foi expulso por manter relações sexuais com alunas da escola. Em Standfor foi mandado embora porque ele criticava os homens de negócio, os empresários. Ele nunca passou do cargo de professor auxiliar, mas sua pontencialidade como pensador era tamanha que foi escolhido por outros economistas para ser o presidente da American Economic Association.

Sua mais famosa obra é intitulada de “The Theory of the Leisure Class” e foi publicada em 1899. Ele é considerado o precursor da escola chamada de escola institucionalista do pensamento econômico. Essa corrente do pensamento teve como maiores expoentes John R. Commons e Wesley C. Mitchell.

Veblen via a sociedade e a economia como formada por instituições, mas não necessariamente instituições empresas, órgãos, uma instituição era qualquer padrão organizado de comportamento coletivo, como escolas, prisões, bancos, e até a família. E assim ele criticava o pensamento dos economistas neoclássicos que viam a economia através de leis imutáveis, equilíbrio, esses conceitos estáticos. Então ele parte de Darwin e propõe que o fundamental era descobrir o movimento da evolução das instituições econômicas. E daí, nasce a sua teoria da classe ociosa, classe que ele criticou, mas não apenas os ociosos, mas os empresários ausentes(aqueles que não querem nada com o trabalho, e deixam a empresa na mão de outros e só desejam o lucro), e também o problema da ostentação, de uns desejarem ser melhores do que outros, e do consumo conspícuo, desenfreado. Ou seja, Veblen foi um crítico dos verdadeiros problemas que a sociedade ela própria constrói. Ele era um escritor voraz, e com a característica de que tudo era inédito em seu pensamento, um pensador original. Ao contrário do que se pensa, ele não era um pensador marxista, criou a sua teoria como alternativa ao marxismo, ele propunha uma espécie de “socialismo de engenheiros”, que ele acreditava serem os únicos capazes de levar a produção avante e sem a interferência da classe financeira e seus interesses no lucro.

Eu diria que a escola institucionalista merece análises atuais, e continuidade de pesquisa. Aí tem coisa que me parece uma bandeira de muito valor!

Ivan Siqueira

Sua obra literária em filosofia, sociologia e economia:

"Kant's Critique of Judgement", 1884, Journal of Speculative Philosophy
"Some Neglected Points in the Theory of Socialism", 1891, Annals of AAPSS
"Bohm-Bawerk's Definition of Capital and the Source of Wages" , 1892, QJE.
"The Overproduction Fallacy", 1892, QJE
"The Food Supply and the Price of Wheat", 1893, JPE
"The Army of the Commonweal", 1894, JPE
"The Economic Theory of Women's Dress", 1894, Popular Science Monthly
"Review of Karl Marx's Poverty of Philosophy", 1896, JPE
"Review of Werner Sombart's Socializmus", 1897, JPE
"Review of Gustav Schmoller's Uber einige Grundfragen der Socialpolitik", 1898, JPE
"Review of Turgot's Reflections", 1898, JPE
"Why is Economics Not an Evolutionary Science?" , 1898, QJE.
"The Beginnings of Ownership" , 1898, American Journal of Sociology .
"The Instinct of Workmanship and the Irksomeness of Labor" , 1898, American Journal of Sociology . (copy)
"The Barbarian Status of Women" , 1898, American Journal of Sociology .
The Theory of the Leisure Class: an economic study of institutions, 1899 - Copy (1) ; (2)
"The Preconceptions of Economic Science", Part 1 (1899),Part 2 (1899) , Part 3 (1900), QJE;
"Industrial and Pecuniary Employments", 1901, Publications of the AEA
"Gustav Schmoller's Economics", 1901, QJE
"Arts and Crafts", 1902, JPE
"Review of Werner Sombart's Der moderne Kapitalismus", 1903, JPE
"Review of J.A. Hobson's Imperialism", 1903, JPE
"An Early Experiment in Trusts", 1904, JPE
"Review of Adam Smith's Wealth of Nations", 1904, JPE
Theory of Business Enterprise , 1904 - Copy (1), (2)
"Credit and Prices", 1905, JPE
"The Place of Science in Modern Civilization", 1906, American J of Sociology
"Professor Clark's Economics", 1906, QJE
"The Socialist Economics of Karl Marx and His Followers", Part 1 (1906), Part 2 (1907), QJE
"Fisher's Capital and Income" , 1907, Political Science Quarterly .
"The Evolution of the Scientific Point of View", 1908, University of California Chronicle
"On the Nature of Capital", 1908, QJE
"Fisher's Rate of Interest" , 1909, Political Science Quarterly .
"The Limitations of Marginal Utility" , 1909, JPE.
"Christian Morals and the Competitive System", 1910, International J of Ethics
"The Mutation Theory and the Blond Race", 1913, Journal of Race Development
"The Blond Race and the Aryan Culture", 1913, Univ of Missouri Bulletin
The Instincts of Worksmanship and the State of the Industrial Arts, 1914.
"The Opportunity of Japan", 1915, J of Race Development
Imperial Germany and the Industrial Revolution, 1915.
An Inquiry into the Nature of Peace and the Terms of its Perpetuation, 1917.
"On the General Principles of a Policy of Reconstruction", 1918, J of the National Institute of Social Sciences
"Passing of National Frontiers", 1918, Dial
"Menial Servants during the Period of War", 1918, Public
"Farm Labor for the Period of War", 1918, Public
"The War and Higher Learning", 1918, Dial
"The Modern Point of View and the New Order", 1918, Dial
The Higher Learning In America: A Memorandum On the Conduct of Universities By Business Men , 1918 - (1) .
The Vested Interests and the Common Man , 1919
"The Intellectual Pre-Eminence of Jews in Modern Europe", 1919, Political Science Quart
"On the Nature and Uses of Sabotage", 1919, Dial
"Bolshevism is a Menace to the Vested Interests", 1919, Dial
"Peace", 1919, Dial
"The Captains of Finance and the Engineers", 1919, Dial
"The Industrial System and the Captains of Industry", 1919, Dial
The Place of Science in Modern Civilization and other essays, 1919.
"Review of J.M.Keynes's Economic Consequences of the Peace , 1920, Political Science Quarterly
The Engineers and the Price System, 1921. (PDF version)
Absentee Ownership and Business Enterprise in Recent Times: the case of America, 1923.
"Economic theory in the Calculable Future", 1925, AER
Essays in Our Changing Order, 1927.

24 de setembro de 2011

27 – A crise do euro, tem culpados?

(Ivan Siqueira)

Em economia nada é como parece ser, já me acostumei com isso. Quem são os problemas e os culpados pela crise do euro? Todo mundo vai dizer, tá na cara que são Grécia, Espanha e Itália. Mas, a coisa é outra, é o arrocho salarial que a Alemanha vem promovendo nos últimos anos, desejando jogar sua inflação para níveis próximos de zero, quando o combinado entre o bloco do euro era de uma inflação em torno de 2% ao ano. O resultado desse arrocho foi uma geração de renda abaixo da produtividade do trabalho e o sistema de moeda única serviu de artérias que contaminaram os outros países.

Se cada um desses países tivesse sua própria moeda, desvalorizaria a moeda para sair dos déficits comerciais externos, mas a sistemática da moeda única proibe desvalorização do euro, e o Banco Central Europeu não deseja que seu histórico de estatística seja, digamos, “maculado” com uma desvalorização do euro para ajudar a esses países. Conclusão, a Alemanha , como resultado do arrocho salarial programado, tem superávit na balança comercial, enquanto esses outros países tem déficit.

O que faz um país para resolver um problema de dívida? O banco central do país compra os títulos de sua dívida através da emissão de moeda. Claro, joga a inflação pra cima, mas se há desemprego essa inflação pode ser benéfica. Mas se o país não tem moeda própria, como é o caso dos países do bloco do Euro, quem pode fazer isso é o Banco Central Europeu, que não faz por uma única questão, não vai desejar ver seu histórico manchado por uma inflação, digamos, “indesejada”.

Só que, entre melindres, poses, e egos afetados, está um possível e desastroso colapso do euro, e a curto prazo. O que está acontecendo no momento é, exatamente o contrário, o BCE faz aperto monetário, quer inflação baixa e não se decide em comprar a dívida dos países em apuros, porque é dívida podre. Mas, o que vem pela frente, só Deus sabe, Deus e Trichet, o presidente do Banco Central Europeu.

Quando criaram a zona do Euro deveriam ter colocado uma cláusula, o país que causar o problema paga uma taxa aos afetados pelo problema, e nessa, a Alemanha quebrava!

Ivan Siqueira

26 - O mercado de ações e o cosmos

(Ivan Siqueira)

Todo investidor que opera no mercado de renda variável vive um dilema interessante, tem que descobrir o que será o futuro, afinal, ele vive da diferença entre posições que tomou no presente e posições que tomará no futuro, mas para descobrir o futuro, só conta com o passado! É dilema, mas é, ao mesmo tempo, redenção!

Mas, aí é que pode estar o problema. Assim, é no passado que ele procura entender acontecimentos que mostrem a ele como esse passado vai exigir coisas no futuro. Exigir, como assim? Claro, toda operação no presente está a espera de sua recompensa no futuro, assim, no dia de hoje, o que acontece na Bolsa é o reflexo do que aconteceu ontem, a três dias atrás, a quinze dias atrás... Subiu? Claro, porque precisava subir! Caiu? Sim, precisava cair! Parece o óbvio, mas não é, é preciso entender esse “precisava”!

No fim de semana, você vai fazer compras em uma feira livre, comprar legumes ,verduras e frutas, e sempre na barraca do Clemir apesar dos preços estarem afixados nas tabuletas, ele sempre te dá um desconto, pronto, você já advinhou o que será o futuro, na semana que vem ele te dará o desconto também! Quando você descobre que não é apenas ele, naquele mercado, que dá descontos, mas também todos os feirantes, em todas as barracas, quando você vê que dar descontos é mecanismo de venda daquele mercado, você entrou no futuro de forma ainda mais firme, você está entendendo o mercado! O passado sempre revela o futuro! Mas, cuidado, o futuro também precisa revelar o passado e o presente! O que você vai fazer hoje na Bolsa? Depende. Depende de que? Do futuro. Mas o futuro não chegou ainda. Mas ele existe nas intenções de quem operou ontem, de quem opera hoje, e é ele que está moldando o presente!

As técnicas atuais de análise do mercado de ações, no fundo, procuram isso, o que ocorreu no passado que vai se projetar no futuro, seja em repetições exatas, seja em variantes, seja em inversões do passado. De modo geral todos os indicadores, osciladores, rastreadores de tendências, e até mesmo simples figuras que se formam nos gráficos, triângulos, retângulos, flâmulas, cabeça-e-ombro, estão contando a história do passado, e são usadas no que se espera seja o futuro. Até aí, tudo bem, é parecido, com o que eu espero do Clemir! A partir daí, é que começa o problema. Todos os métodos e técnicas de análise só utilizam o passado, mas talvez isso seja o problema, um método mais eficaz deveria fazer o contrário, usar o futuro como justificativa do que ocorreu no passado, melhor explicando, devemos olhar os preços hoje, como resultado do que eles serão no futuro, na lógica das análises atuais, faz-se o contrário, pensa-se assim, “como aconteceu isso no passado, vai acontecer aquilo no futuro!” . Eu estou propondo uma outra análise, que diz assim, “porque vai acontecer isso no futuro é que o presente é esse!”. O que estou dizendo, é simples, é que a análise técnica precisa explorar mais o futuro!

Nunca se vê alguém analisando ações com base no que ocorre com ela apenas hoje, tanto isso é um fato, que a análise técnica exige que se tenha um histórico do movimento dos preços, volume, etc, ocorridos no passado. Linhas de tendência, assim como suportes e resistências, só se formam com acontecimentos no tempo, senão fica impossível de traçarmos essas linhas, mas, estranhamente, não conheço nenhum método que trace um histórico do futuro, com exceção da simetria sanfonada que faz uma pequena parte disso. O estágio em que se encontra a análise técnica, mapeia o passado, mas não mapeia o futuro de forma expandida. Mas, pra que serveria isso? É que o preço de um papel que vigorou no mercado em fevereiro, está refletindo duas coisas, do que ocorreu com esse papel em novembro, dezembro, mas também do que vai acontecer com o papel, nas próximas semanas, nos próximos meses, etc. Esse futuro esperado é o que dita o presente! Mas, esse futuro é incerto, não? Nem tanto, o futuro tem uma componente grande regida pelas intenções tomadas no presente, e o agente se preparou para as intenções futuras. Está todo mundo lá no futuro, e o presente reflete isso! Se é verdade minha tese, é o futuro que tem que ser visto, não o passado.

Um método seguro, seria aquele em que você compra ou vende aquele papel, justificando o que espera de seu comportamento, de sua trajetória, em um bom espaço de tempo no futuro. Mas, isso não é advinhação? Não, cada pessoa que opera no mercado o faz com uma espera de acontecimentos no futuro, cabe a quem analisa, desvendar a intenção da média das pessoas, e sobre cada resultado de sua prospecção para um período, jogar o futuro à frente. O futuro longo, seria apenas um encadeamento de passados justificados. O resultado seria a “vida esperada” do papel, isso me cheira mas eficaz do que a “vida acontecida” do papel. Apenas como exemplo visual, você teria no seu MetaStock projeções para um ano à frente, dia a dia.

Parece fantasia? Que nada, os astrônomos nos avisam com antecedência de anos o que acontecerá com um cometa daqui a 38 anos! E acertam. E por quê conseguem isso? Descobriram o processo científico! E, veja, que esse é um mundo bem maior do o mundo das ações na bolsa de valores! Imagine-se em um ônibus espacial passeando pelo Universo. Sabe-se que o Universo tem aproximadamente a distância de 13 bilhões de anos-luz, e parece ser curvo, as distâncias são medidas de acordo com a velocidade da luz, e a luz se move a 300.000 quilômetros por segundo. Assim, tudo é medido em ano-luz, não tem como medir em quilômetro! Mas 1 ano-luz, é uma distância impensável! Veja só que o perímetro da Terra tem apenas 0,1 segundo-luz, se você passar uma corda em volta da Terra, e esticar a corda tem 0,1 segundo-luz! Da Terra ao Sol, é longe demais, tem 8 minutos-luz, não chega nunca! Mas, logo depois do Sol vem a estrela mais próxima, quando você passar pelo Sol, pergunte pela janela aos soláqueos se a estrela mais próxima já está chegando! Eles vão responder: “Vai fundo, garoto, a estrela Alpha Centauro fica logo aí pela frente, pertinho, a 4,2 anos-luz da Terra!”. Você viu, não é minutos-luz, é anos-luz! Quando você chegar à segunda estrela mais próxima da Terra, Alpha Centauro, que faz parte de bilhões de estrelas da nossa galáxia Via Láctea, pode ser que você tenha vontade de dar uma esticada até uma outra galáxia, sair um pouco da Via Láctea! Andrômeda é a galáxia mais próxima da Via Láceta, siga pra lá no seu ônibus espacial, Andrômeda fica a dois milhões de anos-luz da Terra! Quando daqui olhamos para Andrômeda, a luz dela que chega até nós, saiu de lá a dois milhões de anos luz atrás, o que vemos é uma galáxia antiga, ou seja, o que ocorria lá a dois milhões de anos atrás! Você vê, até a luz procura o futuro! O que está acontecendo hoje em Andrômeda já tem seu futuro determinado!

E nós aqui, desejando usar o passado para prever o valor de uma ação na bolsa de valores no ano que vêm! Tudo bem, tudo certo, como dois e dois são cinco! Vai fundo, garoto!

Ivan Siqueira

23 de setembro de 2011

24 - O risco realimentado pelo mercado

(Ivan Siqueira)

A melhor coisa que existe na vida é concordar. Quando a gente concorda, só arranja amigos! É tão fácil concordar, mas, se discordamos, é inimigo pra tudo quanto é lado! Mas vale a pena discordar, a participação na vida é mais intensa! Se eu tiver que, em poucas palavras, justificar por que os preços caem na bolsa de valores, está na ponta da língua: os preços caem quando aumenta a rentabilidade deles! Você não errou, não? Você não quer dizer o contrário, o preço cai quando cai a rentabilidade dele? Não, é o que eu disse, mesmo!

Cara, vão discordar direto disso! Mas só há avanço se há discordâncias, quando todo mundo concorda passa em branco. É muito bom que a gente possa olhar o mercado de ações como quem vê o mercado de qualquer produto de investimento. Qual a diferença entre comprar sapatos, televisores ou comprar matéria-prima para uma fábrica? É que compramos sapatos e televisores como consumo, e uma empresa compra matéria-prima como investimento. Quando compramos ações na bolsa estamos comprando investimento. Qual a diferença? Investimento tem que render, consumo não, só rende satisfação, prazer, ou como preferem os economistas, utilidade.

Quanto por cento um investimento deve render? Vai depender do tipo de investimento. Errado, absolutamente errado! Todo investimento deve render o que qualquer investimento rende, investimentos que rendem abaixo de outros investimentos , são excluídos do mercado, porque os capitais migram para os que rendem acima. Na bolsa de valores também existe esse fenômeno, toda ação é obrigada a render tanto quanto rende o melhor dos papéis, do contrário seria expulsa. Mas, por que não é expulsa? Porque, em determinado momento, os papéis que rendem bem, perdem retorno, e se igualam aos papéis que rendem pouco. E por que isso acontece? Porque o mercado só sobrevive apresentando riscos, risco é o alicerce do mercado de renda variável, quando acabar o risco, se acabasse, a rentabilidade do mercado cairia, e o dinheiro migraria para títulos sem risco. Onde você iria preferir colocar seu dinheiro, em títulos públicos, ou em uma produtora de petróleo? Pode, uma produtora de petróleo, um dia vir a ser um investimento sem risco? Por outro lado, será que são, os títulos públicos, de fato, investimentos sem risco? Bem, uma coisa é certa, se tem risco , tem retorno compensando o risco. Então, se assim é, todo mundo estaria investido onde o risco é maior. Não, por dois motivos, por causa da aversão ao risco, e por causa da diluição do mercado entre muitos, ou seja, quando todos preferem correr riscos, o aumento da oferta reduz o retorno, e esse retorno mais baixo se torna incompatível com o risco que não caiu, só o retorno caiu, mas ele passa a não compensar o risco, a partir desse ponto, ele reverte, procurando o equilíbrio. Se o risco de um papel caísse junto com o retorno, o preço do papel não cairia!

O homem criou os mercados, e, sabiamente, oferece riscos que são compensados pelo retorno, se você quer ganhar mais, corra os riscos, você pode até sair do mercado com alta rentabilidade, e o risco não te pegou, você apenas se arriscou, mas se deu bem! Mas, isso só esporadicamente, você entrou e saiu e não vai voltar, naquele espaço de tempo, por uma coincidência, o risco não atuou, mas se você ocupa todos os tempos de um mercado de risco, está sujeito a ele, porque o mercado está preparado para o risco te pegar! E como ele te pega? Quando cai a procura, porque não foi compensada pela queda do risco. Então, o mercado é malvado? Não, mercados de risco só sobrevivem se o risco se apresenta, ou melhor se as perdas se apresentam. Mas, o que atraem nesse mercado, então? Riscos positivos, ganhos espetaculares! Mas, por que esses ganhos espetaculares não se perpetuam? Porque aí o mercado deixaria de ser de risco. Mas não seria melhor contar com um mercado inteiro que não fosse de risco? Todas as empresas da bolsa no mesmo nível de rendimento dos títulos públicos, risco zero ou muito baixo, isso não seria o ideal? Isso seria impossível, porque o rendimento de uma ação é o rendimento de uma empresa, de um segmento do mercado, de uma tecnologia, e isso jamais vai ser igual entre todas as empresas, e, muito menos, igual ao setor governo. Assim, vivemos como numa travessia da Niagara Falls, em cima de um fio de aço e carregando uma vara que nos dá o equilíbrio! Mas, pra quê? Pra conseguir chegar do outro lado! Investimentos, são isso, atraem pelo seu final esperado!

Ivan Siqueira

24 - Eratóstenes, esse maluco!

(Ivan Siqueira)

Economia é uma ciência , e ciência se faz com medidas. Mas, muito antes do advento da Economia como ciência(1776), outras ciências já faziam medidas impressionantes! Acabo de me lembrar de Eratóstenes, esse maluco! Um grego que foi filósofo, historiador, matemático, astrônomo, bibliotecário. Ele morreu no ano de 197 a. C. Esse cara mediu o perímetro da Terra, dois séculos antes de Jesus nascer! O pensamento pode tudo!Esse cara, só tinha um bastão e conhecimento científico, mais nada!

Ele vivia no Egito, em Alexandria, mas estando na cidade de Siena, verificou que ao colocar um bastão enterrado no solo, ao meio-dia, não havia sombra do bastão. Ele foi para Alexandria, colocou o bastão, ao meio-dia, e verificou que havia uma sombra do bastão. De cara ele já matou uma coisa: a Terra não é plana, se fosse, as sombras seriam iguais!

Aí, ele mediu o ângulo formado pela sombra do bastão em Alexandria, e verificou que tinha aproximadamente 7º (graus), e entendeu que essa diferença representava a distância entre as duas cidades, e, mais, sua proporção com o perímetro da Terra. A distância entre Siena e Alexandria era conhecida por todos, era de 5.000 estádios. É que não se mediam grandes distâncias com quilômetros, mas com essa medida estádio, que era o tamanho de um estádio grego, daqueles onde se faziam as olimpíadas, etc.

Aí, ele viu que 7º representa aproximadamente 50 pedaços de 360º. O que era esse 360º ? Era a Terra como um todo. Então a distância entre as duas cidades era 1/50 da Terra. Então, ele fez uma continha simples, multiplicou 50 x 5.000 estádios, e encontrou 250.000 estádios. Ele então anunciou, o perímetro da Terra tem 250.000 estádios! Estava dito e encerrado seu trabalho.

Voltemos para os dias de hoje. O tamanho dos estádios gregos era variável, mas os estudiosos sabem que o mais padrão era o estádio com 160 metros, então, em 1 Km cabem 6,25 estádios, e como Eratóstenes mediu a circunferência da Terra em 250.000 estádios, dividindo por 6,25, dá 40.000 quilômetros, que seria o perímetro da Terra em quilômetros. Hoje em dia, por processos modernos, a medida da Terra circundada pelo Equador, é perfeitamente calculada, é de 40.072 quilômetros! Não há erro nas contas de Eratóstenes (o erro é de 0,2%, desprezível)!

O cara só tinha um bastão e ciência na cabeça! Aplausos para esse maluco!

Nota: Siena é uma cidade que mudou de nome, hoje chama-se Assuam. A distância entre Assuam e Alexandria é de 800 kms. Será que é 5.000 estádios divididos por 6,25? Na mosca!

Ivan Siqueira

23 - A teoria da distribuição em Ricardo

(Ivan Siqueira)

David Ricardo foi um economista inglês que nasceu em 1772. Quando ele tinha quatro anos de idade não conhecia, ainda, Adam Smith, mas Smith já nessa época publicava seu famoso livro “A Riqueza das Nações”(1776). Ricardo cresceu, tornou-se um estudioso de economia, e, em confronto com as idéias de Smith, desenvolveu suas próprias idéias.

O que Ricardo desejava era construir uma teoria da distribuição da renda entre as classes econômicas de sua época, as classes de trabalhadores, proprietários de terra e capitalistas. Era preciso ter uma medida de valor, porque a moeda não é uma boa medida. Você vê que até os dias de hoje, tem sempre alguém desejando encontrar uma medida de valor, não é só na teoria, as empresas também precisam disso, por exemplo, o EVA(Economic Value Added) é um pouco isso, uma medida do valor gerado por uma empresa, mas isso é coisa de nossos dias.

Ricardo viveu às voltas com uma medida de valor, e em 1817 publicou sua teoria, cinco anos depois ele faleceu. E qual era a medida de valor? A quantidade de trigo, ele tomou a quantidade de trigo como medida uniforme do valor. Assim, em seu modelo, salário é pago em quantidade de trigo, o lucro dos capitalistas também é em trigo, e até o investimento ele media em quantidade de trigo. Você vê, que coisa genial? Ele sabia que o valor monetário não representa bem o mundo, então, usou a quantidade de trigo para medir tudo!

Para produzir trigo a economia usava dois tipos de insumo, sementes e salários. Então, sementes ele media em trigo e salários também. Como calcular a taxa de lucro? Fácil, é só comparar o lucro com o que se usa para fazer o lucro! Ele mostrava uma fórmula simples, dividir o lucro em trigo, pelos insumos utilizados, que também são em trigo!

Não pense, caro internauta, que isso é coisa do passado, que a modernidade já resolveu essas questões. A coisa é mais profunda! Ricardo sacou que qualquer empreendedor industrial teria que usar um preço de venda (em trigo) e pagar salários (em trigo) iguais aos agricultores, para que o lucro(em trigo) fosse o mesmo dos agricultores, porque, do contrário, se a taxa de lucro fosse maior, alguns agricultores se tornariam industriais, e se fosse menor, alguns industriais se tornariam agricultores! Aí, ele havia feito uma descoberta valiosa para a economia da época, o que determina a taxa de lucro para a economia como um todo é o que se paga de salário para a subsistência do trabalhador na agricultura, e é a taxa de lucro da agricultura que determina a taxa de lucro de toda a economia!

Sua teoria da distribuição estava começando! Agüenta coração! Ricardo vai adotar uma outra medida de valor, o tempo de trabalho. Marx não gostava de ricos, todo mundo sabe disso, e Ricardo era de uma família de ricos, mas, nesse caso, Marx deve ter pensado, “esse cara está se voltando contra ele próprio?”, porque via na teoria de Ricardo coisas surpreendentes, e ele deve ter pensado, “ah! daqui eu sigo em frente!” Mas ele seguiu contestando Ricardo, porque ele enxergou além! Vem aí pela frente, mas Ricardo volta.

Ivan Siqueira

22 - Da Bolsa de Valores até Adam Smith

(Ivan Siqueira)

Nesse post, vou sair de Wall Street como numa máquina do tempo e vou cair lá na casa de Adam Smith, em 1776. Pra começar estou em Wall Street ainda, ou em qualquer Bolsa de Valores do mundo, quem é que não gostaria de saber como se determina o preço de uma ação, até eu! As histórias são muitas, todo mundo tem uma fórmula, ou um conjunto de mecanismos, sistemas, para se chegar a isso. Alexander Welder, em seu famoso livro “Trading for a Living”, observa que o mercado vive de criar gurus, já foi Edson Gould, Granville, Prechter(que ressuscitou as Ondas de Elliot), Bernstein, Steidlmayer(do market profile), Gann, Elliot, e muitos outros. Todo mundo tem a solução, mas a solução é coisa séria, significa entender o que é o preço de um ativo. Quem sabe isso?

Alguns estudiosos apontam um caminho bem determinado, acham que uma ação tem um preço justo, e é isso o que ela vale, em alguns momentos ela pode ter seu preço negociado acima ou abaixo desse preço justo, mas, cuidado, ela vai buscar esse preço justo, hoje ou amanhã! Os que acreditam nisso são chamados de fundamentalistas. Eles têm uma tarefa árdua pela frente, saber como será o futuro, projetar a empresa, descontar o fluxo de caixa a uma taxa de desconto que também depende do futuro, e encontrar assim, o tal preço justo! Enquanto isso, a galera tá no MetaStock procurando outras coisas. Uns gritam para o lado de lá: Hei, tá me ouvindo! Outros, gritam de lá pra cá: Consegue me ouvir! Ninguém escuta ninguém.

Mas, e os livros de Microeconomia, não é lá o lugar certo de se procurar entender como se formam os preços? Ou teoria não vale de nada? Milton Friedman tem um livro de microeconomia, mas botou o nome do livro, o mais certo, o mais direto, não chamou seu livro de Microeconomia, eu tenho o livro dele, chamou de “Price Theory” (Teoria dos Preços), claro, microeconomia não serve para outra coisa a não ser fazer com que entendamos como os preços se formam. Mas, qual preço? Qualquer preço. Se em um livro desses não tem uma explicação de como os preços das ações se formam, eu deveria esquecer a microeconomia, e até fazer um movimento internacional para retirar das universidades uma matéria que não cumpre o que diz ser! Mas, a verdade, não é essa, está tudo lá na micro, sim, não precisa de MetaStock, nem de fundamentalistas, a teoria dos preços só precisa ser olhada com mais cuidado, entendida, a microeconomia é um excelente corpo de teorias, não tem nada fora dali! Mas, a coisa começa lá atrás, em 1776, quando Adam Smith começou a economeditar sobre o que seriam os preços. Ele fez uma descoberta estarrecedora: tudo tem um preço natural e um preço de mercado. Olhe aí, lembrou dos fundamentalistas? Hoje em dia eles falam em preço justo, né, justo ou natural, dá no mesmo, foram buscar lá em Smith! Depois não querem que eu volte ao passado!

Ivan Siqueira

21 - O que rolava antes de Ricardo

(Ivan Siqueira)

Hoje em dia há um imediatismo nas análises econômicas, que prejudicam demais a eficiência dessas análises, todo mundo tem um software que calcula tudo, mas raramente esse software “pensa” em coisas fundamentais, mas houve uma época em que os economistas se preocupavam mais com os fundamentos.

O que é que determina a magnitude de um variável macroeconômica? Por que é que o consumo global atinge determinado valor ao final de um período? Ou, outro exemplo, por que é que o PIB é tanto, e, não, outro tanto? Alguns economistas têm uma resposta firme e segura sobre isso: depende da distribuição da renda entre as várias classes da economia. E quem é que tem uma teoria da distribuição? David Ricardo tem.

Antes de Ricardo, a coisa era assim, Quesnay, fisiocrata, falava em classes de camponeses, proprietários de terra e artesãos. Adam Smith deu uma mexida nisso, e passou a falar em trabalhadores, capitalistas e proprietários de terras. Para Smith o consumo dos trabalhadores esgotava a renda deles, já os proprietários de terras não consumiam toda a sua renda, havia um excedente, e a classe de capitalistas tinha como função acumular esse excedente. Quero apenas destacar, que essa idéia de Smith de que a classe trabalhadora não poupa, foi retomada pelo economista polonês Michal Kalecki e faz parte do seu modelo de análise da dinâmica macroeconômica.

Voltando a fisiocracia. O que permite a produção é o trabalho, mas o trabalho não gera excedente para a classe de trabalhadores, mas gera para a classe de proprietários de terra, excedente esse que é utilizado pela classe dos capitalistas. Como fazer a produção crescer? Aumentando o excedente para que ele gere mais produção, mas para aumentar o excedente, a proposta era a de redução do salário, claro, sobraria mais para o empreendedor. Mas, Smith contestou, Smith achava que era com a divisão do trabalho, ela iria aumentar a produtividade do trabalho, que permitiria a geração do tão desejado excedente. Foi esse pensamento que Ricardo encontrou, e deve ter dito: “deixa comigo!”. Ele tinha uma tarefa, tinha que construir uma teoria do lucro, e ele fez isso, hoje em dia falamos em “teoria ricardiana do lucro”.

Em 1817 ele publicou seu livro “Principles of Political Economy and Taxation” onde apresenta sua análise.

Ivan Siqueira

20 - Escola clássica: isso existe?

(Ivan Siqueira)

Um dia desses recebi um e-mail de um visitante do meu blog, e ele me fez uma pergunta bem legal: por que é que eu não falo dos assuntos atuais da economia e dos economistas da atualidade, e ele citou o nome de vários economistas. A razão é que eu sempre me nego a entender uma coisa, sem antes entender a que lhe serve de base. Vou por passos evolutivos e agregativos, e no momento estou tentando entender a contribuição de alguns pensadores do período clássico e neoclássico, sem isso não dá pra chegar em lugar nenhum.

Mas, a qualquer momento, a coisa vai pegar fogo, porque pretendo comentar sobre as duas propostas mais avançadas em economia, a idéia da desestatização do dinheiro, tornar a moeda um produto que possa ser emitido pelo setor privado; e a idéia da economia participativa, a idéia de que se os salários variassem com os lucros não haveria problema econômico, nem desemprego, nem inflação. Mas, no momento não desejo abordar ainda essas questões, estou lá no passado, porque o que tem de coisa legal por lá, e eu vou perder?

Por exemplo, a chamada escola clássica, isso existe? São pensamentos tão diferenciados e tão díspares que nunca poderiam pertencer a uma mesma escola, mas como tudo na vida, alguém dá um nome, e todo mundo sai repetindo aquilo. O melhor a fazer é ver a contribuição de cada um, e entender como idéias genuínas vão se ramificando.

Terminada a escola fisiocrata, 3 economistas apresentam idéias, Adam Smith, David Ricardo e Thomas R. Malthus. Ricardo e Malthus eram amigos, Malthus nasceu 6 anos antes de Ricardo, e eles trocaram correspondência durante os anos de 1815 e 1823, analisando os escritos deles dois e de outros economistas, e nessas correspondências amigáveis, Malthus se torna o maior crítico que Ricardo já teve. Como dizia aquele personagem do Jô Soares: “Muy amigo!” Malthus é fera, mas Ricardo deu trabalho porque sua contribuição é a prova de crítica, sem falar que foi esse cara que inventou a construção de modelos, onde apenas os elementos relevantes e essenciais de uma análise devem ser objeto da análise. Cada vez que um economista usa o EViews ou mesmo o Excel deveria fazer uma prece por Ricardo!

Mas, o que esse economista fez de tão importante assim? E cabe ainda me perguntar, o que ele fez, alguém já tinha feito antes dele?
Ele simplesmente alertou ao mundo que era preciso entender a distribuição do produto entre as várias classes e agentes econômicos, ele disse, “determinar as leis que regem essa distribuição é o principal problema da Economia Política”. Por aí, a gente já pode ver quem iria pegar a rédea dessa carroça mais a frente, mas com críticas sobre o pensamento de Ricardo: sim, Karl Marx.

Mas, Marx está muito distante das minhas preocupações, ele vai surgir aqui no meu traçado quando muita água já tiver rolado, mas agora eu quero saber desse David Ricardo, ele que foi um corretor de títulos londrino, que se tornou membro do Parlamento, ele cujo pai era rico, ligado ao mercado financeiro e a Bolsa de Valores, ele que a partir de 14 anos já participava dos negócios do pai com corretagem na Bolsa, que teoria da distribuição ele tinha para nos oferecer? Vem aí pela frente...

Ivan Siqueira

19 - O mercantilismo sabia das coisas

(Ivan Siqueira)

Uma coisa que aprendi bem cedo, é que em economia não dá pra perder nada, tudo deve ser aproveitado. E, que nunca devemos subestimar idéias, com coisas do tipo, "isso é coisa do passado!" No passado podem estar ensinamentos valiosos!

No meu post 14 - O xeque–mate de Adam Smith – eu estava pensando sobre a ruptura que se deu com a publicação do livro “A Riqueza das Nações”, de Adam Smith, quando os princípios do mercantilismo foram questionados por Smith.

Acontece que existe um outro lado dessa história e que nem sempre vem a tona, fica submersa, e dificulta entender os dias de hoje, porque nossos dias não são muito diferentes daqueles dias. O fato é que a preocupação que Keynes teve 160 anos após Smith, com a demanda efetiva, já estava contida nas idéias dos mercantilistas, que, por sua vez, chegaram até Malthus. Então, cabe perguntar, será que Smith desviou a coisa do bom caminho que a coisa vinha tomando?

Mas, demanda efetiva nos mercantilistas? Você anda bebendo durante o trabalho, Ivan?
Os mercantilistas sabiam que um déficit no balanço comercial é prejudicial à produção, porque representa uma compressão da demanda efetiva, uma vez que importações são, na verdade, oferta sem contrapartida de demanda. Por outro lado, exportações são demanda sem contrapartida de oferta. Mas, se a situação é de déficit na balança comercial, os mercantilistas sacaram que a demanda efetiva estaria reprimida! Se a gente levar fé que a análise era essa, esses caras não estavam errado em supor que exportações trazendo ouro para a economia, aumentavam a oferta de moeda, que estabilizava a demanda efetiva. Por isso, a bíblia deles era, quanto mais metais preciosos, melhor! Isso seria como um arqueiro acertar na maçã!

Bem, essa análise não está clara nos escritos dos mercantilistas, mas tudo leva a crer que eles sentiam isso na pele. Se é verdade, não sei, mas parece que esses caras também ajudaram a revolução keynesiana! Olhe só o que disse James Stuart, um mercantilista, ele observou que os gastos governamentais, mesmo em “provisões de guerra” criariam emprego. Parece até que é Keynes falando!

O mercantilismo ficou no passado, mas veja o balanço de pagamentos em nossos dias, analise o que ocorreu historicamente com ele em nosso país, tem superávit, tem déficit, e em paralelo tem a economia como um todo mostrando ora desemprego, tem o período do chamado “milagre econômico”, dá pra ver os mercantilistas lá dentro disso tudo! Faça suas análises e me diga se não é fato!

Na história das idéias, tudo se aproveita, se um economista espirra, pergunte a ele: - Espirrou por quê?

Ivan Siqueira

18 - Post suspenso

(Ivan Siqueira)

O post que havia aqui originalmente foi eliminado, ele falava de retratos de economistas que havia na ilustração do blog, mas a nova apresentação foi substituida, e a referencia aos economistas que apareciam nos retratos ficou sem sentido.
Ivan Siqueira

17 - Dois tempos, duas lições

(Ivan Siqueira)

Houve uma época em que eu escrevi vários artigos sobre economia para um conhecido e importante jornal do país. Os artigos versavam sobre economia, mercado financeiro e finanças de empresas. Eu enviava meus textos diretamente para o editor de economia do referido jornal. Quase sempre, o texto era publicado um ou dois dias após. Eu comprava o jornal e levava o texto para a universidade onde dava aulas de finanças, e discutia o texto com os alunos.

O jornal tinha alcance, era lido por todo o mundo financeiro, e eu me lembro de um artigo onde eu questionava determinado ponto da política de controle de preços, e por uma coincidência, no dia em que o jornal publicou meu texto, eu tinha um encontro com o professor Mário Henrique Simonsen, na sua sala de trabalho, tratávamos de outro assunto, eu estava acompanhado de um colega, e o professor me surpreendeu dizendo que ele tinha lido meu artigo pela manhã, e que eu tinha razão no meu questionamento. No táxi, de volta para a empresa onde eu trabalhava, meu colega disse: Cara, aprovado por Simonsen! E eu disse: É, alguém tem que gostar!(e rimos).

Mas, nem tudo são flores. Até que um dia, um dos textos não foi publicado pelo jornal. Três ou quatro dias se passaram e o texto não foi publicado. Liguei para o jornal e procurei saber do editor, qual teria sido o problema, e ele me disse mais ou menos assim:
- Sabe, Ivan, esse texto está muito técnico, é só para economistas, mas o jornal é lido por todo mundo, sabe como é que é, você pode tornar o texto mais accessível? – pediu ele.
Bem, eu não tornei o texto mais accessível, não por vontade de não fazê-lo, não conseguia mesmo, alguns pensamentos não são fáceis de serem transmitidos a não ser pela via técnica. Ficou sem publicação esse texto. Mas serviu de lição: não escreva para economistas!(risos)

Agora, na semana passada, encontrei um velho amigo, e almoçamos juntos, e eu falei do blog Economeditando. Ele é médico. No mesmo dia ele acessou o blog e me mandou um e-mail:
- Ivan, gostei do seu blog, mas não entendi nada.

No seu e-mail, meu amigo médico me diz que ele gostaria sim de entender os princípios da economia e finanças, dizendo que pelo fato de que ele é sócio cotista de uma clínica médica, necessita entender o que acontece com o mundo financeiro, etc. Ele diz, que não entende essa coisa de juros, banco central, câmbio... o que não é de se admirar. Em minha resposta ao meu amigo, eu prometi que vou escrever um texto sobre o assunto de interesse dele, e já adiantei para ele o nome do post, eu disse, procure por “O que está por detrás da moeda”. Essa, estou devendo a ele!

Bem, alguns anos depois da primeira lição lá com o jornal, eu recebo essa outra lição. Não faço o blog Economeditando para economistas, escrevo para exercitar o pensamento, a ligação entre os vários meandros da economia, escrevendo e registrando eu tenho um fio condutor de pontos onde desejo chegar, esses pontos estão distantes, nem sei se chegarei neles, mas o fato é que essa prática organiza minhas diretrizes. Entendo que o meu amigo médico tenha alguma dificuldade de entender os assuntos, imagine se alguém encontra um termo como “propensão marginal a consumir” , e não tem uma explicação do que seja isso, realmente, como vai entender o que seja? Mas, aí, surge um conflito, é que o blog é lido por internautas, e se eu escrevo para que alguns não entendam, pra que escrever?

Por outro lado, o trabalho de um economista não é escrever textos para blog, isso é apenas uma grande oportunidade que me é dada, nesses tempos fabulosos de Internet, de tornar mais claro o objeto da Economia, e poder colocar esse tema ao alcance de todos. Assim, essas duas lições servem para mim, e me aconselham a olhá-las com mais cuidado. É o que eu vou fazer.

Ivan Siqueira

16 - A inflação não é um refugo

(Ivan Siqueira)

É muito diferente a visão de um economista da visão do senso comum sobre o que seja a inflação. Uma das visões mais equivocadas, inclusive pelo jornalismo econômico, é sobre aumentos de preços na economia, os preços dos bens e serviços. O senso comum acha que qualquer aumento de preços é ruim, é prejudicial à economia, pensa-se que toda inflação em patamar mais elevado é pior do que inflação em menor patamar, em resumo, pensa-se que inflação é coisa ruim, sempre! Mas, um economista tem o direito de contestar idéias como essas, e esclarecer, existe inflação boa e desejada!

Existem 3 grandes preços em qualquer economia de mercado: a taxa de câmbio(o preço da moeda estrangeira), a taxa de juros(o preço do dinheiro) e a taxa de inflação(o preço dos bens e serviços).

Veja bem, a taxa de câmbio deve flutuar, porque só flutuando ela pode fazer correções na economia, quando ele se encontra em desequilíbrio o banco central atua, modificando seu nível. Fora o banco central, mecanismos outros naturais também atuam alterando a oferta e demanda de moeda estrangeira. Quer dizer, a taxa de câmbio pode se mover e ninguém reclama, mesmo quando a moeda nacional vai se desvalorizando, o senso comum aceita que isso é uma defesa da economia.

A taxa de juros também funciona assim, ela pode se mover livremente, quando a inflação está elevada, a taxa de juros subindo, reduz investimentos e consumo, e isso, pensa-se, traz a inflação para níveis menores. Pode ocorrer o contrário, uma necessidade de redução da taxa de juros, de modo a incentivar a demanda, o crescimento da economia. Quer dizer, a taxa de juros também pode se mover e ninguém reclama, o senso comum aceita que taxas de juros variáveis são normais na economia.

O que não dá para entender, é por que o senso comum não aceita inflação, pensa-se que toda inflação seja ruim, inflação é o capeta! Desculpe dizer, inflação não é refugo! Por que os preços não podem subir também, funcionando como estabilizadores, tanto quanto a taxa de câmbio e a taxa de juros? Os preços são o mais natural elemento de uma economia, se considerarmos ambientes não oligopolizados, concorrenciais. A chance de manipulação equivocada da taxa de câmbio e da taxa de juros, por políticas econômicas que não estão convenientemente colocadas, é grande, já quanto aos preços, eles vão para patamares buscando equilibrar oferta e demanda naturalmente, o que significa dizer que toda inflação é necessária, e toda inflação é a defesa do nível de emprego, os preços sobem para evitar jogar o empregado na sarjeta. Se você atua sobre essa inflação com mecanismos artificiais, tem que pagar o preço de ver as filas de gente procurando emprego aumentadas. Isso pode, desemprego pode, mas, inflação, não?

Nos jornais, às vésperas do reveillon, está lá: o governo conseguiu, é a menor inflação dos últimos anos! Nas urnas, o cara pensa, vou votar nele, ele conseguiu, é a menor inflação de todos os tempos, é fantástico! Nas ruas, um mundo de gente que deseja trabalhar não consegue emprego, o senso comum jamais vai saber que quem desempregou essas pessoas foram os preços, a inflação baixa. O que eu acho, é que não é só o senso comum que tem dificuldades de enxergar a economia, tem mais gente nisso!

Ivan Siqueira

15 - O xeque-mate de Adam Smith

(Ivan Siqueira)

Alguém já disse que os três livros que mais beneficiaram a humanidade, são a “Bíblia”, “O Capital” (Karl Marx) e a “Riqueza das Nações”(Adam Smith). Há quem discorde de um ou outro, e há quem discorde dos três. Eu concordo com os três, cada um desses livros toca em algum ponto de nossas vidas, mas, o livro de Smith toca fundo demais!

Acabo de me lembrar de uma história muito interessante, coisas do xadrez. Conta-se que havia um jogo de xadrez marcado, entre dois bons jogadores, mas um deles faltou, e um menino de 10 anos se ofereceu para jogar no lugar do faltante. O adversário estranhou, mas a platéia sabia que o menino jogava e incentivou o jogo, e o jogo teve início. A certa altura do jogo, o menino já com grande vantagem, o adversário mostrou-se irritado em estar perdendo. De repente, o garoto dá xeque-mate e vence o jogo, e sai correndo para casa com medo do adversário!!! (risos) Acho muito legal essa história! O menino era François-André Philidor, que depois de adulto tornou-se uma referência no xadrez, ele criou uma jogada que ficou denominada como a “Defesa Philidor”.

Lembrei dessa história agora, porque Adam Smith fez algo parecido, não quando menino, mas quando escreveu seu livro “A Riqueza das Nações”, ele deu um verdadeiro xeque-mate no pensamento reinante, em especial no mercantilismo. O que os mercantilistas acreditavam e propunham abertamente é que o bem estar e a força econômica de uma nação derivava da acumulação nacional de metais preciosos. E, quem acreditava nisso? Todo mundo. O pensamento mercantilista era coerente, sim, os escritos pareciam científicos, como contestar isso?

Smith pensava, só pensava, pensava tanto que, conta-se que um dia ele estava em casa de roupão, uma peça íntima que o homem jamais deveria se mostrar em público assim, mas ele foi para a rua, pensando, e andou alguns quilômetros, até dar-se por si, que estava vestido assim!

Em meio a esse ambiente onde dominava soberano o pensamento mercantilista, Adam Smith aparece com seu livro, e move uma peça do tabuleiro, e fulmina o passado, xeque-mate: a riqueza de uma nação está na produtividade da força de trabalho, com ela, não haveria necessidade de se preocupar com o estoque de ouro, ele apareceria!

O resto, todo mundo sabe, tudo o mais veio daí!

22 de setembro de 2011

14 - Fisiocratas e estruturalistas

Ivan Siqueira

Economia é uma coisa muito legal, porque nos faz pensar, e será que pode existir algo melhor do que pensar? Mas, por que pensar no que já passou? Olhe aí na tua frente o mercado financeiro, home brokers, o mundo explodindo em interatividade, vai pensar em fisiocracia! É que o passado pode ter sido mal aproveitado. O pensamento econômico, ele se desenvolveu no tempo através de agregações, uns pensam e outros pensam depois, e a coisa foi se formando, mas existem dois problemas: rupturas e descontinuidades. Com rupturas eu quero dizer idéias que foram abandonadas, e, com descontinuidade, estou sugerindo que algumas idéias não tomaram o melhor caminho que poderia ser tomado.

O primeiro pensamento científico sobre economia é considerado a fisiocracia. Essa escola teve vida curta, apenas 20 anos! A economia era vista como um subproduto da terra, da natureza, mas isso não era o mais importante, mas sim a primeira idéia de que o mundo pode ir por si mesmo, a questão está em se descobrir como permitir ao mundo que ele vá por si mesmo! Eu diria que essa é uma idéia genial, ainda mais porque eu gosto de cosmologia, veja o Universo, que perfeição, bilhões e bilhões de astros em perfeita harmonia. Ninguém choca com ninguém! Sabem por que? Não tem a mão do homem! O máximo que o homem pode fazer é rebaixar um planeta, como fizeram com Plutão, só porque ele entra na órbita de Netuno, aí foi humilhado, coitado, deixou de ser planeta. Mas, ele não está nem aí para nada disso, continua na mesma órbita, como a milhões de anos. Ah! Se a economia fosse o cosmo! Mas, não é!

Um economista clássico, ele não espera essa ordem natural, mas acredita que produzir é a condição necessária e eficiente para criar procura pelo que foi produzido. Mas deu de cara com um economista keynesiano que diz,”nem sempre, não basta produzir, tem que haver demanda efetiva por essa produção!”. Ai, ia passando um economista estruturalista, e ele lembrou que isso não é o caso geral, pode haver insuficiência de oferta setorial, ele aprendeu isto na Cepal (Comissão Econômica Para a América Latina), nos anos 50, no Chile. O que esses estudiosos viram? Viram que havia uma indústria amarrada, e o próprio crescimento econômico, que apesar de ter demanda potencial não encontrava resposta da oferta agrícola, era uma espécie de “eu quero comprar, mas você não quer produzir!” , a resposta era “eu não produzo porque não tem procura!”, e os estruturalistas rebatiam, “não, você não produz porque sua oferta agrícola é inelástica, enquanto sua estrutura agrária for de minifúndios e latifúndios, enquanto a manufatura for privilegiada pelo governo, enquanto o setor agrícola e suas técnicas não for desenvolvido, e enquanto essa estrutura tributária não fizer a receita acompanhar os gastos, sem conversa!

Você viu, os fisiocratas, aquele grupinho que só durou 20 anos, de 1756 a 1776, via na economia problemas ao inverso dos estruturalistas do século XX, para eles, os impostos eram demais, e emperravam o crescimento, e propuseram que a tributação fosse feita sobre o que eles chamavam de produt nuit (produto líquido). Aqui, eu alerto para uma ruptura do pensamento econômico, parou no tempo essa idéia, a de que impostos não podem destruir a criação de renda, e hoje, impostos são desestímulos, qual o imposto que me propõe, “se você produzir mais a tributação favorece seus investimentos , seus negócios!”. Assim, ao que parece , fisiocratas e estruturalistas, embora com posições até opostas, estavam além do nosso tempo! Está na hora de rever rupturas e descontinuidades! Por isso, eu gosto de voltar no tempo, como fazem as órbitas dos planetas!

Ivan Siqueira

13 - A moeda e os quantitativistas

(Ivan Siqueira)

Os estudos sobre economia monetária apresentam um marco em 1922, quando o economista norte-americano Irving Fisher publica seu famoso livro “The Purchasing Power of Money”, e equaciona a teoria quantitativa da moeda na forma amplamente conhecida:

MV = PT

Não foi Fisher o primeiro a pensar nessa questão. No ano de 1886 um astrônomo interessado em economia, Simon Newcomb, escreveu um livro intitulado “Principles of Political Economy” onde apresentava uma idéia monetarista, ele dizia que:

VR = KP

V ele dizia que era o volume de moeda, R era a rapidez de circulação da moeda, K era o volume de bens e serviços adquiridos em determinado período, e P era nível de preços. Em suas idéias, ele dizia que um aumento de V afetaria P. Mas não fez considerações sobre se aumentos de V poderiam afetar a K, ou seja, a atividade real.

Na equação de Fisher, M é a média do volume de moeda em circulação, ou seja, a oferta monetária, V é a velocidade de circulação da moeda, P é uma média ponderada dos preços dos bens e serviços(é conhecido como índice de preços de Fisher) e T é o volume de bens e serviços negociados.

Fisher foi um dos economistas que mais refletiu sobre o que acontece com a economia do ponto de vista da moeda, ou seja, ele desejava saber que efeitos surgiriam de alterações nas variáveis de sua equação de trocas. E ele tinha 3 conclusões:

1 – Se V e T permanecerem fixas enquanto M varia em qualquer proporção, o lado monetário da equação, variará na mesma proporção, e, portanto, seu igual, o lado de bens, deve variar também na mesma proporção.

2 – Se M e T permanecem invariáveis, enquanto V varia em qualquer proporção, o lado monetário da equação variará na mesma proporção e, portanto, seu igual, o lado de bens, deverá variar na mesma proporção, conseqüentemente, P, os preços, variarão na mesma proporção, ou alguns mais e outros menos de modo a compensar-se.

3 – Se M e V permanecerem invariáveis, o lado monetário e o lado real permanecerão também invariáveis. Conseqüentemente, se T (as quantidades dos bens) variassem numa proporção determinada, P (os preços) variariam todos na proporção inversa, ou alguns mais e outros menos para compensar-se.

Como dizia minha avó, “aí tem pano pra manga!” A primeira dúvida nossa deveria ser, o que será que Fisher pensa sobre V , seria uma constante (essa é uma visão ingênua), e onde entra a taxa de juros nessa história daí?

Bem, isso Fisher abordou na sua teoria do ciclo de crédito, assunto para outra hora. Sem minha avó para atrapalhar!!!

Ivan Siqueira

12 - A herança deixada por Keynes

(Ivan Siqueira)

Depois do ano de 1936, quando foi publicado a “Teoria Geral”, tudo passou a girar em torno de Keynes, sua obra é tão potente, e tão surpreendente, que a vida bem que poderia ser classificada em a.K.(antes de Keynes) e d.K.(depois de Keynes). Eu me volto para esse tema apenas porque acho que isso é um grande problema para nós que vivemos nos dias de hoje, e entendo que o papel de um economista é contribuir para por fim a essa herança, muitos o tem tentado, com algum sucesso.

A herança keynesiana não é um mal, a contribuição de Keynes é simplesmente fantástica, valiosa por demais, não apenas a dele , mas a de muitos economistas que estenderam suas idéias, seja, dando apenas um nome a um mecanismo proposto por Keynes, como é o caso do conceito de “multiplicador” da renda, o conceito é de Keynes, mas sabemos que o nome foi dado por Richard Kahn, em seu artigo “The Relation of Home Investiment to Unemployment”, para o The Economic Journal, ou por contribuições novas como as que foram oferecidas pelos pós-keynesianos. A vida passou a ser vivida por pré-keynesianos, keynesianos, neo-keynesianos e pós-keynesianos.

Você, ainda estudante de economia, é um privilegiado, você ainda não foi “moldado” pelo sistema, nem pelo keynesiano, nem por qualquer outro. Você tem um mundo imenso à sua frente para desenvolver sua profissão, e isso é ótimo! Suponha que a grande engrenagem keynesiana contenha uma falha fatal, e que você perceba essa falha, isso pode afetar todo o pensamento keynesiano, neo-keynesiano e pós-keynesiano, e eu diria, até as idéias pré-keynesianas. A partir de sua descoberta, o mundo pode ser outro.

Mas, onde pode estar uma falha dessas? Eu não sei, mas você pode encontrar isso! Vamos supor que você fez essa descoberta, fez medições tem as conclusões de seus estudos, e tem uma notícia para dar ao mundo acadêmico e ao mundo em geral, aos trabalhadores, aos empresários, aos exportadores, aos construtores, às donas de casa, aos desempregados! Você publica seu trabalho, e lá está sua grande descoberta, e ela vai causar o maior furacão, ou erupção, ou uma onda de ventos suavizantes para a economia e para a vida em geral. Você descobriu que:

O consumo não é uma função da renda!

Os efeitos de sua descoberta serão devastadores, a economia pré-keynesiana entra em alta, a “Riqueza das Nações”, vai vender mais do que a revista Playboy, e quem sabe sua descoberta acabe com o desemprego no mundo!

Ainda que esse post possa parecer uma fantasia, ele é muito sério, porque deseja tocar em um ponto fundamental do trabalho do economista, as transformações do pensamento econômico se dão em espaços de tempo extensos, e as idéias econômicas só mudam se você se interessar por avaliar em seu trabalho idéias consagradas e aparentemente intocáveis, foi assim que Keynes, Phillips, etc, fizeram, por isso obtiveram grandes resultados, quebra do paradigma.

Na verdade, a grande herança que Keynes nos deixou foi sua coragem, a coragem de questionar o mundo antes dele! Como ele diz na introdução do seu livro:

"Denominei este livro “A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”, dando especial ênfase ao termo geral. O objetivo deste título é contrastar a natureza de meus argumentos e conclusões com os da teoria clássica, na qual me formei, que domina o pensamento econômico, tanto prático quando teórico, dos meios acadêmicos e dirigentes desta geração, tal como vem acontecendo nos últimos cem anos."

Bem, quanto ao consumo, até prova em contrário, ele é mesmo uma função da renda, mas está aguardando suas avaliações, se o mundo pode ser melhor no futuro, é essa profissão que pode torná-lo assim, mas , certamente, passando antes por você!

Ivan Siqueira

11 - Mas Keynes achava que sim

(Ivan Siqueira)

(antes leia o post 3)

Recebi um e-mail muito interessante de um internauta que não concorda com o que eu disse no meu post nº 3 - O que nos ameaça? O futuro.  Mas o internauta não deseja que o comentário dele vá para o ar, apenas quis mostrar seu ponto de vista. Ok, mas vou comentar o conteúdo de sua dúvida.

Em primeiro lugar, ele me diz que o nome do livro de Malthus não é “Principles of Political Economy” como eu disse lá no meu post, mas sim, “Principles of Political Economy Considered With a View to Their Practical Application”. Bem, ele está absolutamente certo, é que eu não coloco o nome completo porque é extenso, e algumas vezes escrevo apenas “Principles”, se as pessoas acompanham esses assuntos, já sabem do trabalho a que estou me referindo. É apenas por esta razão. Veja o caso do livro de Adam Smith, “A Riqueza das Nações”, o nome original, todos sabem, é “An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations”. Já pensou, escrever isso a toda hora! Mas, o colega está certo.

Mas, a dúvida dele é muito legítima, eu também já tive essa mesma dúvida. Ele questiona o fato de eu ter dito que o sistema keynesiano é na verdade malthusiano. Primeiramente, não sou eu que questiono, são muitos estudiosos, mas também não é bem assim, o que eu desejei dizer é que Malthus é um precursor de Keynes. Mas, eu sei que nem todo mundo concorda com isso. Em 1958 um economista chamado B.A.Corry escreveu para o The Economic Journal negando que Malthus seja precursor de Keynes, seu artigo se chama “Malthus and Keynes – a Reconsideration”. Cada um interpreta de um modo.

A questão mais importante é que Ricardo dominava o pensamento, digamos, “macroeconômico” da época(eu sei que a macroeconomia não tinha nascido ainda) e pensava coisas assim, “todo homem frugal é um benfeitor público”, Malthus via nisso um perigo, e dizia que “o princípio da poupança, se levado ao excesso, destruiria o motivo da produção”, e dizia ainda que “se a produção está excessivamente acima do consumo, o motivo para acumular e produzir deve cessar por causa da falta de vontade de consumir”.

Olhem só para isso, estava tudo ali, mas é escrito, é teoria econômica, vai depender de alguém ler isso e dar prosseguimento, foi o que Keynes fez, um século depois. Imagine esse livro de Malthus em uma estante, parado ali, empoeirado, sem ninguém para desejar entender se ali dentro tem algo que pode salvar a vida, a humanidade! Muitos o leram, mas não perceberam a grandiosidade desse cara e suas idéias, mas Keynes percebeu e construiu sua grandiosa obra. Para mim, Malthus é mais do que precursor de Keynes, é sócio! E, Keynes, o que pensava Keynes sobre a contribuição de Malthus? Keynes escreveu em seu “Essays in Biography”:

“Se apenas Malthus, em vez de Ricardo, tivesse sido a fonte de origem da Economia do século XIX, que lugar mais sábio e rico seria o mundo de hoje!”

Ivan Siqueira

10 - Efeitos distributivistas da moeda

Ivan Siqueira

(Antes leia o post 9)

Um outro pensador que muito contribuiu para o entendimento da moeda foi Richard Cantillon. Ele tem uma história terrível, morreu em um incêndio em sua casa em Londres, com suspeitas de ter sido provocado criminosamente por seu cozinheiro.

Cantillon escreveu um livro de muita importância para a economia de sua época, “Ensaios Sobre a Natureza do Comércio em Geral”. Stanley Jevons adorava esse livro de Cantillon, e o considerava o melhor pensamento antes de Adam Smith.

Cantillon participava da idéia de Hume, da não-neutralidade da moeda a curto prazo, e ia além, via efeitos distributivistas na moeda, transferência de renda ao lucro, em detrimento de salários, e isso provocaria aumento da demanda por trabalho, redução de juros e transferência de consumo para investimento. Tudo no curto prazo. Como dizia minha avó, “aí tem pano pra manga!”, quer dizer, tem é coisa pra se ver! Não é a toa que, quando o monetarismo renasce das cinzas, isso tudo volta a tona. Cantillon foi o primeiro economista a pensar que a moeda tem velocidade, variável a cada momento, ele foi quem primeiro falou em “velocidade de circulação da moeda”.

A partir daí, as bases para a teoria quantitativa da moeda estavam formadas. Foi preciso apenas Simon Newcomb dar o chute inicial, a bola bateu no pé de Marshall, tabelou com Pigou, e Irving Fisher fez o gol! Falo disso a qualquer momento.

Ivan Siqueira

9 - Iniciando na moeda

(Ivan Siqueira)


Nesse post pretendo pensar um pouco sobre os primeiros esforços que se fez para entender a moeda e sua função na economia, bem como sua relação com as variações nos preços.

A preocupação com isso, vem desde o Código de Hamurabi(séc. XVIII a.C.), depois vieram especulações dos gregos, Platão e Aristóteles(séc. V e IV a. C.) e já na Idade Média, por Nicolau Orésme, mas foi a partir de Jean Bodin(1569) que as relações entre preços e moeda começaram a tomar corpo. Veja que ele era um filósofo, não um economista, mas levantou a hipótese de que o acréscimo dos preços dos bens e serviços em vários países europeus resultava do ingresso de metais preciosos, que vinham das colônias espanholas da América. Aí estava a primeira idéia de que a moeda causa movimentos nos preços.

Em seguida, vários pensadores aderiram a esta idéia. John Locke, em 1691, trouxe uma colaboração nova, admitia que os preços variam na exata proporção da quantidade de moeda em circulação, o que significaria dizer que se a quantidade de moeda em circulação aumenta 30%, os preços aumentariam 30%. Hoje, dificilmente um teste econométrico confirmaria isso, mas Locke estava dando um passo muito importante, porque daí passou-se a pensar na neutralidade da moeda, ou seja, é possível que a moeda não tenha efeitos sobre a economia real, produto, emprego, etc, mas apenas sobre os preços. A coisa começava a ficar muito legal!

Aí, surge uma outra colaboração, a de David Hume, filósofo também. Ele viveu à época de Adam Smith, e em 1752 botou mais lenha na fogueira, propondo que se investigasse a ordem da causação entre moeda e preços, ou seja, quem causa quem? Ele diz que é a moeda que causa variação de preços, e não o contrário. Mas, ele deu uma outra contribuição, dizendo que deveria haver uma estreita relação entre quantidade de moeda e quantidade de bens no mercado, a estabilidade da economia deveria respeitar isso. Hume foi claro, sabia que no curto prazo a moeda não é neutra, ou seja, afeta sim a economia real, mas descobriu que a moeda não pode afetar para sempre, ad eternum, ou seja, a longo prazo, o produto, o emprego, a economia real. Outra de suas contribuições, é que ele alerta para uma defasagem entre variação da moeda e variações de preços, quer dizer, não é imediato, vem depois de um certo período. Isso, foi um avanço, porque é como se ele nos alertasse para pensar a economia dinamicamente. Isso é quente, veja que Milton Friedman, já nos nossos dias, embarcou na idéia de Hume do postulado da não neutralidade a longo prazo.

O assunto é extenso, e vamos seguir nele.

Ivan Siqueira

8 - Taxa média: isso não existe!

(Ivan Siqueira)

A conversa é velha, mas as atitudes não mudam. Todo mundo está cansado de saber que o dinheiro vale no tempo, mas ninguém o avalia assim, fica uma coisa apenas da boca pra fora. Mas em qualquer livrinho de matemática financeira tá lá o aviso: gente, o dinheiro vale no tempo! Mas o pior, é quando questões econômico-sociais são colocadas no mesmo plano.

Suponha dois países. O país A apresentou taxa de crescimento do PIB em dois anos consecutivos, de 2,5% e 6%, enquanto o país B cresceu nesses dois anos, a 6% e 2,5%. Sempre haverá alguém pra dizer: empatou! Nesse “empatou” a avaliação é de que ambos cresceram 8,65% nos dois anos (taxa acumulada), e ainda vai aparecer alguém pra falar em taxa média, vão dizer: “ a taxa média de crescimento dos dois países é de 4,24%: empatou.”

Basta que você veja alguém falar de taxa média de crescimento do PIB, não precisa nem estar comparando com nada, calculou taxa média, está cometendo um erro gigantesco, não existe taxa média quando se trata de recursos financeiros e monetários, taxa média pode ser calculada para crescimento de uma planta, do tamanho do Universo que está em expansão, da quantidade de chuva que cai na cidade de Londrina, do fluxo de carros que passam pela ponte Rio-Niterói, mas botou dinheiro no meio, pode esquecer taxa média, é um conceito absolutamente vazio e errado, e que não permite nenhuma conclusão.

Suponha que você aplique todos os seus recursos a uma rentabilidade de 12% ao ano, quer dizer, qualquer dinheiro que bata em sua mão, você tem aplicação para ele a 12% ao ano. Em finanças, costuma-se chamar essa taxa de taxa mínima atrativa. Você tem $1.000 para aplicar, e duas alternativas se apresentaram. Na alternativa A retorna $300 no ano 1 e $800 no ano 2. Na alternativa B, retornam $800 no ano 1 e $300 no ano 2. Em qual das alternativas você coloca seu dinheiro? Ninguém vai dizer empatou! É visível que a alternativa B é claramente superior, porque ao receber seus $800 no ano 1, você o aplica a 12% até o final do ano 2, enquanto que na alternativa A, o dinheiro que entrou primeiro foi apenas $300. Tudo tem que ser avaliado no tempo, não tem quem não saiba disso!

Visto de outro modo, a taxa de retorno do investimento B é superior ao do investimento A. Em finanças raramente alguém bobeia com isso, claro, dói no bolso, mas em macroeconomia ninguém liga para isso, e aí saímos calculando taxa média disso, taxa média daquilo. E eu pergunto, taxa média para enxergar o quê? Taxa média, isso não existe! O que temos que fazer é crescer o quanto antes, investir o quanto antes, consumir o quanto antes, todo valor no presente vale mais do que ele mesmo no futuro! Até o conceito de eficiência marginal de Keynes, já avisava disso, esse mesmo Keynes que hoje dizem ultrapassado. Têm que me provar essas coisas, e sem taxa média, por favor!

Ivan Siqueira

7 - Ideologia ou ciência

(Ivan Siqueira)

Estudei economia em uma época muito fértil da vida nacional, mas de muita repressão, por um lado a repressão do poder, por outro lado a repressão intelectual, e eu, ali, no meio das duas, doido para ser livre!

As pessoas se dividiam ideologicamente entre posicionamentos de direita e de esquerda, e uns criticavam outros ferrenhamente. Eu desejava fazer ciência, e tinha que me livrar da saraivada de balas que voavam de um lado para o outro. Se algum estudioso usava o nome de Marx em seus estudos, era imediatamente carimbado: marxista. Se por outro lado, alguém propunha, avaliar os trabalhos de Walras, Jevons, Mashall, o patrulhamento ideológico de esquerda, carimbava: marginalista!

Esse termo “marginalista”, por acaso estava certo, aqueles pensadores formavam mesmo uma escola em economia denominada marginalista, porque utilizavam o princípio da utilidade marginal, mas o carimbo fazia qualquer um se sentir um verdadeiro marginal!(risos)

O que nenhum dos lados sabia, era que todo pensamento é enriquecedor, você encontra na teoria marxista e na marginalista elementos valiosos, que, sem eles, o mundo não seguiria adiante. Alguns economistas brasileiros foram importantíssimos para nos livrar dessa prisão intelectual, na medida em que destacavam em seus escritos a colaboração científica de um pensador, sem se preocupar com o viés político dele, sem uma barreira ideológica, eu destaco entre eles, os dois principais, Simonsen e Bresser-Pereira, eles estavam preocupados com o que há de científico na Economia.

Em 1958, Phillips sugeriu que a taxa de crescimento dos salários nominais fosse função decrescente da taxa de desemprego. Surgia aí, a curva de Phillips. A esquerda recusava essa proposição, como se Phillips tivesse dito, “vejam bem, para acabar com o desemprego será necessário gerar inflação na economia”. Phillips não disse isso, mas para a esquerda, Phillips parecia de direita!! Quanta confusão não faz uma ideologia! Mas Simonsen fazia ciência, e em seu livro “Macroeconomia” comenta sobre a curva de Phillips:

“A idéia de que as variações salariais são inversamente correlacionadas com a taxa de desemprego é bastante antiga, sendo difícil identificar sua paternidade. Marx a explicitou no Livro I de O Capital, e Irving Fisher a explorou com extraordinária habilidade num estudo publicado em 1926.”

Com esse meu post, caro internauta, desejo apenas destacar que para trilhar os caminhos da ciência econômica é preciso ter os olhos abertos, e a mente livre de grilhões ideológicos. A escola neo-clássica, e mesmo a marginalista, eram vistas como uma espécie de guardiães do capitalismo, sem que se reparasse nas mais significativas contribuições que essas correntes deram ao estudo mais eficiente da Economia, basta lembrar que os marginalistas foram os primeiros a usar o cálculo diferencial na economia. Você consegue trabalhar com economia hoje sem usar isto? Assim, ideologia é ideologia, ciência é ciência! Cada um tem o sagrado direito de abraçar a vida como deseja, direito que devemos defender acima de tudo.

Ivan Siqueira

6 - A poupança pode ser o problema!

(Ivan Siqueira)

Duas pessoas tentam entender a poupança e sua função na economia. São perguntas e respostas que se sucedem.

Quando é que aumenta a riqueza particular de uma pessoa? Quando ela passa a ter mais do que tinha no passado. E quando é que isso acontece? Quando ela poupa. Não existe nenhuma riqueza que não seja via poupança, ou a própria pessoa, ou alguém poupou e transferiu essa poupança para ela, tipo, herança, etc. Toda poupança é consumo que não foi realizado no passado. A poupança é a mãe da riqueza!

Mas o pai não é o investimento. O investimento é o que se pode fazer com a poupança, mas quem investe não está nem aí para quem poupa, as decisões de poupança e investimento são tomadas independentemente uma das outras, e por motivos diferentes. Quem investe não o faz pelo motivo riqueza, mas porque deseja aumentar a renda. Aí, alguém me diz, a renda não, o lucro! E eu lembro, o lucro é a renda. Quais são os componentes da renda? Salários, juros, aluguel e lucro. E de onde vem a renda? Vem da produção de bens de consumo e de bens de investimento, a poupança é apenas parte da renda que não foi consumida, foi investida.

O que determina o nível global de poupança? O nível global da renda. Mas, o que determina o nível global da renda? O nível global de investimento. Mas, o que determina o nível global de investimento? Por favor, não caia naquela história do ovo e da galinha!(risos). Fique tranqüilo, não vou cair! Os investimentos são realizados tendo a renda como meta, é o investimento que coloca a renda em um nível que permite a poupança ao mesmo nível do investimento.É um jogo de forças, quanto mais as pessoas desejarem poupar, tanto menor será o nível de renda correspondente a certa taxa de investimento, e menor o incremento de renda originado por determinado aumento da taxa de investimento. Então, você quer dizer que a vontade dos empresários de investir promove a poupança? Sim, entendeu perfeitamente.

Então, por que é que a gente nunca vê uma campanha na televisão, nos meios de comunicação, em prol da poupança? Por exemplo, “Faça poupança, porque o investimento é o que move o mundo!”, ou, então, algo assim, “Dia 5 próximo vamos todos dar as mãos em torno da Lagoa Rodrigo de Freitas, em louvor à poupança!”, por que não vemos isso?

É verdade, nunca se viu uma campanha dessas, e com toda razão. Não vemos isso porque o desejo de poupar não promove o investimento! Quando aumenta o desejo de poupar, ou seja, quando o montante poupado de uma mesma renda aumenta, a única coisa que acontece, é que as pessoas estão gastando menos de sua renda do que antes, então as atividades no setor consumo vão cair e as renda também, com essa queda da renda, o consumo vai cair ainda mais, e a renda cai junto. Quem promoveu isso? A infeliz da poupança. Mas, porque o deixar de consumir faz cair a renda e não apenas o consumo? Grande, garoto, isso é que é pergunta! É que o gasto de um é a renda de outro, e com renda reduzida, o gasto de um outro será menor, e a renda de outro menor ainda! Mas, quem causou essa balbúrdia na economia? Quem resolveu poupar. E como sair disso? Quando as pessoas deixarem de relutar em manter aquele aumento de poupança, e ela caindo se ajusta ao nível do investimento desejado pelos empresários. O que você quer dizer, que poupar pode ser a causa de um desequilíbrio macroeconômico? Eu, não, quem disse isso foi Keynes, um gênio, eu apenas estou conversando com você!

Ivan Siqueira

5 - Um Nobel para Jevons

(Ivan Siqueira)

Não existe um Prêmio Nobel de Economia dado pela fundação Nobel, o que existe é o Prêmio de Ciências Econômicas em memória de Alfred Nobel, instituído em 1968 pelo Sveriges Riksbank, o Banco Central da Suécia. Mas, tudo bem, para todos os efeitos é como se isso fosse o Nobel de Economia, embora não seja. Entre os laureados estão economistas de muito valor, Samuelson, Friedman, Lucas, mas o Prêmio teria muito mais credibilidade se fosse dado retroativamente a alguns economistas, como faz o Oscar no cinema. E, olha, que não precisaria ser dado pelo conjunto da obra, bastaria premiar algumas idéias geniais de economistas geniais.

O inglês William Stanley Jevons(1835-1882) é conhecido apenas porque desenvolveu a teoria da utilidade marginal, em trabalho independente de Carl Menger e Léon Walras, que também produziam esta teoria. Mas, Jevons tem idéias para a economia que revolucionariam a ciência hoje em dia, ele mereceria o Nobel.

É comum que grandes pensadores, assim como grandes artistas, só sejam descobertos longo tempo depois de seus trabalhos. O genial músico Johann Sebastian Bach, levou 100 anos na gaveta! Da mesma forma, a principal idéia de Malthus, o conceito de demanda efetiva, também, só seria aproveitado por Keynes 100 anos depois!

Um dos postulados de Jevons diz que o capital poderia ser medido não apenas em termos de quantidade, mas de tempo também. Em seu livro “The Theory Political of Economy”, ele diz:

Um ponto principal que precisa ser esclarecido neste assunto é a diferença entre montante do capital investido e o montante de investimento de capital. O primeiro é uma quantidade de uma única dimensão: a quantidade de capital; o segundo é uma quantidade de duas dimensões, quais sejam, a quantidade de capital e o período de tempo em que o capital permanece investido.

Segundo Jevons, um aumento do capital investido, seria o mesmo que o aumento do período de tempo em que o capital é empregado. Então, ele nos diz que o investimento efetivo é um conceito de área, onde existem as dimensões valor e tempo. Olhe só, isso, vamos economeditar sobre isso! Repare no que contém essa afirmativa! Vamos supor uma economia com elevado estoque de capital, mas uma grande crise paralisa a economia por 8 meses, mas nos restantes 4 meses ocorrem investimentos. É claro que o investimento bruto não será esse investimento novo, é preciso deduzir o desinvestimento econômico do capital parado por 8 meses! Entre outras coisas, significa dizer que investir não é só gastar em novas máquinas e equipamentos, novas construções, novas fábricas, investir é também usar mais as máquinas, as construções, as fábricas já existentes! E se a contabilidade nacional só computa o investimento novo e não deduz a ociosiodade do investimento antigo, desculpe dizer, o PIB está errado. Não foi Jevons que disse isso, sou eu que estou dizendo baseado em Jevons. Não se trata da depreciação, isso só muda o conceito bruto para líquido, trata-se da perda econômica do capital não utilizado, só depois de deduzido isso é que se pode acrescentar o novo investimento. Não, não pense em custo de oportunidade, é um outro conceito, é valor mesmo do capital ponderado pelo tempo.

Quais as implicações disto? É possível que toda a teoria macroeconômica do investimento esteja equivocada, conceitos como multiplicador, acelerador, e muitos outros, podem ser questionados, tudo leva a crer que sim. Até a teoria q do investimento, de James Tobin, seria afetada por esse pressuposto de Jevons, uma vez que o custo do capital das empresas não é o que se pensa dele, se não consideramos o valor do capital no tempo, a variável q pode não ser a que os modelos econométricos vêm demostrando.

Jevons escreveu sobre capital em 1871, mas quem quer saber de teoria, o mundo não tem tempo para isso! Se vocês aí da Suécia esqueceram, eu peço um Nobel para Jevons!

Ivan Siqueira

4 - Crises, mas crises de que?

(Ivan Siqueira)

Hoje, a preocupação já não é com crises econômicas no setor real da economia, mas com uma crise financeira. Mas, quem disse que a produção ou a demanda não podem gerar uma crise de boas proporções nos dias de hoje? Algumas pessoas não crêem nisso, só acreditam no que os olhos vêem! Mas, em Economia, quando os olhos vêem, já era! Na América , no ano de 1929, a vida era normal, a economia ia muito bem, nos bares a música era o ragtime, os bancos de Nova York emprestavam dinheiro ao mundo, confiantes em sua economia. O presidente Coolidger, que terminava seu mandato, fez seu último pronunciamento à nação, assim: "Nenhum Congresso dos Estados Unidos jamais reunido, ao avaliar o estado da União, encontrou uma perspectiva mais satisfatória do que a que se oferece no presente momento!"

Foi nesse clima que o presidente Hoover tomou posse em março de 1929 e não tinha a menor ideía de que o mundo iria desabar, não sabia que o processo que iria deflagrar a depressão já estava em andamento, todos dançavam alegremente o ragtime! A bolsa de valores deu o sinal, 13 milhões de ações despencaram em queda vertiginosa. Hoover deu uma declaração saindo pela tangente: "O negócio fundamental do país, que é a produção e distribuição de mercadorias, está numa base saudável e próspera". Ele não estava enganando o povo, desconhecia o problema. Mas, a economia não liga para presidentes, o mundo desabou e o desemprego caiu a 25% da força de trabalho, em 1933 a produção já tinha caído 38%, a maior crise que o mundo viu, não mandou telegrama!

Crises de demanda foram exorcizadas no passado, e o nome do exorcista era Jean Baptiste Say. Ele não era um padre, mas sua lei dizia que a oferta cria sua própria procura, em outras palavras, basta produzir, a produção gera uma renda suficiente para comprar de volta o que foi produzido, ou seja, não tem crise! Que renda é gerada com a produção? Salários, juros, aluguel e lucro, ou seja, cada detentor de uma parcela da renda, tem a renda suficiente para comprar produtos naquele montante, não pode haver excesso de produção, nem insuficiência de demanda, a demanda é sancionada pela renda gerada com qualquer produção. Assim, falar-se em crise, que crise? Crise de quê? Só pode haver crise de produção. Mas, se produziu, é que gerou-se renda para comprar-se a produção de volta! Essa era a sentença de Say! Mas, hoje sabemos, parece que é, mas não é!

Se o mundo seguisse a lei de Say, mas não seguiu! Em 1929 a crise reduziu a produção a 20% do seu nível normal, qual era o fenômeno? Produzia-se e não havia demanda suficiente para comprar o que fora produzido. Por onde anda Say, ninguém sabia, o exorcista não era encontrado. Mas John Maynard Keynes estudava o problema, e apontava: a renda gerada pela produção não, necessariamente, se transforma em demanda, aí, uma cratera pode estar se formando!

Teria sido Keynes o descobridor do problema? Não, o problema já tinha um nome antigo: crise de realização, por Marx que já havia pensado nisso, e Kalecki seguindo Marx já mostrava soluções. Keynes e Kalecki trabalharam independentemente um do outro, e por caminhos diferentes chegaram a conclusões parecidas, a demanda efetiva é o que mantém a economia.

Vou voltar a pensar nesse assunto, por uma única razão, essa crise atual da economia norte-americana não tem nada há ver com o que parece, é crise de quê? Crise financeira, crise imobiliária, crise monetária, crise do crédito, crise do déficit? Parece, mas não é! Mas pode ser uma crise do esgotamento da formação de capital! É quando o investimento não tem mais razão de ser! Só desinvestindo a economia volta a ser saudável! Você conhece as ondas de Leontieff? Tá tudo lá! Vou voltar nessa história, de vida, e, às vezes, de terror, só que, agora em nossos dias, sem ragtime!

Ivan Siqueira

3 - O que nos ameaça? O futuro!

(Ivan Siqueira)

Há quem ria de Robert Malthus, o economista que, em 1798, previu uma catástrofe a acontecer no futuro. Segundo sua teoria, a produção de alimentos não acompanharia o crescimento da população. Malthus não era vidente, nem paranormal, como se sabe, ele tem contribuições para a economia que serviram de base para a teoria de John Maynard Keynes, e a macroeconomia moderna. Entre outras coisas, Malthus usou o termo "demanda efetiva" pela primeira vez, em seu livro "Principles Political of Economy", publicado em 1820, um século antes de Keynes, e Keynes gostou, a demanda efetiva é a base do sistema keynesiano!

Hoje em dia, o problema malthusiano não é apenas o problema, tantos outros nos afligem. Alguns estudos em demografia, indicam que dentro de um século haverá na Terra cerca de 40 bilhões de pessoas, elas precisarão não apenas de serem alimentadas, mas necessitarão de transporte, saúde, moradia, educação, a produção industrial terá que “se virar nos 30” , para usar um termo da moda, e isso vai requerer recursos multiplicados milhares de vezes. O pesadelo malthusiano ainda não terminou, Malthus só não foi completo, não havia enxergado as outras necessidades, e se dissessem para ele que a poluição térmica, o aquecimento das calotas polares, efeito estufa, poderiam nos exterminar, ele não acreditaria, diria: não chego a tanto!

O que parece hoje um problema econômico, no futuro será um problema vital, e a única pergunta que devemos nos fazer é: quem vai garantir essa produção alavancada e os recursos que ela demandará? Uns colocariam o problema para a decisão da iniciativa privada, outros vão desejar colocar o peso nas costas do setor público. Eu quero estar fora de ter que fazer sugestões para essa lista, meu mundo é o das idéias, não creio em nada fora disso, e se posso dar alguma contribuição, só existem dois elementos que podem impedir essa catástrofe no mundo do futuro próximo: a Política e a Economia.
O mundo vai depender de nossas idéias sobre mecanismos político-econômicos, sistemas, novos mecanismos de mercado, ou, alternativamente, novos mecanismos de planejamento público. O mundo vai necessitar de heróis, alguns fizeram esse papel no passado, mas estamos órfãos e indecisos, como já disseram os novos filósofos franceses: “Deus está morto, Marx também e eu próprio não me sinto muito bem”.

Podemos dizer que Malthus errou, com essa ameaça sobre as nossas cabeças? E que Keynes, inspirado em Malthus, tem uma contribuição para resolvermos o futuro que nos ameaça? Por que, então, a corrente dos neo-keynesianos, dos pós-keynesianos? Quem é essa gente, que discorda dos que os precederam? Quais as suas idéias? Vem aí pela frente.

Ivan Siqueira

2 - Basta apenas produzir?

(Ivan Siqueira)

A questão pode parecer velha, desgastada, mas só parece, na verdade, é um dos mais instigantes temas da economia. Produzir cria procura suficiente para comprar a produção de volta? Ou produzir pode ser o problema da economia? E, por que, deveríamos nos preocupar com isso, nesta etapa da vida? Precisamos, sim.

O debate é antigo, e o responsável é Jean Baptiste Say, foi ele que criou uma lei que passou a ser o fundamento do classicismo, a conhecida “lei de Say”, ela diz, suscinta e muito claramente: a oferta cria sua própria procura!

O que essa lei pretende dizer? Ela é clara, basta produzir que a renda que comprará a produção já teria sido criada pela própria produção! Assim, não há nenhuma possibilidade de desequilíbrio entre produção e renda, toda produção criou uma renda necessária e suficiente para comprá-la de volta.

Bem, eu gostaria de investigar isso, porque as idéias de Say devem ser vistas aos olhos do conhecimento científico de hoje! Say nasceu em 1767 e publicou no ano de 1803 seu mais famoso livro, o "Tratado de Economia Política", onde expôs sua teoria, que teve longa vida, e que até hoje é cultivada!

Sua lei, " a oferta cria sua própria procura" é uma idéia fantástica, mas o que contém ela de verdade? É que depois de de Say muita água já rolou, vieram, Keynes, Marx, Kalecki, Friedman, Lucas, e você acha que esses economistas vieram em branco? Claro que não, eu tenho que pensar na lei de Say, mas com o conhecimento que temos pós contribuição dos economistas que ofereceram contribuição depois de Say. Imagine se eu vivo na época de Say! Como questionar argumentos tão fortes como os dele? A sorte é que eu nasci depois de Bob Lucas, de Modigliani, de Tobim, e cada pensador desses me faz ver as idéias de Say por outro ângulo. Rosa Luxemburgo também tem contribuições fantásticas! Vou falar disso a qualquer hora. Esse blog foi criado para isso, economeditar!

Volto a qualquer momento com esse tema fabuloso da Economia, basta apenas produzir, a produção será comprada? Veremos! Se você tem idéias a respeito, mostre pra gente! Aqui, idéias são tudo!

Ivan Siqueira

1 - O que é o Economeditando Blog

(Ivan Siqueira)

Esse blog é o que penso sobre minha profissão: pensar e repensar a teoria econômica é o trabalho mais dignificante de um economista. Precisamos questionar os fundamentos da economia! Mas, quem pode fazer esse questionamento? Apenas economistas? É claro que não, toda ciência obtém informações do senso comum e transforma essas observações em elementos científicos. Isaac Newton observou que a maçã caiu, então, houve uma razão! Ali, era o senso comum observando, já a teoria que dali ele extraiu é a ciência atuando! Assim, qualquer pessoa pode colaborar com a Economia, desde estudantes de Economia, até uma dona de casa, um engenheiro, um dentista! É dar um passo, e esse passo pode mudar tudo! Aqui, não existem opiniões melhores do que opiniões, apenas opiniões diferentes!

Com este blog, tenho objetivos, que penso ser uma obrigação dessa profissão, o mais forte deles é tratar da teoria econômica convencional, aceita, ensinada nas escolas, e aprendida, mas nem sempre compreendida. Desejo compreendê-la melhor, e como fazer isto? Expondo dúvidas, e elas são muitas. Assim, esse blog pode parecer uma sala de aula, mas, com certeza, o aluno sou eu, aqui pretendo aprender, pensando em voz alta! Mas, se outra voz se agrega a minha, ou muitas vozes, a coisa pode estar começando a fluir!

Se você entende que isso é uma questão relevante, participe aqui dando idéias, alicerçando as minhas idéias, e mesmo questionando as que você ache que deva fazer. O objetivo desse blog não é duelar na área do conhecimento, mas trocar ajuda, o mundo já está repleto de egos excitados, e de debates que só pretendem mostrar que alguém é melhor do que alguém, isso já cansou! Aqui, o que pretendemos é agregar conhecimento através da ajuda mútua.

O blog é moderado por mim, os comentários dos internautas serão publicados na medida em que colaborem para a discussão em pauta, não é intenção do blog debates acalorados que possam levar a tornar mais complexas questões que, ao contrário, necessitam de clareza em seus temas. O que desejamos com essa iniciativa é fornecer elementos que possam ser úteis ao entendimento da Economia, seja por profissionais, seja pelo cidadão que deseje conhecer um pouco desta ciência. Assim, me reservo o direito de não publicar comentários que julgue não atender aos propósitos do blog. Ao enviar seu comentário você concorda com esse critério de moderação do blog.

Não posso deixar de falar do mais importante. Este blog nasce de uma questão que me acompanha há tempos, entendo que os males do mundo são causados muito mais por uma incompreensão da teoria econômica do que por dificuldades do mundo real. É preciso refletir sobre isto, dificuldades e crises econômicas só acontecem como o resultado de idéias que as produziram! Já pensou, se por acaso estou certo!

Ivan Siqueira